Um grupo de cientistas norte-americanos e japoneses anunciou o sequenciamento completo do genoma da soja. O estudo, que será publicado nesta quinta-feira, 14, na revista Nature, deverá desencadear diversos avanços na manipulação genética da planta.
A soja, uma das mais importantes fontes de proteína e óleo na agricultura global, se torna a primeira espécie de leguminosa a ter seu genoma sequenciado por completo.
O sequenciamento prevê a existência de 46.430 genes codificadores de proteínas, e permitirá o aperfeiçoamento da produção e o desenvolvimento de variedades mais resistentes a doenças e pragas, dizem pesquisadores. Segundo os cientistas, será possível acrescentar características associadas aos aspectos nutricionais, como fazer com que a soja seja melhor digerida pelo homem e pelos animais.
O sequenciamento também possibilitará aos cientistas uma melhor compreensão da capacidade da planta em transformar o dióxido de carbono (CO2), água, luz solar, nitrogênio e minerais em energia, proteínas e nutrientes para consumo do homem e animais.
O trabalho também deverá se tornar referência para a pesquisa genética em outras 20 mil variedades de leguminosas.
“Vamos conhecer melhor as condições de integração e quais aspectos podem afetar as outras espécies, tais como o rendimento”, explica o pesquisador norte-americano Scott Jackson, um dos coordenadores do projeto de sequenciamento do genoma da soja, em entrevista por e-mail ao estadao.com.br.
Segundo Jackson, que comanda o Departamento de Agronomia da Universidade Purdue (Indiana), o meio ambiente será outro beneficiado. “Será possível desenvolver uma soja mais resistente às doenças, o que reduzirá o uso de produtos agroquímicos e, consequentemente, a agressão ao solo.”
Impacto no Brasil
O anúncio do sequenciamento completo do genoma da soja deverá ter um impacto no Brasil, o segundo maior produtor dessa leguminosa no mundo.
“Poderemos expandir ainda mais a manipulação genética da soja com outras características que possam agregar valor à cultura. Fato que tem implicação direta na competitividade dessa importante commodity”, afirma o geneticista e engenheiro agrônomo Elíbio Rech, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Para o pesquisador brasileiro, a possibilidade de otimizar a produção da soja será um dos principais benefícios que o sequenciamento trará. “O aumento da população nos próximos 30 anos deverá demandar uma duplicação na produção de alimentos. Fato que somente poderá ser alcançado com o uso da genética molecular avançada que inclui o conhecimento sobre os genomas”, afirma Rech. “São aspectos que vão ao encontro de temas relevantes para nosso sociedade como segurança alimentar, disponibilidade de água, energia e aquecimento global”, completa.
Segundo estimativas da consultoria Céleres, a porção de soja transgênica na produção brasileira deve aumentar de 65% na safra passada para 71% na safra 2009-2010. A soja transgênica é plantada legalmente no País desde 2003 e sua manipulação genética tem sido monitorada.
“Os processos de cruzamento e transgenia efetuados na soja têm produzido linhagens seguras”, diz Rech.