Alfredo Lang, presidente da C. Vale
“O ambiente de negócios está mais complicado. No caso do agronegócio, o recuo dos preços dos produtos agrícolas reduz a rentabilidade não só para o produtor, mas também para a cooperativa. O mercado de consumo se desaquecendo também complica as negociações no varejo. Vejo duas situações distintas para depois das eleições. Os preços agrícolas, ao que tudo indica, vão estar em patamares bem menores, ajudando a conter os preços dos alimentos. Do outro lado, os preços dos combustíveis e da energia elétrica, que hoje estão represados, precisam ser recompostos. Acredito que um fator vai neutralizar o outro. A inflação alta do primeiro semestre deste ano não foi inflação de demanda, foi sazonal, efeito da estiagem. Não creio em inflação alta se as vendas, em 2015, continuarem fracas. Como a economia está patinando, as empresas vão pensar muito antes de reajustar seus preços. Muita gente aproveitou o aumento da renda dos últimos anos para investir em casa e automóvel, e agora tem que priorizar o pagamento. Então, vejo que estamos entrando num período de vacas magras. Independentemente de quem for o próximo presidente, o retorno do crescimento econômico vai ser um processo relativamente demorado.
Marcelo Alecrim, presidente da Ale
“Se o PIB crescer menos de 1%, como muitos analistas estão prevendo, temos que avaliar o dia a dia e nos antecipar. Há vários problemas no momento: inflação em alta, juro elevado e o preço do combustível defasado, que complicam o cenário para os negócios. Sabemos quais são os problemas e temos como resolvê-los. Depende da resposta do governo. O Brasil ficou na expectativa da Copa do Mundo e, agora, das eleições. Vai depender do resultado. A empresa precisa estar preparado para atuar em qualquer cenário. Vai influenciar o negócio. Quem sai na frente colhe os melhores frutos.”
Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Banco Bradesco
“O ambiente de negócios no Brasil é muito interessante. Há queixas sobre isso ou aquilo, mas nunca vi um empresário desinvestir, fechar as portas, pegar o dinheiro e se mudar para outro lugar. Fazer isso é suicídio empresarial. O fato é que todos acreditam no Brasil. E sabe por quê? Temos aqui um dos maiores mercados consumidores do mundo, com imenso potencial de crescimento. Há muitas obras de infraestrutura e de modernização pendentes. A agenda é positiva. No nosso cenário básico, trabalhamos com a necessidade de estruturar o banco para atender a um esperado forte crescimento da demanda de produtos e serviços financeiros. A população brasileira é desbancarizada, e ainda há muito espaço para crescer em crédito, seguros, fundos de investimento e cartões. Isso já começou, e vai continuar, não há mais como voltar atrás, nesta e nas próximas décadas. Sobre as eleições, não devemos criar muitas expectativas. No mundo dos negócios, as coisas vão continuar seguindo no rumo da construção de um país moderno e competitivo. Não tem volta.”
Dalton Santos Avancini, presidente da Camargo Corrêa
“O setor de infraestrutura passou por um grande boom nos últimos anos. Teve uma série de grandes investimentos públicos e privados. O nível contratado ainda é alto. Mesmo que este ano a gente tenha um nível de captação menor de novos projetos, a maior parte das empresas do setor não deve sofrer impacto porque estão trabalhando com os projetos já contratados. Em construção, o efeito de uma diminuição do mercado em um determinado ano não se dá imediatamente. A influência da economia não é tão objetiva quanto sobre setores de consumo. Os efeitos acontecem depois. Este ano pode não ser tão positivo assim. Mas será compensado para frente. Agora, é importante que no próximo ano venham novas demandas e contratações. Se tivermos dois anos de paralisia total, aí vamos ter realmente um efeito. A gente acredita que, passadas as eleições, haverá recuperação. A desaceleração não é permanente. A infraestrutura é necessária. Temos hoje estudos para ferrovias sendo colocados em licitação. Acreditamos que o país precisa crescer mais. E para que o país cresça infraestrutura é fundamental.”
Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL
“O momento econômico não é bom no Brasil e também no mundo. Internamente e em relação à energia, a falta de chuvas por um período tão prolongado exige um esfoço conjunto entre o setor e o governo federal para, com um dispêndio maior, preservar os consumidores. Não tem havido socorro às distribuidoras [referindo-se à liberação de crédito pelo governo federal]. O socorro é para os consumidores pois, se não fosse isso, as tarifas teriam subido 40%. O fato de 2014 ser um ano eleitoral traz boas perspectivas, independentemente de quem for eleito para a presidência da República. O contexto positivo de uma eleição é criar a oportunidade de debates sobre o país, a perspectiva de que sejam tomadas medidas importantes e necessárias, além do efeito Ano Novo. Qual a diferença entre o dia 31 de dezembro e primeiro de janeiro? 24 horas. Mas não na cabeça das pessoas. Só por mudar o ano, elas decidem parar de fumar, recomeçar algo … Eleição é a mesma coisa: as pessoas voltam a ter esperança no futuro e isto já melhora o cenário no país.”
