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Economia

Produção de etanol de milho se firma no país; DDG também cresce

Novas plantas que começaram a operar garantem aumento mesmo com pandemia e alta do grão

Produção de etanol de milho se firma no país; DDG também cresce

Atividade emergente no agronegócio brasileiro, a produção de etanol a partir do processamento de milho, que começou a dar seus primeiros grandes passos há cerca de três anos, driblou o cenário adverso de 2020 e deverá quase dobrar em relação a 2019, mesmo com o impacto da pandemia sobre o consumo de combustíveis e a forte valorização dos preços do cereal.

A entrada de duas grandes novas plantas em operação – uma da FS e outra da Inpasa, ambas em Mato Grosso – fez com que a fabricação de etanol de milho crescesse 96,4% de janeiro a outubro em relação ao mesmo período do ano passado e alcançasse quase 2,1 bilhão de litros.

Se for considerado o período da safra sucroalcooleira 2020/21, que começou em abril, a produção até outubro foi 92% maior que a de igual intervalo da temporada passada. Para todo o ciclo atual, a expectativa é de aumento de 64%, para 2,75 bilhões de litros, segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem).

O volume ainda é pequeno se comparado ao da tradicional produção de etanol de cana no Centro-Sul – que, de abril a outubro, alcançou 28,3 bilhões de litros no Centro-Sul -, mas já deverá superar o do Norte e do Nordeste, onde as usinas sucroalcooleiras deverão produzir 1,9 bilhão de litros do biocombustível na safra.

Na prática, a pandemia manteve na gaveta alguns projetos que estavam no papel, mas apenas postergou o início das operações de uma das quatro usinas que estavam programadas para começar a funcionar neste ano – a da Etamil, em Campo Novo do Parecis (MT), que deverá começar a operar no início de 2021.

Além das usinas da FS e da Inpasa, uma terceira usina poderá entrar em operação ainda neste ano. Trata-se da ALD Bioenergia , em Nova Marilândia (MT), que ligará as máquinas em 2020 se receber a tempo autorização da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Quando o derretimento dos preços do petróleo e as medidas de isolamento social impostas pela covid-19 fizeram gelar a espinha até dos mais acostumados às crises no segmento de etanol, acreditava-se que as usinas que utilizam milho, por não terem a opção de recorrer ao mercado de açúcar, seriam as primeiras a purgar. E, no segundo semestre, o encarecimento do cereal, impulsionado pelo câmbio, ampliou o descrédito com o segmento.

Pouco se contava, porém, com o potencial do mercado de DDGs (Dried Distilled Grains). Resultantes do processamento do milho na produção de etanol, os DDGs já são tipo de ração popular nos Estados Unidos, onde, antes da pandemia, alcançaram produção de 38 milhões de toneladas ao ano. No Brasil a produção é bem menor, mas continuou crescendo neste ano, para 2 milhões de toneladas.

Mas o que surpreendeu no Brasil foi o preço do DDG, que dobrou em apenas um ano. Em Mato Grosso, a tonelada do produto saltou de menos de R$ 700, em novembro de 2019, para R$ 1.425 na primeira quinzena de novembro deste ano.

A valorização acompanhou a disparada de milho, soja e farelo de soja, mas também refletiu o impacto da seca nas pastagens, que aumentou a procura por ração. Outro fator importante foi o aumento da demanda internacional por carnes, que impulsionou o interesse por parte de confinadores e criadores de aves e suínos.

Com os preços atuais, o DDG já cobre 50% do custo de uma usina de etanol com a compra de milho, segundo Nolasco. “O DDG faz hedge natural com o milho. Não é um subproduto, é tão importante quanto o etanol”, afirma Guilherme Nolasco, presidente da Unem.

De fato, se as usinas dependessem apenas do mercado de etanol, as dificuldades seriam maiores. De acordo com análise da consultoria Pecege, de Ribeirão Preto (SP), a saca do milho teria que cair cerca de R$ 20 ante os valores atuais, que estão em torno de R$ 60, para que o etanol à base do grão oferecesse, sozinho, retorno financeiro.

Mas Nolasco também ressalta que as usinas já entraram no mercado de milho preparadas, e estão comprando o grão de forma antecipada há meses. No momento, as usinas estão adquirindo o milho que vão processar em 2022, a preços de R$ 40 a saca. No caso das usinas flex, que processam tanto milho quanto cana, a antecipação não é regra, e a utilização do grão acaba sendo uma forma de ocupação da capacidade na entressafra de cana.

O modelo de produção flex é o preponderante hoje entre as usinas que utilizam milho no país. São 11 unidades com capacidade flex – em geral, usinas de cana que resolveram “diversificar” a fonte de matéria-prima – e cinco “full” (que utilizam só o milho como matéria-prima).

A Unem mapeou 23 novos projetos de usinas de milho, dos quais 19 são de indústrias “full”. Porém, nem todas vão sair do papel. Para Nolasco, o segmento deverá entrar agora em uma segunda etapa de crescimento, que tende a ser caracterizada pela ampliação das capacidades atuais. “Não tem nenhuma grande usina em construção para entrar em funcionamento em 2021, mas há três ampliações: em Nova Mutum, Sinop e Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. Elas vão sustentar o crescimento [do segmento] em 2021/22”, afirma.