Em 50 anos, o Brasil passou da posição de importador de alimentos para a de líder em produção agrícola, o que despertou em vários outros países o desejo de repetir em seus territórios a experiência brasileira, disse o presidente da Embrapa, Celso Moretti.
Segundo Moretti, o que outros países desejam é buscar autonomia e segurança alimentar, a partir de parcerias com a Embrapa, a empresa que realiza – em cooperação com universidades e empresas privadas – pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação, proporcionando assim a liderança brasileira em alimentos; fibra; bioenergia; rebanhos bovinos e suínos.
Por indicação do Itamaraty, o presidente da Embrapa está realizando uma viagem pela Europa e pelo Oriente Médio, onde vem se encontrando com autoridades, especialistas e empresários do agronegócio em Budapeste (Hungria), Londres (no Reino Unido) e Doha (Catar).
Celso Moretti participa, entre quinta (31) e sexta-feira (1º de novembro), da reunião anual do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep), em Praga, na República Tcheca. O Meeting on the Future of Global Environment Outlook (GEO) é o último compromisso de sua viagem internacional.
Ao falar do interesse de governos e instituições estrangeiras pelo trabalho da Embrapa, Moretti disse à Agência Brasil que o sucesso das pesquisas brasileiras se deve ao apoio do contribuinte. Esse apoio, conforme disse, é compensado pelos resultados.
“Todos os anos demonstramos por meio de balanço para a sociedade quanto cada real investido na Embrapa foi devolvido para a sociedade. No ano passado, para cada um real investido foram devolvidos 12 reais para a sociedade. Ou seja, vale a pena o país investir em ciência, tecnologia e inovação agropecuária porque o retorno é líquido e certo”, disse Moretti.
Contrapartida
Moretti diz ainda que “se a sociedade brasileira paga impostos, e se esses impostos são investidos na Embrapa, não podemos entregar de graça essas soluções para os diversos países do mundo”.
De acordo com ele, a forma de o Brasil receber benefícios dessa cooperação com outros países é introduzir o setor privado brasileiro nas negociações. Se existe uma negociação, o setor privado pode entrar vendendo genética animal, genética vegetal e muitos outros produtos, afirma o presidente da empresa.
Embrapa global
Conforme disse Moretti, a Embrapa há alguns anos deixou de ser estratégica apenas para o Brasil. Ele observou que a empresa é “reconhecida globalmente pela sua competência em desenvolver soluções para a agricultura, para a pecuária e para o setor florestal do cinturão tropical do globo”.
Ele explicou que, por se situar no cinturão tropical do globo, ou seja, na região situada acima do Trópico de Capricórnio, a Embrapa é percebida como líder indiscutível de pesquisas no setor de alimentos nessa faixa da terra.
Catar
Essa percepção, de acordo com o presidente da Embrapa, tem implicações nos negócios. Citou, como exemplo, o caso do Catar, um dos países visitados por Moretti.
De acordo com Moretti, o Catar importou vacas holandesas para a produção de leite. Os técnicos daquele país adaptaram a produção dos lácteos a essa espécie de vaca holandesa. O problema é que a vaca holandesa se adapta muito bem ao frio da Holanda, mas não à temperatura do Catar, que às vezes chega aos 50 graus Celsius. “O custo para eles produzirem esse leite com as vacas holandesas ficou extremamente elevado”. disse. Ele disse que mostrou aos produtores do Catar a experiência brasileira de gado leiteiro híbrido, proporcionado pelo cruzamento da raça gir com a raça holandesa.
“Quando mostrei isso para eles, eles ficaram muito impressionados. Levar a genética do gado brasileiro girolando [cruzamento do gado gir com a vaca holandesa] faz parte da nossa ideia de levar realmente essa genética adaptada aos trópicos para aquele local do mundo”, explicou.
Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep)
Nesta quinta-feira (31), durante o Meeting on the Future of Global Environment Outlook (GEO), em Praga, Moretti terá a oportunidade de apresentar a visão do agronegócio nacional em um dos mais importantes fóruns de debates do mundo, onde são promovidas avaliações do estado do meio ambiente, da eficácia das políticas de enfrentamento dos desafios ambientais e dos caminhos para que sejam alcançados os objetivos acordados internacionalmente.
Por meio do GEO, as avaliações ambientais integradas relatam o estado, as tendências e as perspectivas do meio ambiente, que contribuem com os processos de tomada de decisão não apenas para governos, mas para outros segmentos, como iniciativa privada, governos locais e instituições de ensino e pesquisa, que possam se subsidiar da interação entre ciência e política. O resultado também poderá contribuir com a quinta Assembleia Ambiental da ONU em fevereiro.