Adib Jacob Neto, presidente da Novartis
“Os mercados de saúde e farmacêutico no Brasil tendem a manter uma boa dinâmica de crescimento, com expansão de dois dígitos nos próximos anos, impulsionados pelo lançamento de novos produtos. A ascensão da classe média e a maior longevidade da população brasileira, que resultam em demanda maior por recursos na área de saúde, são alguns dos motores da expansão. Esse cenário não depende das eleições presidenciais, dos seus resultados. Não espero uma mudança substancial, nos próximos 4, 5 anos, no mercado de saúde, que deverá seguir convidativo, sobretudo quando comparado com o mercado internacional.”
Renato Alves Vale, presidente da CCR
“A situação em relação a 2013 piorou. Basta considerar os efeitos da diferença de 3 pontos percentuais na taxa de juros. Só ela já tem um impacto importante – no caso da CCR, com dívidas próximas dos R$ 10 bilhões, a alta significaria algo como R$ 300 milhões. As manifestações do ano passado trouxeram uma série de incertezas para um negócio como o nosso, de concessões de serviços públicos principalmente, onde a regulação é fundamental. Reajustes não foram dados. Este ano tivemos novamente dificuldades nos reajustes aqui em São Paulo. Isso é algo novo. Nós, e os investidores que aplicam dinheiro no Brasil através de nossa empresa, achávamos que isso estava superado. Essa incerteza voltou. O dinheiro está mais caro, o grau de incerteza aumentou, então o ambiente de negócios é pior, sem dúvida. Quanto às eleições, é óbvio que a possibilidade de mudança traz turbulências, para um lado ou para outro. Nossa expectativa é de que depois tudo se estabilize. Evidentemente que a expectativa é de um 2014 ruim, mas somos otimistas e achamos que 2015 será melhor.”
Walter Herbert Dissinger, presidente da Votorantim Cimentos
“Nós estamos vendo neste momento um ambiente um pouco mais desafiador que nos últimos anos, nos quais houve um ciclo de crescimento muito forte. Preocupa, naturalmente, a inflação e os impactos que terá sobre o crédito. É um cenário que deverá se manter em 2014 e 2015. Por outro lado, como a Votorantim Cimentos tem fábricas no Brasil inteiro, continuamos a nos beneficiar em regiões que continuam a crescer acima da média do país, como o Nordeste, e no setor de infraestrutura. A área de infraestrutura continua a crescer e se descola um pouco do desempenho do segmento de consumo. É também uma área na qual nos posicionamos como a única empresa com abrangência de fábricas em nível nacional, do Sul até o Norte, em todas as regiões. Estamos focando nessa área. E por isso não mudamos a previsão de investimentos em nossas unidades fabris para os próximos três anos.”
Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG
“Há quem atribua à Copa, o fato é que houve uma parada e ela deve se manter até as eleições. Não vamos ter uma recuperação até lá, o investimento também é uma decisão emocional. As pessoas estão aguardando. Depois da eleições alguma coisa vai mudar. O Brasil não tem como não ir para frente. Existe uma pressão muito forte por investimentos, principalmente em infraestrutura. Não tem como não acontecer isso. Toda a sociedade está reivindicando, não são só os empresários”.
Ricardo Vescovi, presidente da Samarco
“O Brasil ainda está vivendo resquícios da crise de 2008 e sofrendo mais do que o próprio epicentro dela. A deterioração dos indicadores econômicos e do ambiente de negócios mostra que o país está esbarrando nos seus próprios limites, principalmente no que diz respeito à infraestrutura, o que encarece os custos e limita os volumes de produção. A Samarco não depende de infraestrutura de terceiros, o que é um grande ganho. Mas a mão de obra sofre os efeitos das políticas trabalhistas e da produtividade aquém da verificada nos principais países produtores de pelotas, como Austrália, Suécia e Canadá. Energia é, hoje, o fator limitante que mais preocupa. A dependência do regime de chuvas é um risco grave, ao qual o país não poderia estar sujeito. Para ampliar os limites do crescimento econômico, o planejamento da infraestrutura teria ser colocado em outro patamar, com visão para os próximos 40 a 50 anos.”
Marcelo Castelli, presidente da Fibria
“Vejo com preocupação o atual ambiente de negócios brasileiros, principalmente porque falta uma agenda de infraestrutura, principalmente do ponto de vista da produção. Além da necessidade de uma série de obras em áreas como logística, saneamento, energia, há problemas novos. Temos as questões das licitações no Porto de Santos, ainda indefinidas, do risco de racionamento de energia e de água, tudo isso torna o ambiente ainda mais conturbado do que ano passado. Mas as eleições tornam mais oportuna a discussão sobre como o Brasil poderá resgatar uma política industrial que proporcione um aumento de competitividade para as indústrias.”
Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein
“Estou otimista. Embora a economia não esteja crescendo, características muito próprias do setor de saúde nos levam a crer em possibilidade de expansão. O envelhecimento da população e o incremento tecnológico são fatores que elevam a necessidade e a demanda por serviços de saúde, independentemente do cenário econômico e político. Estamos incorporando novos processos tecnológicos, atendendo pacientes mais e melhor, isso representa um ganho. A aproximação cada vez maior entre o setor privado e o Sistema Único de Saúde (SUS) traz muitas oportunidades de crescimento para o setor. É comum, em véspera de eleições, empresas e pessoas ficarem indecisas sobre o que devem fazer. Mas o país se sairá bem. Talvez não tão bem quanto alguns falam, nem tampouco tão mal quanto outros pensam. Eu, particularmente, acho que vai andar, e vai andar bem, em 2015.”
Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Seguros
“Temos um 2014 mais desafiador, a faixa de crescimento não é alta, há um pouco mais de inflação. Mas quando você olha para nossa área especificamente de seguros, há tantas oportunidades de aumentar o potencial de vendas através da chegada de oferta de produtos… Acho que a gente tem um cenário bastante bom, não vejo a questão das eleições como um fator impactante para nosso setor, para crescimento ou redução. Vejo um processo de continuidade da rota que a gente tem hoje.”
Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo
“O ambiente macroeconômico está desafiador. Não só pela expectativa de baixo crescimento econômico – a pesquisa Focus já prevê PIB abaixo de 1% neste ano – mas também pelo seu impacto no consumo. Nosso negócio depende mais do consumo e ele está sendo afetado. Em 2015, ainda estaremos sob influência do clima atual. É um legado que vai nos afetar. Aos poucos o humor deve mudar, mas não muda rapidamente o ritmo. Não partilho de sentimento negativo. O Brasil não era a oitava maravilha do mundo nem é agora a oitava porcaria. Cresce pouco, mas cresce. Já passamos por isso. A história do país é marcada por extremos exagerados. Mesmo com a desaceleração da atividade econômica, nosso setor se beneficia da substituição do cheque e dinheiro pelos cartões e tem dinâmica própria de crescimento.”
Marco Stefanini, presidente da Stefanini
“O Brasil vive uma de crise de confiança em que a performance econômica, embora não seja tão boa, não é tão ruim quanto o mercado avalia. Essa percepção em descompasso com a realidade acaba se tornando um fator limitante, juntamente com gargalos históricos, como as questões fiscal, tributária, de infraestrutura e educacional. Os agentes econômicos como um todo precisam trabalhar para mudar esse cenário. A situação pode não ser muito promissora nem para este ano, nem para 2015, mas a falta de confiança do mercado acarreta uma piora no cenário, com reflexos em investimentos e outras decisões empresariais. O pessimismo não vai desaparecer este ano. O próprio processo eleitoral dificulta. Seja Dilma, seja alguém da oposição, espero que o próximo governo venha com um trabalho forte para reverter essa expectativa negativa do mercado.”
Divino Sebastião de Souza, presidente da Algar Telecom
“Não perco o bom humor. A economia brasileira, por seu tamanho e perfil, não vai ficar parada. É só uma fase até a retomada do crescimento. Preocupam, sim, os gargalos para uma recuperação consistente, como os da infraestrutura, logística e energia. E, também, o poder de compra do brasileiro, que estagnou depois da alvancagem dos últimos anos. No setor de telecomunicações, é preciso avançar numa regulação que promova a estabilidade e o crescimento sustentado das empresas, preservando o equilíbrio entre geração de receita e necessidades de investimento, principalmente diante dos novos serviços e tecnologias.”
Fernando Antonio Simões, JSL
“O ambiente econômico brasileiro ficou mais difícil. Sou bastante otimista em relação ao Brasil em médio e longo prazo, mas neste momento vejo um clima de apreensão, com as indústrias em compasso de espera. Há uma consciência generalizada entre os empresários de que o país tem necessidade urgente de passar por uma grande reestruturação, por um processo de reformas que proporcione um aumento de competitividade nas empresas e elas possam ingressar em um novo ciclo de desenvolvimento. Por ser um ano eleitoral, esta apreensão se intensifica ainda mais. Este compasso de espera pode se prolongar para além das eleições. Acho que todo mundo que não precisar fazer investimentos vai deixar para tomar decisões somente quando vierem os ajustes que o Brasil precisa. Vamos torcer para que isso ocorra já em 2015, independentemente de quem ganhar a eleição.”
Frederico Fleury Curado, presidente da Embraer
“Nossa indústria é muito ligada ao mercado internacional. Exportamos 86% da produção. A crise de 2008 já se encerrou, mas suas consequências ainda não. Hoje há uma clara desaceleração das economias emergentes. A própria China está crescendo menos. Por outro lado, há uma pequena reação dos Estados Unidos. De qualquer maneira, a companhia está muito sólida, em todos os seus fundamentos. Após as eleições, há desafios que qualquer presidente que seja eleito terá de enfrentar, como o fiscal, de manter o superávit primário. Esses desafios vão estar presentes em 2015, ano em que haverá reajustes de preços, que vão trazer pressões inflacionárias. A solução é o Brasil crescer. Se o Brasil crescer, essas coisas se resolvem.”