O veterinário José Roberto Bottura está orgulhoso. Apesar de não ter uma galinha sequer, como gosta de frisar, comemora a crescente venda de ovos no Brasil. Em cinco anos, o consumo anual do brasileiro deve crescer 26,6%, passando das 120 unidades por habitante em 2007 para as 152 previstas para este ano, segundo dados da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
O avanço do consumo está diretamente ligado ao crescimento da renda do brasileiro, o que não impede que Bottura, diretor-executivo do Instituto Ovos Brasil, entidade criada em 2007 para difundir o ovo como “fonte nutricional” e incentivar seu consumo, enxergue sua contribuição no processo.
“O ovo é uma proteína de entrada. Com renda maior, aquela população que estava abaixo da linha de pobreza começou a aumentar o seu consumo. Ela ainda não tem o dinheiro para comer carne, e o ovo é um alimento mais barato”, explica Ricardo Santini, diretor de mercados da Ubabef.
O presidente do Instituto Ovos Brasil, Rogério Belzer, concorda com a análise. “O equilíbrio financeiro das famílias foi fundamental para esse resultado”, diz.
Mesmo com forte crescimento da demanda dos últimos anos, o brasileiro ainda consome pouco ovo se comparado à média per capita mundial, de 210 unidades por ano. De acordo com Rogério Belzer, o Brasil, que em 2010 chegou a 148,8 ovos por habitante, ocupa apenas a 21ª posição no ranking mundial de consumo per capita, que é liderado pelo México, com 355 unidades anuais.
Diante dessa distância, o presidente do Ovos Brasil acredita que o consumo nacional pode crescer mais, atingindo 208 ovos por habitante em 2016, conforme meta estipulada pelo instituto.
Não só o consumo, mas também a produção nacional vem crescendo. De acordo com a Ubabef, o volume produzido no país deve crescer 16,6% em cinco anos, pulando dos 25,9 bilhões de ovos em 2007 para as 30,2 bilhões de unidades estimadas para 2011. Esse volume faz do Brasil o sétimo maior produtor do mundo – a China lidera a produção global de ovos.
São Paulo é o maior produtor nacional de ovos, com 34,2% da oferta total, um volume de 9,8 bilhões de unidades de ovos em 2010. No Estado, destaca-se o município de Bastos, na região de Marília, com 55% da produção paulista.
A proeminência de Bastos, reconhecida como a capital nacional do ovo, remonta à imigração japonesa do início do século 20. Tradicionais produtores, os japoneses chegaram a Bastos incentivados pelo governo do Japão, que comprou terras na cidade para os imigrantes que estavam por vir.
Em 2011, os avicultores do país devem faturar R$ 378,2 milhões com a venda de ovos. O valor leva em consideração o preço médio entre janeiro e agosto deste ano recebido pelo produtor paulista pelo ovo tipo grande, o mais comum, que ficou em R$ 45,09 a caixa com 360 unidades, de acordo com o Instituto de Economica Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura de São Paulo.
No acumulado em 12 meses encerrado em agosto de 2011, os preços do ovo subiram 23,28%, segundo o IEA. Na avaliação de Bottura, do Instituto Ovos Brasil, a alta do alimento deve-se ao custo de produção 30% maior. “Mesmo assim, não conseguimos repassar tudo”, diz ele. No mesmo período, o milho, principal insumo da ração das aves poedeiras, acumula alta de 40,13%, conforme o indicador de preços ESALQ/BM&FBovespa.
Para Ricardo Santini, da Ubabef, o “aumento demasiado do milho” é bastante prejudicial ao produtor de ovos, que, segundo ele, “trabalha com uma margem de lucro apertadíssima”.
A alta de custos, diz Santini, ajudou a reduzir o volume de exportações brasileiras de ovos, que caiu 25% em relação ao pico histórico de 2009. Em 2010, as exportações representaram 2% da produção nacional total, de acordo com a Ubabef.
Tímida, exportação poderá crescer
Apesar de estar longe do foco principal dos produtores de ovos do Brasil, onde o mercado doméstico absorve 98% da produção, a exportação está na pauta dos avicultores e do governo, que negocia a abertura do mercado europeu. Mas, segundo Célio Porto, secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, a autorização só virá após missão da União Europeia verificar as condições sanitárias da produção brasileira e aprovar o Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC) do país.
Conforme Porto, a missão europeia esteve próxima de vir ao Brasil em 2008, mas o custo com os testes sanitários necessários para a aprovação do PNCRC inviabilizou o processo. “A Ubabef [União Brasileira de Avicultura] teria que custear a vinda da missão. Ao verificar as exigências de ajustes e comparar com a expectativa de exportações, chegou-se à conclusão que não valia a pena. Hoje, o segmento acha que vale”.
De acordo com Ricardo Santini, diretor de mercados da Ubabef, a aprovação do PNCRC pela UE alavancará as exportações não só para o mercado europeu. “Alguns países dizem: se você está habilitado pela Europa, pode vir”, afirma ele.
As exportações brasileiras de ovos atingiram seu recorde em 2009, com 579 milhões de unidades, mas vêm caindo desde então. Em 2010, foram 429 milhões. Segundo Santini, a queda refletiu uma perda de competitividade. Entre 2007 e 2009, o Brasil chegou a ganhar mercado de países afetados pela gripe aviária, mas “o câmbio valorizado permitiu que eles voltassem”, disse ele.