O presidente da Embrapa, Celso Moretti, disse que para que seja possível a pesquisa agrícola continuar gerando conhecimento é preciso investir de forma mais consistente em ciência e tecnologia. “É o que devemos fazer para ter um agro competitivo”, explicou, durante debate no evento Agrocenários 2020, realizada nesta quarta-feira, 4, em Brasília.
Moretti participou do painel “Inovação e Sustentabilidade – O papel da inovação para o desenvolvimento sustentável do agro”, ao lado do ex-deputado federal e ex-ministro da Secretaria de Coordenação Política e Relações Institucionais, Aldo Rebelo, do líder de Marketing da Corteva, Douglas Ribeiro, e do secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Fernando Camargo.
O presidente da Embrapa chamou a atenção para o fato de que, nas últimas cinco décadas, o País passou de importador a um dos maiores produtores de alimentos do mundo. “Eu não tenho dúvidas de podemos fazer muito mais”, garantiu. “Mas por enquanto o Brasil só investe 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento, enquanto a Coreia do Sul investe 3,5% e Israel 4,4%”. Ele lembrou que para fazer parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é preciso que o País invista pelo menos 2%. “Não dá para pensar em um novo salto no setor e continuar avançando, sem sair de 1,2%”, completou.
Ele destacou que, em 2030, a população mundial será de 8.5 bilhões de pessoas e que 50% da classe média global estarão no sudeste asiático. “Nosso País é o único no mundo que tem condições de contribuir nesse cenário”, ressaltou. Segundo ele, “a produção de alimentos, fibra e bioenergia, é fotossíntese, é luz, é temperatura que está nos trópicos”. Mas, defendeu que isso só será possível se a Embrapa e os institutos de pesquisa e universidades continuarem inovando, em parceria com o setor privado, por meio de investimentos sólidos. “O Brasil está em 13º lugar do ponto de vista de geração de ciência e de conhecimento, mas está em 65º em inovação”, comentou.
Sobre os recursos disponíveis hoje para o produtor rural brasileiro, Celso Moretti disse se preocupar com a conectividade, porque só 65% do território são cobertos pela internet. Preocupado com a preservação da competitividade do agro brasileiro, o presidente ressaltou que a Embrapa mantém pesquisadores na Europa e nos Estados Unidos, trabalhando para acompanhar a evolução da pesquisa fora do País. “Temos estabelecido cooperações e parceria, a exemplo da Corteva, para resolver problemas relacionados à adaptação à seca e à resistência a nematoides”, afirmou, lembrando que do ponto de vista de avanço tecnológico o Brasil tem se mantido no mesmo nível dos americanos e europeus e em igualdade em vários níveis com a pesquisa agropecuária da China.
Moretti disse que a Embrapa tem se esforçado para estar mais presente no campo, ao lado de associações e empresas empenhadas em entender os problemas do agro e desenvolver soluções, como a Aprosoja e a Corteva. Mas se em muitos aspectos o agro brasileiro ocupa posição de destaque, no que diz respeito à comunicação, Moretti defendeu que ainda há muito a fazer para que se reverta a imagem que tem comprometido o Brasil. “O mundo precisa saber o que estamos fazendo e que a nossa agricultura é sustentável”, garantiu. “Não podemos perder a batalha da comunicação”.
Durante o evento, o presidente da frente parlamentar da Agropecuária, Alceu Moreira disse que quer as universidades mais próximas da Embrapa. Comentou que o Brasil hoje é referência mundial em pesquisa, e que deve buscar socializar e democratizar o conhecimento: “tecnologia pode estar em qualquer lavoura e se isso é transformador, tem que estar na nossa agenda”.