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Soja torrada no PR e encharcada em MT

Destempero do "clima neutro" afetou os dois principais produtores e ainda ameaça o Centro-Norte.

Soja torrada no PR e encharcada em MT

As perdas climáticas nas lavouras de soja, confirmadas no último mês, somam 2,1 milhões de toneladas nos dois estados que são líderes em produção no Brasil. O Paraná tem sido o mais prejudicado, com recuo de 10,9% ou 1,85 milhão de toneladas. Mato Grosso já perdeu 250 mil toneladas, ou 1% do volume esperado, sem contar o fato de que as chuvas em excesso afetam a qualidade dos grãos. O recuo foi apurado pela Expedição Safra Gazeta do Povo, que acaba de lançar uma avaliação dos estragos e segue monitorando as lavouras em 14 estados.

As previsões de que a temporada de neutralidade climática teria altos e baixos, com distribuição irregular de precipitações, se confirmaram entre janeiro e fevereiro. No ano passado, o quadro meteorológico era semelhante, mas faltou menos chuva na fase de enchimento de grãos no Paraná e as temperaturas não chegaram marcas tão elevadas. Os termômetros registraram perto de 70 graus em lavouras das regiões Norte e Norte Pioneiro paranaenses. As enxurradas ainda preocupam os produtores mato-grossenses. Um quarto das lavouras ainda não foi colhido.

No Paraná, a região mais afetada pela falta de chuva é extensa e colhe um terço a menos que previsto, aponta o agrônomo Robson Mafioletti, assessor técnico-econômico da Organização das Cooperativas do estado (Ocepar) que participa da Expedição Safra. “Sem umidade numa fase crucial, a quebra foi mais expressiva do que parecia em todo o Norte. Houve redução do potencial também nas demais regiões, mesmo que em menor proporção.”

Na capital nacional da soja, em Sorriso (MT), tudo parecia ir bem até um mês atrás. Mas agora “tem soja sendo colhida com índices de 20% a 25% de umidade”, afirma o produtor e líder sindical Laércio Lenz. O produtor Evandro Lermen conta que, quando as chuvas chegaram, 70% de uma área de 5 mil hectares estavam prontos para a colheita. E um terço apresentaram grãos ardidos além do padrão. Parte da colheita, nessas condições, acaba virando ração. “O grão úmido gera despesa extra de secagem, e para o ardido não existe recuperação.” A produtividade caiu do potencial de 62 para 50 sacas por hectare, conta.

Com a quebra de 2,1 milhões de toneladas em dois estados, a previsão de uma safra nacional de 91,05 milhões está sendo rebaixada. Ainda assim, a tendência é de recorde. O maior volume produzido pelo país foi de 81,9 milhões de toneladas, na temporada passada. O Brasil ainda sustenta as previsões de que as exportações vão passar de 45 milhões de toneladas (ante 42,8 milhões em 2012/13).

As previsões climáticas indicam chuvas irregulares para o Centro-Norte, que produz 10% da soja brasileira. A região abrange os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a nova fronteira do MaToPiBa, onde três quartos das lavouras ainda não foram retirados do campo. Esses quatro estados serão percorridos pela Expedição Safra ainda neste mês.

Recorde virou exceção, mas sustenta resultado no milho

Clima bem temperado virou exceção nesta temporada no Paraná. Poucas regiões conseguiram avançar em produtividade, deixando para trás previsões recordes. Uma exceção é a zona de abrangência da cooperativa Agrária, que planta 33 mil hectares de milho e 75 mil hectares de soja no distrito de Entre Rios, em Guarapuava (Centro do estado).

Na oleaginosa, houve perda de 5% em relação à produtividade esperada. O resultado traçado pelo avanço da colheita fica perto de 4,7 mil quilos por hectare, um recuo ao índice de 2011/12. Já no cereal, os cooperados estão registrando até 16 mil kg/ha. Marcas individuais nesse patamar prometem média de 12 mil kg/ha, perto de 500 kg acima dos melhores verões. “Estamos com quebra na soja, mas com um resultado surpreendente no milho”, frisa o agrônomo Leandro Bren, coordenador de assistência técnica.