O ano de 2015 será de inflação ainda alta e crescimento baixo, avaliam economistas ouvidos pela Agência Brasil. Ressaltam que o novo ciclo de alta de juros adotado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) demorará de seis a nove meses para ter impacto sobre os preços. Já a atividade econômica tende a arrefecer com o aperto monetário. No dia (03/12), o Copom elevou em 0,5 ponto percentual a Selic, taxa básica de juros, que chegou a 11,75% ao ano.
Para os economistas, um cenário mais positivo só começará a se desenhar em 2016. O aperto fiscal sinalizado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nomeado para o próximo mandato, também contribuirá para a economia menos aquecida. Apesar das perspectivas, os analistas consideram os ajustes acertados e preveem novas altas da Selic até o primeiro trimestre do ano que vem.
“A gente pode dizer que é como dar um antibiótico para a pessoa que está com uma infecção, no caso a inflação. É uma medida extrema, em um momento em que a pessoa está bastante afetada pela doença. A ideia é que é um mal necessário”, assinala o economista Gilberto Braga, professor de Finanças do Ibmec. Braga explica porque uma medida como a elevação na Selic demora a ter o efeito esperado, de desaquecimento da economia e consequente redução na inflação.
“Quem já contratou um empréstimo, por exemplo, não recontratará para pagar mais caro. A alta afeta só as novas operações”, salenta. Ele aposta em aumentos até que a Selic esteja um ponto percentual acima do patamar atual, mas não descarta que a taxa possa atingir 13%. “Vai depender da calibragem dos aumentos. A equipe econômica tem passado a impressão de jogo duro”, comenta.
A economista Alessandra Ribeiro, da Consultoria Tendências, faz previsão diferente, de novos aumentos mais suaves para a taxa básica. Segundo ela, a consultoria está redefinindo a curva de juros, após o anúncio de ontem e aposta em altas da Selic de 0,25 ponto percentual, cada, nas reuniões do Copom em janeiro e março. O motivo é que, na nota divulgada depois da decisão sobre a nova Selic, o BC informou que o esforço da política monetária “tende a ser implementado com parcimônia”.
Alessandra destaca que, além da demora natural para o ajuste nos juros ser sentido na economia real, em 2015 a inflação deve continuar pressionando, em função dos preços administrados, que ficaram represados por muito tempo este ano. “Há uma conta a pagar de energia elétrica, gasolina e transporte público. Por isso, a inflação fica muito próxima do teto da meta ainda no ano que vem”, analisa Alessandra, destacando que a projeção da consultoria é fechamento em 6,4%.
Com relação ao crescimento, a previsão de Alessandra Ribeiro é que o cenário será ligeiramente melhor que o deste ano, prejudicado pela Copa do Mundo e pelas eleições. “Nossa projeção de crescimento é 0,9% no ano que vem, que é muito baixa. Para este ano, é zero mesmo. Para 2016, 1,6%”, adianta a economista. Concluído no fim de novembro, o mais recente boletim Focus, pesquisa semanal do BC junto a instituições financeiras, prevê inflação de 6,49% e crescimento de 0,77% para 2015. Para 2014, a estimativa é que o país cresça 0,2% e a inflação feche em 6,43%.