São poucos os consumidores que acompanham o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) e sabem que a taxa prevista para este mês (1,07%) é a maior relativa a abril desde 2003, mas todos sentem as variações quando olham os preços nas prateleiras dos supermercados. A sensação comum de estar cada vez pagando mais e levando menos é reforçada pelo item Alimentação e Bebidas do IPCA, que corresponde a 1,04% e impactou 0,26 p.p. na inflação prevista para o período.
Os números são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na região metropolitana de Salvador, entre os produtos com maior aumento de preço está o pimentão, que ficou 19,54% mais caro. O produto já havia sofrido uma alta de 37,71% no mês anterior. A cebola também encareceu os gastos com supermercado, com um variação de 18,21%, quando em março havia ficado 17,8% mais cara. Ovos de galinha (8,69%) e até mesmo o frango em pedaços (6,27%) também estão na lista dos produtos que pesaram no carrinho de compras.
Na casa da técnica em radiologia Dilma Pereira não entra mais manteiga nem filé. “Agora é só margarina. Manteiga no pão só quando viajamos para o interior, porque compro mais de 1kg porR$5”. Quando viu o valor das compras mensais saltar de R$ 490 para R$ 750, ela também trocou o leite em pó pelo líquido.
“Além do que agente compra no supermercado sempre falta uma coisinha durante a semana e isso ainda leva em média mais R$ 150”. Para Dilma, tem sido um desafio tentar reduzir os gastos. “Meu marido fica em um supermercado e eu em outro. Vamos conversando pelo telefone para conferir onde determinado produto está mais barato”, revelou.
Segundo o coordenador de disseminação de informações do IBGE, Joilson Rodrigues, os aumentos de preço dos produtos que mais pesaram na inflação são pontuais. “São preços que flutuam em função da sazonalidade”. Um exemplo claro ocorreu na Semana Santa, quando muitos valores foram puxados pelos hábitos da época. “O peixe vermelho subiu 6,52%, enquanto a corvina registrou um aumento de 5,75%”, disse Rodrigues.
Enquanto fazia compras em um supermercado localizado na Barros Reis, a cartazista Marvine Rocha também buscava alternativas para economizar. “Já cortei tudo que podia. Estou tentando deixar de comprar mensalmente pra ver se consigo reduzir desta vez. A coisa está feia”.
No último mês, a conta do mercado levou R$ 1 mil, em média 50% da renda mensal da família, formada por ela, o marido e uma criança. “Quando a gente pensa que vai conseguir economizar deixando de comer carne, vem o frango e aumenta. Fica difícil”.
A professora Caroline Oliveira optou por fazer compras no bairro onde mora, Paripe. Mas,mesmo com a redução do gasto com locomoção, ela tem deixado de comprar alguns produtos. “Consegui reduzir cerca de 10%, depois que eu tirei o leite Ninho e todo mundo em casa passou a comer pão com margarina”.
Negócio
Segundo o presidente da Fecomércio, Carlos Andrade, mesmo com a contenção do consumidor na hora de gastar, o setor de supermercados se mantêm muito estável. “É um segmento de primeira necessidade. Pode até existir uma que da pelo fato de se comprar e estocar menos, mas não existe uma queda expressiva como tem acontecido nos setores de carros e eletro eletrônicos”.
Entre as regiões pesquisadas pelo IPCA, foi em Curitiba que os preços dos alimentos e bebidas tiveram maior alta (1,64%). O menor índice foi verificado em Goiânia, com 0,37%. Em Salvador a variação ficou em 0,94%.
Pesquisar preços e fracionar compras são as dicas para poupar
Segundo o educador financeiro Edísio Freire, existem estratégias que podem fazer a diferença na hora de ir ao supermercado. “De centavo em centavo é possível deixar a despesa com o supermercado mais em conta”, assegura.
A primeira dica é desapegar das marcas mais caras. “O consumidor pode testar outras marcas, sem perder a qualidade que se espera de um produto”. Para Freire, não adianta ter pressa, pois para reduzir os gastos é preciso pesquisar e comparar. Outra sugestão dele é variar os locais de compra, conseguindo assim perceber qual estabelecimento pratica melhores preços.
Na avaliação do educador financeiro também é preciso deixar de lado uma prática muito comum no Brasil: as compras por mês. “O ideal é ir semanalmente ao supermercado, já que os estabelecimentos ofertam melhores promoções neste período”. Quanto à lista, o educador financeiro destaca que é importante dar olhada na dispensa ao invés de tentar adivinhar o que está faltando. Ele acrescenta que mesmo tendo em mente tudo que vai comprar, a pessoa deve anotar, pois dificulta que ela jogue dentro carrinho o que não estava na previsão.
“Vá certo na direção do que é necessário adquirir naquele momento”, aconselha. A assessora Meire Regueira segue algumas das dicas de Freire e aguarda as promoções da semana. “Às vezes consigo comprar um produto até 40% mais barato, quando comparo os preços de um supermercado para o outro”. A família, composta por quatro pessoas, gasta mensalmente R$ 1.800 no mercado. A solução tem sido tentar experimentar outras marcas. “Ganho duas vezes, porque o preço é menor, mas a qualidade é similar”.