Levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostra que os defensivos agrícolas usados no Brasil ainda são, no mínimo, perigosos. O primeiro relatório sobre a comercialização de agrotóxicos no país lançado pelo Ibama indica que 88% dos produtos vendidos em 2009 estavam classificados entre perigosos, muito perigosos e altamente perigosos. Os 12% restantes estavam classificados como pouco perigosos.
Apesar de todos os produtos terem algum tipo de perigo, todos estavam legalmente registrados e passaram pela análise de três ministérios – Agricultura, Saúde e Meio Ambiente – antes de serem liberados para comercialização. “Nosso objetivo é tornar pública as características dos produtos usados no Brasil e saber como esses produtos estão sendo usados”, afirma Márcio de Freitas, coordenador de avaliação e controle de substâncias químicas do Ibama.
Um dos motivos que justifica a elevada taxa de periculosidade dos defensivos usados no Brasil é a grande aplicação de herbicidas no país, em especial o glifosato, incluído na classe III (perigoso). Sozinhos, os herbicidas representaram em 2009 quase 45% das vendas totais da indústria, sendo que 52% das marcas foram classificadas como perigosas, 46% como muito perigosas e 2% como altamente perigosas.
O coordenador do Ibama reconhece, no entanto, que existe uma tendência na indústria de defensivos de procurar moléculas menos agressivas. Ele lembra, contudo, que em números de registros essa tendência ainda não aparece. Com a queda da patente de produtos mais antigos aumenta o número de pedidos de registros para formulações de genéricos.
Em novembro de 2010, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) informou ao Valor que, nos anos 60, o Brasil usava 2,1 quilos de herbicida e 1,1 quilo de inseticida por hectare. Quarenta anos depois, o uso médio de herbicida caiu para 242 gramas e o de inseticidas para 69,75 gramas por hectare.
Márcio de Freitas faz uma ponderação em relação aos riscos de cada um dos produtos. “Estamos avaliando até agora apenas o perigo do produto e não o seu risco. Uma arma de fogo é algo sempre perigoso, mas o risco de uma morte ser causada por ela é maior por alguém que anda com ela constantemente do que por quem a deixa em casa”, exemplifica Freitas.
Nos próximos relatórios, afirma o coordenador, deve haver também o cruzamento de informações sobre o uso dos defensivos por Estado com as culturas predominantes em cada um deles.