A greve de fiscais federais agropecuários está afetando a emissão de certificados sanitários e já começa a prejudicar as vendas externas de produtos como milho e carnes, num momento em que as exportações desempenham papel fundamental para a economia brasileira.
“(A greve de fiscais) é a pior coisa que pode acontecer para exportações de grãos”, disse à Reuters nesta sexta-feira o diretor-geral da Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, referindo-se aos embarques de milho, que normalmente ganham ritmo no segundo semestre.
Os fiscais federais agropecuários iniciaram uma paralisação na quinta-feira por melhores salários e contra ajustes fiscais anunciados pelo governo.
O Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) estimou nesta sexta que 70 por cento dos trabalhadores aderiram ao movimento.
Nos portos de Santos, o principal para embarques de grãos do Brasil, e de Itajaí (SC), importante para carnes, a adesão à greve é de 100 por cento, segundo a assessoria de imprensa do Anffa Sindical. Em Paranaguá, outro terminal relevante para exportações do agronegócio, a paralisação dos fiscais é parcial.
Segundo Mendes, da Anec, a falta de certificado fitossanitário pode impedir, por exemplo, o desembarque de milho brasileiro no exterior se o documento não for emitido a tempo.
“São vários importadores, é um mercado mais pulverizado, são granjeiros, não são grandes ‘tradings’, como é o caso da soja”, disse. “E para cada importador tem que ter um certificado, isso vai dar um trabalho maior.”
Ele disse que é prematuro para estimar perdas, acrescentando que as perspectivas são de exportações recordes de 30 milhões de toneladas de milho, que podem ser ameaçadas caso a greve dos fiscais se prolongue por muito tempo.
O Brasil é o segundo maior exportador global de milho, atrás dos Estados Unidos, e o principal fornecedor de carnes de frango e bovina no mercado internacional. Em meio à recessão da atividade no país, a balança comercial tem sido um alento para a economia nos últimos meses.
O diretor-geral da Anec disse que a associação está conversando diretamente com os fiscais de Santos, visando minimizar problemas. No caso dos outros portos, a negociação ocorre via Brasília.
A preocupação é para exportações com rotas mais curtas, com risco maior de o certificado não ser emitido a tempo de o produto chegar no destino. “Já informamos a fiscalização para priorizar esses casos, para não ter o perigo de não descarregar.”
O certificado é emitido, normalmente, após o navio com o produto deixar o porto.
A Abiove, que representa os exportadores de soja, afirmou que ainda não há informações sobre problemas pela greve.
Carnes
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa exportadores de carnes, informou nesta sexta ter recebido relatos dos associados de que contêineres programados para embarcar carnes de aves e de suínos, além de ovos, não foram despachados devido à falta de assinatura dos certificados sanitários por parte dos fiscais.
“Prejuízos já começam a ser contabilizados pelas indústrias do segmento”, disse a ABPA em nota, sem fornecer valores.
A associação disse estar preocupada com as consequências da continuidade da greve dos fiscais agropecuários para exportadores da avicultura e da suinocultura, que incluem empresas como BRF e JBS.
“Em um período de forte crise econômica, as exportações dos setores – que registraram crescimentos nos últimos meses– têm desempenhado um importante papel na geração de divisas para o Brasil e na preservação do emprego e da renda, especialmente, em cidades do interior do país”, disse a associação.