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Petróleo em Queda Ameaça 2019

Por Marcos Fava Neves

Petróleo em Queda Ameaça 2019

Nesta análise mensal seguem os principais números e as reflexões tanto para o curto, médio e longo prazo da cadeia agroindustrial da cana à partir dos fatos de novembro.  Segundo a UNICA, já processamos, até o dia 01 de novembro, 508 milhões de toneladas de cana (4,35% abaixo do ciclo anterior). O mix está em 64,13% para etanol. Em açúcar foram produzidas 24,35 milhões de toneladas (26,7% a menos) e de etanol 27,26 bilhões de litros (20,29% a mais), sendo 46% maior a produção de hidratado. Na segunda quinzena de outubro processamos quase 18% a menos, fruto já de pouca cana disponível neste final de safra e das chuvas. Devemos fechar a safra com 560 m.t. processadas, queda de 6,4% em relação às 596 m.t. da safra anterior. Muitas unidades encerrando as atividades, teremos uma entressafra mais longa!

Pelo levantamento do CTC, o ATR/tonelada no mês de outubro foi de 133,96 kg/t, e o acumulado está em 140,13 (1,73% maior). O rendimento apurado pelo CTC foi de apenas 60,22 t/ha em setembro, contra 66,5 t/ha na safra anterior. Na safra temos 74,45 t/ha contra 77,62 t/ha da anterior, uma queda de 4,1% esperada pela seca que castigou os canaviais no começo deste ciclo. Na verdade esperávamos uma queda maior que esta observada.

A Datagro espera para 2018/19 uma safra no Centro-Sul de 558,78 milhões de toneladas, com produção de 30,4 bilhões de litros de etanol vindos de cana e milho e 26,4 milhões de toneladas de açúcar.

Nas notícias de empresas, destaque para a Atvos que moeu 25 m.t. de cana em 2017/18 e deve fechar 2018/19 com crescimento de pelo menos 10%, chegando a 28 m.t.. A São Martinho anunciou lucro líquido 10,4% maior, de R$ 58,5 milhões no segundo trimestre desta safra, graças a redução do endividamento e melhoria do perfil da dívida e operações de câmbio. A receita líquida caiu 12,6% e o Ebitda também recuou em 19,1%, para R$ 316,2 milhões com margem Ebitda de 49,1%. Parte destes números é explicado pela política de estocagem de produtos que, no trimestre, aumentou o endividamento, mas deve melhorar bem no quarto trimestre com a venda de estoques.

De acordo com o Itaú BBA, na safra 2017/18 a dívida média foi de R$ 117/tonelada de cana, contra R$ 120 na safra anterior. O endividamento médio é de 2,8 vezes na relação dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Grande trabalho de corte de custos tem sido feito. Investimentos devem ser mais fortes na recuperação de canaviais e em cogeração nesta próxima safra.

Em relação ao médio prazo, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que em 2027 produziremos 45 bilhões de litros de etanol (32 bilhões de hidratado, 12 bilhões de anidro e o restante de importações, sendo que deste total produzido no Brasil, 2 bilhões seriam de milho), quase 50% a mais que o atual. Os investimentos necessários para esta expansão seriam de R$ 25 bilhões, sendo R$ 16 bilhões para novas unidades e R$ 9 bilhões em expansão das atuais. Em produção e área agrícola, a EPE estima que teremos 837 milhões de toneladas (31,6% a mais) sendo produzidas em 9,9 milhões de hectares (14% a mais que os 8,7 milhões de hectares no último ano) com produtividade de 85 t/ha bem acima das atuais 72,5 t/ha. No açúcar a estimativa é de crescimento de 16%, para 44 m. t.. Caso o RenovaBio não seja implementado, os números são bem mais modestos: iriamos para 33 bilhões de litros advindos de 729 m. t. de cana no Brasil.

Finalizando a parte de cana, os meses de outubro e novembro chuvosos estão dando bom tratamento aos canaviais e melhorando as perspectivas para 2019/2020. Se continuar bem distribuída e em bom volume até março, pode ser um alento. Segundo a UNICA a idade média dos canaviais do Centro-Sul é de 3,6 anos. O ideal seria de 3,2 anos.

