O recrudescimento da crise política na Ucrânia e as manobras russas derivadas dessa turbulência sacudiram os mercados financeiros globais no início da semana e deixaram como saldo, no caso das commodities agrícolas, valorizações expressivas das cotações de trigo e milho.
A maior delas foi a do trigo. Na bolsa de Chicago, os contratos para maio encerraram a sessão de ontem negociados a US$ 6,4350 por bushel, com ganhos de 2,9% em relação à véspera e de 6,8% na comparação com sexta-feira. Conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a Ucrânia será o quinto maior país exportador do cereal nesta safra 2014/15. As altas dos dois últimos dias não foram mais expressivas porque, segundo traders, os principais portos exportadores do país até ontem não tinham sido afetados pelos problemas políticos.
No mercado de milho de Chicago, os papéis para maio fecharam ontem a US$ 4,8425 por bushel, 2,9% mais que na segunda-feira e valor 4,5% superior ao registrado na sexta-feira. Ainda que a Ucrânia também produza milho, as valorizações foram puxadas sobretudo pela escalada do trigo, já que ambos podem ser usados com a mesma finalidade em alguns segmento, como o de rações. Também as preocupações com o clima na América do Sul colaboraram para a ascensão das cotações.
O déficit hídrico em áreas da Argentina e do Sul do Brasil e as chuvas que atrapalham a colheita em polos de Mato Grosso não foram capazes de impulsionar os preços da soja na segunda-feira em Chicago, mas ontem produziram alta relevante. Maio fechou a US$ 14,23 por bushel, 1% mais que na véspera. Dos três principais grãos comercializados no exterior, a soja é o único que resistiu à influência ucraniana nos últimos dias.
Para os exportadores brasileiros de carnes, contudo, a crise preocupa. Conforme adiantou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, a Abipecs, associação que representa produtores e exportadores de carne suína, já identificou reflexos da turbulência na programação de embarques do segmento. Nesse contexto, Rui Vargas, presidente da entidade, afirmou que algumas empresas têm tentado direcionar um volume maior da produção ao mercado doméstico.
Na área de carne bovina a crise foi minimizada pela Abiec, que representa as empresas da área. A Ucrânia absorver mais de 10% das exportações do Brasil em 2013, mas Antônio Camardelli, presidente da Abiec, disse que até agora as vendas não foram prejudicadas.