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Economia

Proteína, a estrela das fusões no setor alimentos

O intenso apetite mundial por proteína (carne e produtos lácteos) é uma das principais forças por trás da aquisição da Hillshire Brands pela Tyson Foods.

Proteína, a estrela das fusões no setor alimentos

De Pequim até Boston, os consumidores estão devorando mais carne e produtos lácteos, incentivando fusões de muitos bilhões de dólares na indústria de alimentos e reformatando a agricultura global. Esse intenso apetite por proteína é uma das principais forças por trás da aquisição da Hillshire Brands Co. pela Tyson Foods Inc. por US$ 7,7 bilhões. Consumidores com renda cada vez maior nas economias emergentes estão colocando mais carne em seus pratos e alimentando seus filhos com mais leite e derivados. Nos Estados Unidos, consumidores de hábitos saudáveis também estão substituindo os carboidratos como pão e cereais por mais proteína animal, incluindo carne, iogurte e ovos.

Essa tendência permitiu a ascensão de gigantes da indústria da carne, como a brasileira JBS SA e o WH Group, da China, e está elevando as vendas de empresas americanas como a Hillshire, fabricante de marcas populares nos EUA, como as linguiças Jimmy Dean e as salsichas Ball Park., e a Chobani Inc., a maior marca de iogurte do tipo grego do país. Ela também está permitindo que agricultores do mundo todo elevem sua produção de carne e também de milho, soja e outras commodities utilizadas na alimentação dos rebanhos. “A proteína é um setor muito bom para se estar neste momento”, diz Chuck Wirtz, que cria cerca de 50.000 porcos por ano no Estado americano de Iowa. As empresas estão correndo para adquirir ativos estratégicos, de leite em pó para bebês a marcas de bilhões de dólares que dominam os supermercados. O negócio da Hillshire, se fechado, será a maior fusão da indústria da carne, superando a aquisição, no ano passado, da Smithfield Foods Inc. pelo WH Group – que na época era conhecido como Shuanghui International Holdings -, por US$ 4,7 bilhões.

O negócio foi a maior aquisição chinesa de uma empresa americana. A brasileira JBS fez uma série de aquisições nos últimos dez anos para se transformar no que os executivos chamam de o maior frigorífico do mundo, com vendas de US$ 41,7 bilhões no ano passado. A JBS também fez uma oferta pela Hillshire, através de sua controlada Pilgrim’s Pride Corp., mas perdeu para a Tyson. Carnes, ovos, lácteos, feijão e grãos estão entre as principais fontes de proteína, que o sistema digestivo quebra em aminoácidos que substituem proteínas existentes nas células humanas.

Como o corpo humano não pode produzir alguns aminoácidos, a proteína é considerada uma parte essencial da dieta humana. A deficiência de proteínas continua sendo um problema para milhões de pessoas em países mais pobres, mas o crescimento da renda eleva a presença da carne na dieta das pessoas. O consumo mundial de carne irá crescer 1,9% por ano nos próximos dez anos, de acordo com projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA, graças ao aumento da renda em lugares como China, México e América Central.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) previu que, em 2030, o consumo anual de carne será de 45 quilos por pessoa, ante 39 quilos em 2007 e 33 em 1991. O USDA prevê que a China e Hong Kong elevarão as importações de carne bovina em 55% até 2024. Em resposta, agricultores do mundo todo plantaram mais milho e soja, ingredientes da dieta dos rebanhos. Os agricultores americanos plantaram 39,3 milhões de hectares de milho em 2013, a maior área desde 1930. Produtores de carne em países em desenvolvimento como o Brasil também elevam sua produção: a ONU espera que esses países sejam responsáveis por 80% do crescimento da produção global de carne nos próximos oito anos. A crescente demanda por carne e lácteos tem gerado preocupações ambientais.

A ONU estima que a criação de rebanhos é responsável por cerca de 14% das emissões de gás de efeito estufa. Os ambientalistas culpam os dejetos animais da pecuária por poluírem as águas. Eles afirmam que a carne é uma fonte proteica relativamente ineficaz e que faria mais sentido utilizar as terras que agora são usadas para produção de ração animal para plantar grãos com maior nível de proteína para consumo humano.

Nos EUA, a maioria das pessoas já consome mais proteína do que precisa, de acordo com as autoridades de saúde do país. O consumo médio de carne dos americanos, medido por peso, cresceu em 2013 depois de cair nos últimos anos, de acordo com o USDA. Preços recordes de carne fresca, consequência da seca e de doenças que reduziram os rebanhos nos EUA, provocaram queda nas vendas.

As vendas de leite também caíram. Mas as vendas de carnes processadas e de lácteos explodiram com a redução do consumo de carboidratos e o lançamento de produtos mais convenientes. As vendas de alimentos prontos com presença de proteína cresceram para US$ 7,5 bilhões nos 12 meses encerrados em 15 de fevereiro, 50% mais que o registrado no mesmo período quatro anos atrás, segundo a Nielsen. “O iogurte grego explodiu”, disse o diretor-presidente da Tyson, Donnie Smith, em entrevista recente. Ele disse que a demanda por proteína, particularmente em alimentos prontos e práticos, levou a Tyson a lançar este ano sua primeira linha de sanduíches, a Day Starts, cujo rótulo ressalta seu conteúdo proteico. (Colaboraram Alistair MacDonald, Annie Gasparro e Julie Jargon.)