O setor deve observar cada vez mais a entrada de outras culturas na área de cana. A área plantada com grãos na região de Jau, que era antes de cana, chegou a 12 mil hectares, de acordo com o Sindicato Rural. É uma ameaça real, dentro do processo de concentração e diversificação sendo observado.

Nas reflexões dos fatos e números do açúcar, nossa recuperação de preços perdeu força e estes recuaram novamente. Chegou a 14,20 cents/libra peso no final de outubro e mergulhou outra vez para 12,60 cents. É intrigante esta queda, pois foram notícias boas vindas da relação oferta e demanda. A Archer justifica principalmente como movimento dos fundos, além da queda dos preços do petróleo (20% em um mês) e a valorização do real.

A OIA (Organização Internacional do Açúcar) em sua nova estimativa derrubou o superávit esperado para a safra 2018/19 de 6,75 m.t. para 2,20 m.t.. A produção total deve ser de 180,488 m.t.. Tanto Brasil (31,8 m.t.) quanto Índia (32 m.t.), União Europeia (17,9 m.t.) e Paquistão tiveram quedas nas estimativas. O consumo global deve crescer 1,65% (a média de dez anos foi de 1,67%) chegando a 178,316 m.t.. Os estoques serão de 93,363 m.t., e a relação estoque/consumo cai para 52%. O superávit da safra 2017/18 também caiu praticamente 1,32 m.t. agora em 7,28 m.t. A nova estimativa da Datagro para 2018/19 ampliou o déficit de 715 mil toneladas para 1,58 milhão de toneladas. E na safra seguinte (2019/20) um déficit de 7,52 m.t.. Há sinais de queda na safra indiana devido à menor produtividade por seca e presença de larvas brancas. Novas estimativas trazem a safra de 32,5 m.t. para 30 m.t. Lembremos que chegou a ser estimada em 35,5 m.t.. Números começam a melhorar para os produtores de açúcar, com menor produção.

Exportações de açúcar em outubro foram de 1,934 m.t. (bruto e refinado), quase 33% a menos que outubro de 2017 e 25% a menos que o mês de setembro deste ano. Já em valores, vendeu-se US$ 828,8 milhões (15% a mais que setembro mas 20% a menos que outubro de 2017). Desde janeiro as exportações são de  18,679 m.t., 24% a menos que em 2017 com receita de US$ 5,80 bilhões, um tombo de 41,5% sobre as exportações de US$ 9,910 bilhões realizadas até este momento em 2017.

Segundo a Archer, com dados de 30 de setembro de 2018, cerca de 4,16 m.t. de açúcar da safra 2019/20 já estavam fixados a um valor médio de 12.94 centavos de dólar por libra-peso (sem prêmio de polarização), ou R$ 1,159.54 por tonelada equivalente FOB Santos (já com o prêmio de pol). A empresa estima os custos de produção da saca de açúcar (50 kg) posto usina das melhores do Brasil está entre R$ 40,89 e R$ 45,39. Isto se situa num intervalo entre 11,50 e 12,55 cents por libra-peso FOB Santos. Mas no Brasil e para boa parte do setor e no mundo, os preços do açúcar são prejuízo puro, e se este fosse um mercado livre e sem proteções, teria ajuste de oferta em breve.

Entre os aspectos que preocupam no consumo de açúcar, o Ministério da Saúde fez acordo com indústria de alimentos e de bebidas para reduzir as quantidades usadas em biscoitos, bolos, lácteos, e outros, reduzindo o consumo em 144 mil toneladas em quatro anos, o que representa 2% do seu uso. Segundo o Ministério, consumimos 50% a mais que o recomendado.

Pelo CEPEA a saca de 50 kg  do açúcar cristal teve queda de 0,02%, indo para R$ 66,32. Ou seja, neste mês onde apostei em subida de preços, acertei até o final de outubro, mas desceram novamente, mesmo com a maioria de boas notícias. Meu viés ainda é de alta.

