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Economia

"Não" aos EUA

País dirá "não'" se Obama insistir em novas concessões comerciais. Sem contrapartida, Brasil recusará corte adicional de tarifas de importação.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, receberá um sonoro “não” se insistir em cobrar do Brasil, durante a visita que começa amanhã, concessões adicionais para a entrada de produtos americanos no país, sem querer pagar a contrapartida.

Washington tem pressionado o Brasil para se comprometer com um nível de abertura bem maior de seu mercado, na Rodada Doha de liberalização comercial. Isso significaria corte adicional de mais de 3.200 linhas tarifárias, mais de um terço das alíquotas de produtos industriais, além do corte de 33% que o país já aceitou fazer nas tarifas aplicadas de setores vulneráveis, como automotivo, têxteis, calçados e brinquedos.

O embaixador brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, deixou claro na entidade que se a exigência americana for condicionada à conclusão da negociação global, então “atingimos o fim do jogo”, porque o país recusa a demanda americana.

De um lado, os EUA não querem dar a reciprocidade, por exemplo, na área agrícola. De outro, o Brasil alega que sua situação tem sido agravada pela “assimetria provocada pelas políticas fiscal e monetária excessivamente flexíveis em alguns países desenvolvidos”.

Azevedo reiterou na OMC que a valorização do real eliminou a proteção dada pelas tarifas sobre as importações. Maior exemplo é a “dramática” mudança na balança com os EUA: o saldo comercial de US$ 9,9 bilhões que o Brasil tinha em 2006 se transformou agora em déficit de US$ 7,8 bilhões.

O Brasil se prepara para levantar a questão cambial no Comitê de Comércio e Finanças da OMC. O alvo são as políticas que resultam em desvalorizações competitivas e que o ministro Guido Mantega vê como risco de “guerra cambial”.

Enquanto isso, o real continua a ser a moeda que mais se valorizou entre as 58 maiores economias do mundo no índice cambial do Banco Internacional de Compensações (BIS), banco dos bancos centrais. O índice, atualizado esta semana, mostra a moeda brasileira liderando o ranking da taxa de câmbio efetiva real em fevereiro. Compilado desde 1994, representa a média cambial da moeda de um país relativa a uma cesta de outras moedas ajustadas pela inflação. Se o ranking da moeda está abaixo de 100, significa que está desvalorizada e com espaço para se apreciar.

Em fevereiro, a taxa de câmbio efetiva da moeda brasileira ficou em 152,48 por unidade (foi de 152,61 em janeiro), mantendo-se como a mais alta entre todos os países monitorados pelo BIS. O yuan chinês se valorizou, passando de 118,13, em janeiro, para 120,91 em fevereiro.

Já o dólar americano baixou de novo para 85,42, comparado a 86,69 em janeiro. A rúpia da Índia também se desvalorizou, caindo no índice para 105,44, comparado a 107,16 no mês anterior. A África do Sul, país também com enormes problemas por causa de sua moeda forte, foi outro a registrar agora queda, ficando em 95,65 comparado a 100,3 em janeiro.

A expectativa é que o real continuará liderando o ranking do BIS, levando-se em conta a pressão trazida pela enxurrada de dólares que entrou no país desde janeiro. Por outro lado, dados da OMC mostram que o Brasil foi a única das maiores economias que registrou queda nas importações no quarto trimestre de 2010 em valor em relação ao trimestre anterior, apesar da persistente força do real.

As importações brasileiras em valor declinaram 3% entre outubro e dezembro comparado ao trimestre anterior, enquanto globalmente houve alta de 7%. O país foi também o único a registrar queda nas compras no grupo dos Bric: a China importou 4% a mais, a Índia 2%, a Rússia 13%.

O Brasil continua, porém, a liderar globalmente a expansão nas importações quando comparado o quarto trimestre de 2010 com o de 2009. A alta na compra de produtos estrangeiros foi de 34%, em valor, enquanto na China foi de 30%, na Índia de 2%, nos EUA de 16% e na Europa de 12%.

Por sua vez, as exportações brasileiras cresceram apenas 2% no quarto trimestre, sempre em valor, bem aquém da expansão de 17% no valor das exportações globalmente. Mas comparando com o quarto trimestre de 2009, o país continuou a liderar com expansão de 38% nas exportações. A OMC estima que o valor das exportações mundiais cresceu 22% em 2010. Mas ainda falta uma avaliação sobre os dados em volume, que são considerados mais realistas.