O acelerado ritmo de comercialização antecipada da safra 2012/13 de soja no Brasil e a retração dos preços internacionais da oleaginosa nas últimas semanas praticamente paralisaram as negociações no mercado interno.
De acordo com cálculos do Valor Data, a desvalorização da saca na bolsa de Chicago (referência mundial para a negociação de grãos) chega a 11,80% desde setembro; somente em outubro, a queda é de 3,34%. Ontem, os contratos para janeiro (que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez) fecharam em alta de 0,82% (12,75 centavos), a US$ 15,4925 o bushel.
No Brasil, um levantamento realizado pela consultoria Céleres aponta um recuo mensal de 9,8% – e três das 13 praças cotadas pela consultoria já registram cotações inferiores a R$ 70 a saca.
“Se pegarmos a referência para a soja a ser entregue em fevereiro no porto de Paranaguá, chegamos a ter comprador a R$ 75 por saca há cerca de 45 dias. Esse valor recuou a R$ 64 dias atrás e recentemente subiu para R$ 67”, relata Francisco Peres, analista e operador de mercado da paranaense Labhoro Corretora de Mercadorias. Esse comportamento se repetiu no interior do Paraná e também de Mato Grosso, para as entregas mais longas.
Em Sorriso (MT), o volume de soja comercializada nos últimos dois meses foi bastante restrito, porque os agricultores já venderam 60% da produção futura e precisam de uma margem de segurança, caso haja algum problema climático. “É quase impossível vender mais de 60% da produção, porque não sabe como será a colheita. Se houver uma intempérie, o agricultor tem que comprar soja de outras regiões para cumprir contrato e isso é um risco financeiro muito elevado”, diz o presidente do sindicato rural local, Laércio Pedro Lenz.
Conforme Lenz, as vendas da safra 2012/13 de Sorriso foram concentradas em julho e agosto, quando o preço por saca estava entre R$ 42 e R$ 43. No fim de agosto, a saca chegou a R$ 54 e alguns agricultores fizeram novos negócios – porém, novamente, foram limitados porque muitos contratos para o futuro já tinham sido concluídos. “Se o preço disparar, pode ser que novos contratos sejam fechados, mas bem pouco”, acredita o presidente do sindicato.
Cleida Zilio, gerente comercial do Condomínio de Produtores de Campo Novo do Parecis (MT), conta que o mercado está calmo. “Metade da nossa produção foi vendida até agosto, entre R$ 48 e R$ 60 a saca”, afirma. Nos últimos dias, o valor médio na região ficou entre R$ 40 e R$ 42 a saca.
Levantamento divulgado ontem pela Céleres confirmou que a comercialização da commodity não avançou na última semana. A safra 2011/12 continuou com 99% de seu volume negociado (ainda que cinco pontos percentuais acima do observado no mesmo período do ano passado), e a 2012/13 seguiu com 47% vendidos (16 pontos percentuais à frente de um ano atrás).
No Sul do país, a estimativa é de que 35% da produção já tenha sido vendida. “A tendência é o prêmio ficar negativo em relação a Chicago nos próximos meses, porque o mercado vai perceber que teremos uma safra recorde em 2012/13 e precisaremos escoar”, prevê Luís Vieira, operador da Corretora Mercado, do Rio Grande do Sul.
Enquanto os preços referentes à soja da temporada 2012/13 foram mais ou menos no passo dos recuos de Chicago, a oleaginosa colhida em 2011/12 apresentou quedas menos expressivas. “O motivo é que, no final de safra, os preços da soja no Brasil costumam ser determinados mais pelo mercado local de óleo e farelo”, explica o analista da Labhoro.
Nas contas dele, pouco mais de 3% da soja do ciclo anterior está disponível em Mato Grosso; no Paraná, de 8% a 10% da produção local ainda carece de ser vendida. “Alguns agricultores seguraram o produto à espera de uma alta maior nos preços. A questão é que o último navio do ano já foi carregado em Paranaguá e não vai haver outro até fevereiro, provavelmente. Assim, a demanda atual é zero no porto”, conta.
O fato é que só restou o mercado interno para escoar o que sobrou de soja, mas boa parte das indústrias interrompeu suas atividades e entrou em manutenção mais cedo que o normal, devido à escassez da matéria-prima.
Na avaliação de Peres, o preço da soja disponível tende a ficar estável ou experimentar uma ligeira queda nas próximas semanas. Já o rumo das cotações da safra 2012/13 dependerá fundamentalmente do clima na América do Sul, que se encontra em plena semeadura. “Estão sendo plantadas áreas recordes em países como Brasil, Argentina e Paraguai e, se o tempo ajudar, teremos muita soja em 2013, o que tende a deprimir as cotações. O fato é que o mercado de clima chegou aqui”, completa.