Nas reflexões dos fatos e números do etanol e energia, em setembro o consumo de combustíveis voltou a cair em 2,5% na comparação com o ano anterior, pela ANP. No ano a queda é de 0,5%. O diesel caiu 1,6% no mês, mas no ano tem alta de 1,2%. A gasolina caiu 17,3% no mês e teve seu menor consumo desde julho de 2011. No ano caiu 13,5%, já o hidratado cresceu 37,2% em setembro e 41,3% no acumulado de 2018. Na segunda quinzena de outubro usinas do Centro-Sul venderam 1,07 bilhão de litros de hidratado, 26,5% a mais que a mesma quinzena de 2017. E no mês de outubro as vendas foram 33,6% maiores, chegando a 2,02 bilhões de litros, estimulada pela paridade média de 63%.

Surpreenderam as exportações de etanol, que cresceram 82,3% em outubro, atingindo 278,7 milhões de litros, quando comparadas a outubro de 2017 e foram também 58% maiores que setembro. Estas trouxeram US$ 139,6 milhões em outubro (58% a mais que outubro de 2017 e 65% maiores que setembro). Desde janeiro já vendemos 1,444 bilhão de litros (18,5% a mais), com valor de US$ 769,5 milhões (11,1% maiores que 2017).

Segundo o MAPA, o estoque de etanol (dados de 30/09) era de quase 11 bilhões de litros, 29% a mais que em 2017. Grandes grupos foram os que apresentaram maiores crescimentos nos estoques, chegando em alguns casos a quase 80% a mais de produto nos tanques.

Segue um grupo de trabalho liderado pela Ministério da Fazenda discutindo a possibilidade de venda direta de etanol das usinas aos postos. Deve apresentar um relatório em breve. Eu gosto da ideia, já disse aqui. Caso aprovado, creio que vai tomar de 15 a 20% ao máximo do mercado.

A UNICA estima que nos 15 anos entre 2003 e 2018, a substituição da gasolina pelo etanol contribuiu para reduzir em 500 milhões de toneladas de CO2 as emissões (seria equivalente a 840 milhões de viagens entre Rio e São Paulo usando caminhão). Sem dúvida estes números ajudaram o diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE) declarar que o Brasil é a “estrela ascendente no uso sustentável da energia” sendo o que apresenta a matriz energética menos poluente entre os grandes usuários, tendo o maior índice de fontes renováveis, chegando a 45% do total em 2023. Fontes renováveis devem ocupar 12,5% de participação no mundo em 2023.

Queda do petróleo é o maior risco agora ao 2019 da cana. Por enquanto os preços não caíram ao consumidor na violência com o qual caíram nas refinarias. Até dia 20 de novembro haviam caído 1,8% nos postos e 27% na Petrobrás. Com isto o etanol caiu também 7%. Se o petróleo continuar assim, a expectativa de preços mais altos do etanol na entressafra fica contida por uma possível queda da gasolina. A correlação em SP já está próxima a 64%. Por outro lado, um consumo forte do hidratado pode contrabalançar este quadro. Segundo a Archer, o preço adequado da gasolina hoje seria de R$ 4,07, permitindo ainda a paridade competitiva.

Temos algumas outras boas notícias, a saber: mais pessoas se acostumaram a usar o hidratado nesta fase de paridade favorável; teremos neste ano mais 2,4 milhões de carros vendidos no Brasil, sendo mais de 85% flex e; as distribuidoras de combustíveis já esperam melhoras de consumo para o último trimestre do ano.

Finalizando… qual seria a minha estratégia com base nos fatos? Onde eu arriscaria agora em dezembro:  o consumo do hidratado nos próximos 4 a 5 meses é a uma das principais variáveis a serem observadas, bem como o volume de estoques, uma vez que teremos uma entressafra mais longa. Vai interferir neste consumo uma possível retomada da economia bem como a paridade, trazida pelos preços da gasolina. Resta saber se a queda do preço do petróleo continua, pois isto afetaria o consumo de hidratado e o mix da próxima safra, sendo impactos negativos aos preços.