A Rússia, que impõe restrições aos estabelecimentos exportadores de carnes brasileiros desde junho do ano passado, deve liberar os embarques de mais duas unidades nacionais, uma de bovinos e outra de suínos, afirmou ontem o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho. Em dezembro, quatro unidades já haviam sido liberadas pelo Serviço Federal de Fiscalização Sanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor). Ao todo, 145 plantas permanecem com restrições.
A confirmação da habilitação das duas unidades ainda não é oficial, conforme ressalvou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carne (Abiec), Antônio Camardelli, que discutiu o tema ontem, em São Paulo, com o ministro e os presidentes da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, e da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto.
No encontro, Mendes Ribeiro apresentou aos representantes do setor de carnes um relato positivo sobre a reunião que teve no início deste mês com a ministra da Agricultura da Rússia, Yelena Skrynnik, em que ficou acertado o envio dos últimos questionários solicitados pelos russos.
Apesar do otimismo oficial, o Valor apurou junto aos representantes das indústrias de carnes, que o ministro não apresentou medidas efetivas para a questão. “Foi um encontro genérico”, disse uma fonte, citando a demora para a resolução do embargo russo, que se arrasta há mais de seis meses.
Questionado sobre a lentidão, Mendes Ribeiro reconheceu as dificuldades impostas pelos russos. “Não podemos esquecer que a Rússia está tentando fazer o seu próprio mercado, especialmente o de aves”, disse ele.
“No setor avícola, teremos novas aberturas de unidades para a Rússia. Mas elas serão em menor escala do que em bovinos e suínos, produtos que eles têm maior necessidade”, admitiu Turra, da Ubabef. “Certamente, os russos serão menos receptivos conosco, até porque eles estão fazendo um trabalho de defesa do produtor local”, reforçou o dirigente, para quem os exportadores brasileiros de aves devem depender cada vez menos deste mercado.
Além do embargo russo, o ministro também abordou as negociações para a aprovação de novas unidades aptas para exportar carnes para a China. Ao todo, seriam entre 9 e 16 plantas de abate de bovinos e 41 de aves. “Temos convicção de que as aprovações devem sair entre os próximos dois e três meses”, afirmou Turra. Para ele, os embarques de frango para os chineses devem crescer “no mínimo 50%” com as aprovações. Em 2011, o Brasil exportou cerca de 200 mil toneladas de carne de frango para o país asiático – atualmente, 21 unidades de abate de aves estão habilitadas.
O acordo com a União Europeia, que passou a gestão da lista de fazendas autorizadas a exportar carne bovina para as autoridades brasileiras, também foi tema da reunião. Atualmente, o Brasil possui 2 mil fazendas autorizadas, com um rebanho de 4,6 milhões de cabeças. Com o novo entendimento, explicou Camardelli, da Abiec, o número de propriedades credenciadas poderá chegar a 29 mil, com 26 milhões de animais.