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Energia

Fonte limpa coloca setor de energia em destaque

Sustentada pelo consumo de álcool nos veículos e pela geração hidrelétrica, 45% da matriz energética são formados por fontes renováveis, o triplo dos países desenvolvidos.

No setor de energia, o Brasil ostenta números invejáveis em relação a outros países. Sustentada pelo consumo de álcool nos veículos e pela geração hidrelétrica, 45% da matriz energética são formados por fontes renováveis, o triplo dos países desenvolvidos. Já na matriz de geração de energia elétrica, cerca de 90% provém de fontes limpas, enquanto no mundo esse percentual é de apenas 20%. Manter esses números nas próximas décadas não será fácil, segundo destacaram especialistas reunidos no debate sobre energia, realizado na Conferência Ethos 2011.

Um primeiro desafio é o paradoxo existente no setor. Com matriz baseada em hidreletricidade, o Brasil tem um dos custos mais baixos para gerar energia, mas a conta de luz é uma das mais elevadas do mundo. Na média mundial, a tarifa está em US$ 30 MWh. Aqui, chega a US$ 60 o MWh. Em paralelo, nos últimos anos, com a ascensão social das classes C, D e E, uma grande faixa da população vem saindo das tarifas subsidiadas, ao comprar mais equipamentos eletrônicos, consumir mais energia – e gastar mais.

“Metade da conta é reflexo de encargos e tributos, que encarecem o preço final e também desestimulam a indústria, que passa a analisar investimentos produtivos em outros países”, disse Augusto Rodrigues, diretor de comunicação empresarial da CPFL Energia.

A média de consumo per capita anual no Brasil está em 2.400 kWh, abaixo da média mundial de 2.900 kWh e de 3.330 kWh no Chile ou de 15 mil kWh nos EUA. Com a expansão da renda e a inclusão social, o consumo deverá aumentar, o que traz outro desafio: a expansão da matriz de energia elétrica.

Atualmente, a capacidade de geração está em 110 mil MW, sendo que mais de 80% proveem de hidrelétricas. “Para mantermos essa presença elevada nos próximos anos, é preciso avançar na Amazônia, onde são feitas licitações caso a caso de hidrelétricas, sem uma visão integrada”, disse Pedro Bara Neto, líder da estratégia de infraestrutura da iniciativa Amazônia Viva da rede WWF, uma organização não-governamental dedicada à conservação da natureza.

Rodrigues, da CPFL, apontou outra dificuldade: hoje a ideia é que as hidrelétricas sejam construídas a fio d´água, ou seja, sem grandes reservatórios. “Como o governo tem um planejamento hidrotérmico, essa escolha exige uma energia de segurança térmica, pois sem água essas hidrelétricas param de funcionar”, diz.

Em 2006 e 2007, em função do atraso na obtenção de licenças ambientais para hidrelétricas, o governo federal contratou térmicas a gás natural e a óleo diesel. “Tivemos de investir em térmicas por segurança. Mas é bom frisar: há grande capacidade de geração a partir da biomassa de cana, que poderia ser estimulada pelo governo”, explicou Rodrigues.

Para Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace Brasil, a questão deve ser olhada de outra forma. “O modelo hidrotérmico é promovido até pela academia. As usinas de fio d´água não exigiriam a segurança das térmicas se houvesse uma matriz mais diversificada com fontes renováveis e linhas de transmissão cortando o país.”

Segundo estimativas do diretor do Instituto de Eletrotécnica da Universidade de São Paulo (USP), Ildo Sauer, até 2043, a população brasileira deve atingir 220 milhões de pessoas e o consumo per capita chegará a 5 mil kWh por ano, mais que o dobro do atual. Isso exigiria a expansão de l mil Twh por ano. Grande parte da expansão poderia ser feita com hidrelétricas, usinas de biomassa de cana e eólicas, além de investimentos em racionalização do uso dessa energia. “O potencial de eólicas é enorme, podendo chegar a 300 mil MW, mas, para deslanchar, é preciso tornar essa tecnologia mais barata”, disse.

Outro desafio do setor será decisão sobre a renovação ou licitação das concessões que vencem a entre 2015 e 2017, quando expiram concessões que abrangem 20% da geração de energia, 73 mil quilômetros de linhas de transmissão e 37 distribuidoras.

Boa parte dos contratos está nas mãos de estatais, como Cesp, Cemig e Eletrobrás. Trata-se em grande parte de ativos amortizados, que não necessitam de investimentos em expansão. O governo federal indicou que qualquer decisão irá se refletir numa queda dos preços da energia dos contratos. “O essencial é ter a melhor alternativa para ter o maior ganho dessas usinas amortizadas para a sociedade”, disse Rodrigues, que se disse favorável à licitação dos ativos.

Para Sauer, é preciso discutir a questão com cuidado. “Grandes consumidores estão de olho em como se apropriar dessa energia”, analisou. O especialista é favorável à criação de uma estatal nos moldes da empresa criada para gerenciar o pré-sal. Essa companhia faria a gestão da venda de energia e usaria os recursos, que poderiam chegar a R$ 10 bilhões anuais, em investimentos em saúde, educação e gestão ambiental.