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Comentário

Crise europeia, financiamento e reflexos no comércio de carnes e milho - por Odacir Klein

Cadeias avícola e suinícola do Brasil são grandes consumidores de milho. Algumas preocupações vêm ocorrendo com os reflexos da crise europeia no comércio das mencionadas proteínas animais.

Não é demais lembrar que, no caso brasileiro, mais de duas terças partes da produção de milho é consumida por dois setores: avicultura e suinocultura.

Algumas preocupações vêm ocorrendo com os reflexos da crise europeia no comércio das mencionadas proteínas animais. Todos lembram dos reflexos negativos da situação gerada pelos Estados Unidos em 2008 e 2009. Bolhas oriundas de financiamentos euforicamente estimulados fizeram com que instituições financeiras sofressem sérios problemas e, descapitalizadas ou até quebradas, não contassem com recursos financeiros para garantia de atividades normais.

A crise de crédito gerou insuficiência de financiamento para o mercado internacional.

Lembro bem que, em início de 2009, estive em uma feira de alimentos em Dubai, nos Emirados Árabes. Era possível constatar que não havia falta de demanda, mas os importadores não contavam com o necessário financiamento pelo que estavam vendendo estoques, não promovendo novas compras. Somente poderiam repô-las quando recebessem as receitas de suas vendas, criando um hiato entre elas e a possibilidade de liquidez para aquisição de mercadorias.

Alguns temem que a crise europeia possa originar falta de financiamento, com isto dificultando os negócios internacionais.

No caso dos Estados Unidos, os bancos quebraram ou descapitalizaram pela impossibilidade de devedores privados honrarem seus compromissos. Na Europa, é possível a ocorrência de embaraços para os bancos – que carregam grande parcela de títulos públicos de países orçamentariamente em dificuldades – terem condições de manutenção dos programas de financiamento às transações internacionais em diversos países.

Se isto viesse a ocorrer, poderíamos assistir à situação assemelhada à da crise americana.

No caso do Brasil, grande exportador de carnes, o que me parece necessária é atenção, desde logo, para que não haja surpresa.

Não há dúvidas de que a demanda por alimentos continuará. A população mundial não deixará de comer. Se houver falta de recursos para financiamento dos importadores nos diversos países, visando à reposição de estoques, temos todas as condições de garantir financiamento aos exportadores, suprindo assim a deficiência.

Somos um país com grandes reservas internacionais, que podem ser usadas para atingir mencionado objetivo: financiamento de exportações.

Poderão alegar dificuldades de ordem normativa ou burocrática. Isto não pode ser impeditivo para que, como contamos com os recursos necessários, tenhamos condições de desobstruir o trajeto, visando à chegada de nossos produtos aos mercados externos.

No mercado interno, embora com menor crescimento do PIB, não há previsão de queda na demanda.

No entanto, prevenir é importante. Convém que o poder público não descuide e esteja preparado para facilitar nossas exportações, assim garantindo empregos e renda.

Eventuais embaraços à exportação de carnes terão reflexos negativos em toda cadeia produtiva do milho. Temos tudo para evitar que isto ocorra.

Por Odacir Klein, advogado e profissional da área contábil. É sócio da Klein & Associados e coordenador do Fórum Nacional do Milho.
www.forumdomilho.com.br