Há oito anos fora das arenas de negociações de livre-comércio, o Brasil finaliza 2013 isolado, sem peso no comércio exterior e o país mais protecionista do mundo – depois do campeão, Bangladesh. O diagnóstico de especialistas, reunidos no Fóruns Estadão-Rrasil Competitivo-Comércio,Exterior, na terça-feira, reflete-se nos dados da balança comercial brasileira.
O País está diante de dois riscos ainda mais sérios em curto prazo: ser obrigado a engolir regras comerciais que nunca negociou, por causa de süa aversão aos acordos regionais e bilaterais, e condenar seus setores produtivos a ficar de fora das cadeias de valor internacionais.
Segundo Vera Thorstensen, os EUA “ansaram-se” do Brics (Brasil, Rússia, índia e China e África do Sul). Agora buscam em duas megafrentes de negociações – com os países do Pacífico (TPP, na sigla em inglês) e com a União Europeia (TTIP) -a definição de novas disciplinas para o comércio. Em futuro próximo, esses pacotes de regras tendem a ser internalizados, por meio de uma rodada multi-lateral, no arcabouço legal da Organização Mundial do Comércio (OMC). O acordo EUA-União Europeia vai, além disso, “comerá as cotas de importação que hoje beneficiam o agro! negócio brasileiro”, segundo a professora e pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas.
“O melhor cenário para o Brasil é entrar na negociação entre os Estados Unidos e a União Europeia, O Brasil precisa perder o medo e retomar o seu diálogo com o Atlântico”, defendeu Vera. “É muito grave p Brasil estar fora das negociações de regras do comércio, que definirão a capacidade de o País exportar. A discussão sobre tarifas perdeu peso. Hoje as tarifas altas podem ser compensadas pela redução de custos”, explicou Sandra Rios, diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes).
Cuidadoso para não mencionar diretamente o Brasil ao qual serviu como diplomata até maio, o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo – que participou do evento por videoconferência – concordou “ser importante a um país ter voz ativa nas negociações dessas novas disciplinas” hoje em curso nos acordos negociados pelos EUA e fora da arena da OMC. Os mesmos acordos tendem a reforçar a lógica prevalecente de produção em cadeias de valor.
“Isso não pode passar despercebido”, afirmou, referindo-se às negociações sobre regras. “As cadeias de valor são fundamentais para o aumento da competitividade, Cada país pode fazer suas opções, mas é raro um país dizer que não as aceita”, completou Azevêdo.
Peso. Como sétima economia do inundo, o Brasil deveria exportar em torno de US$ 550 bilhões, nos cálculos da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). No ano passado, porém, foram embarcados US$ 242,6 bilhões. O perfil da balança comercial piorou, com redução da parcela de embarques industriais, e o déficit nas trocas de produtos manufaturados deverá superar US$ 100 bilhões neste ano, ressaltou o presidente da AEB, José Augusto de Gastro, especialmente preocupado com a ausência de acordos para abrir mercados e inserir a indústria brasileira nas cadeias de valor. Esse contexto, segundo Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consultirig, impõe perda de potencial de crescimento econômico brasileiro. “Há cinco anos estamos patinando, mantendo o nosso foco nos mercados da América do Sul e da África, Viramos um país importador.” queixou-se Castro. “Pensar na abertura comercial em longo prazo e com foco nas barreiras não tarifárias vai beneficiar todos”, disse Zena.