Desde a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, estima-se que os desastres naturais (grande parte relacionada à mudança no clima) foram responsáveis pelas mortes de 1,3 milhão de pessoas no mundo, afetaram 4,4 bilhões e resultaram em perdas econômicas de US$ 2 trilhões.
Segundo Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Centro Internacional de Gerenciamento de Riscos do Instituto Público de Pesquisas do Japão, o acidente na central nuclear de Fukushima mudou a equação energética mundial.
“Mudou no sentido de que os países que tinham a responsabilidade de tratar problemas internacionais estão se voltando para dentro, a fim de resolver seus problemas nacionais e domésticos”, disse Takeuchi, que participou da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), em junho último.
O centro que Takeuchi dirige tem ajudado o Japão a desenhar estratégias contra a ocorrência de acidentes, principalmente os relacionados à água, como o tsunami, que em 2011 inundou parte do território do país e causou o acidente em Fukushima.
Em entrevista à Agência FAPESP, Takeuchi, que integra o Programa Integrado de Pesquisa sobre Redução de Riscos de Desastres (IRDR, na sigla em inglês), falou também sobre algumas medidas que estão sendo tomadas no Japão para reduzir os riscos e as vulnerabilidades aos acidentes naturais.
Agência FAPESP – O senhor poderia destacar algumas lições trazidas pelo acidente nuclear em Fukushima?
Agência FAPESP – Que outras fontes de energia o Japão poderá empregar para substituir essa dependência da fonte nuclear?
Takeuchi – Estamos estimulando, por exemplo, o uso da energia solar. Ao mesmo tempo, promovemos a importante redução do consumo de energia elétrica junto à população. O processo acelerado de industrialização do Japão, especialmente no período de 1960 a 1980, fez com que o consumo de energia em nosso país crescesse muito. Agora, a população está mais cuidadosa com a questão do desperdício de energia.
Agência FAPESP – Quais práticas e estratégias estão sendo desenvolvidas no Japão no sentido da prevenção e da redução de riscos?
Takeuchi – Nesse sentido, o governo japonês trabalha essencialmente em dois níveis. O primeiro inclui a proteção da vida da população e da propriedade e a segurança alimentar, por meio de infraestruturas físicas que protejam contra tsunamis e outros desastres naturais. O segundo nível inclui a evacuação das áreas de risco. Ainda não sabemos qual será o impacto disso na economia, pois estamos apenas começando, mas temos a certeza da necessidade de se investir em políticas para lidar com os riscos. O mais importante é promover estratégias de adaptação aos desastres, uma vez que não temos como mudar o comportamento de fenômenos como tsunamis, terremotos ou ciclones.
Agência FAPESP – Mas os acidentes naturais muitas vezes contam com a colaboração das atividades humanas.
Takeuchi – Acidentes naturais são agravados pela ação humana em muitos casos, e isso ocorre em todos os locais, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Então, mais do que a resposta, a prevenção e a adaptação são ainda o melhor caminho de ação para lidar com os desastres. Fenômenos naturais são inexoráveis, mas isto não quer dizer que devemos nos resignar e ser apenas vítimas. Existem soluções inteligentes e produtivas para conviver com a natureza e nos adaptar às suas inevitáveis variações.
Agência FAPESP – Poderia citar algum exemplo?
Takeuchi – Precisamos lidar com isso de maneira integrada. Em 2008, o ciclone Nargis atingiu Myanmar e levou 150 mil vidas. Nesse caso, se o governo local tivesse aceitado a ajuda internacional teria havido muito menos mortes. Por outro lado, a preparação para o ciclone que atingiu Bangladesh em 2007 fez com que apenas 3 mil pessoas fossem vitimadas, devido aos avisos prévios e aos abrigos que foram construídos na costa do país. Do ponto de vista do acidente natural, a enchente da China de 1998 foi tão devastadora quanto as enchentes de 1931 e de 1954 que, juntas, mataram quase 180 mil pessoas. Em 1998, morreram mil pessoas. E isso foi resultado de um investimento importante no trabalho de gerenciamento de enchentes.