O grupo argentino Los Grobo iniciou o processo de unificação de suas operações de grãos no Brasil. Presente nesse mercado desde o ano passado, o conglomerado concentrará os negócios na Ceagro, que passará a ser a sua marca no País. Fortalecida com a incorporação de outras duas frentes de atividades, a Ceagro deverá faturar aproximadamente US$ 360 milhões em 2010.
Com a reestruturação e um investimento não revelado, considerado “pouco significativo” pelo grupo, a Los Grobo Agro do Brasil tornou-se a principal acionista da Ceagro. A fatia inicial de 35%, adquirida em meados do ano passado, foi ampliada para 59,5%. O paranaense Paulo Alberto Fachin, que fundou a Ceagro em 1994, fica com os demais 40,5% e segue na presidência da empresa.
A Los Grobo Agro do Brasil tem 66,6% das ações nas mãos da holding Los Grobo, na qual a família Grobocopatel é majoritária com 76,64%. A Vinci Partners, por meio do fundo PCP, dos ex-sócios do Banco Pactual, tem 21,56% da holding e 33,3% da Los Grobo Agro do Brasil.
Até agora a Ceagro produz e comercializa grãos, sobretudo soja, no cerrado dos Estados de Maranhão, Piauí e Tocantins, região que se tornou conhecida como “Mapito” e que vem sendo alvo de fortes investimentos de grandes produtores e agroindústrias. Com a reestruturação, incorpora atividades nos Estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia desenvolvidas a partir da aquisição dos ativos de originação da Sementes Selecta, em dezembro passado.
A “nova” Ceagro passa a administrar uma produção agrícola distribuída em cerca de 55 mil hectares, uma rede de 14 armazéns com capacidade estática total superior a 500 mil toneladas, uma unidade de beneficiamento de sementes em Goiás e uma unidade de soja para ração de aves localizada no mesmo Estado.
“Em um primeiro momento, a Ceagro passa a ser uma holding operacional”, diz Antonio Neto, principal executivo da área financeira (CFO) do grupo Los Grobo. Ele realça que, apesar de atuar no mercado de grãos do Brasil apenas desde 2008, o país representará em 2010 o maior faturamento do grupo, que também está no Paraguai e no Uruguai.
Como informou o Valor na semana passada, as vendas anuais do Los Grobo são da ordem de US$ 700 milhões, e o objetivo é chegar a US$ 1,3 bilhão na safra 2012/13. “O Brasil é efetivamente nosso vetor de crescimento”, afirma o CFO. Há metas fixadas para o mercado brasileiro, mas elas poderão ser ajustadas em decorrência da reestruturação.
Na recente entrevista que concedeu a este jornal, o argentino Gustavo Grobocopatel, líder do grupo, informou que a intenção era ampliar a área plantada no país para 150 mil hectares até 2012/13. A produção de grãos passaria de 800 mil toneladas no ciclo atual (2009/10) para 1,4 milhão e a venda de insumos iria de US$ 50 milhões para US$ 100 milhões.
Na estratégia do Los Grobo, a troca de insumos pela produção futura de soja é vital na originação. O grupo não tem unidades de processamento do grão no país, mas poderá contar com uma em Minas caso decida exercer a opção de adquirir até 90% do capital da Selecta, que vence em 2011. Ainda não há uma decisão tomada nesse sentido. Na Argentina, a estrutura industrial do Los Grobo envolve apenas moinhos de trigo.
Do volume de soja movimentado pelo grupo no Brasil em 2008/09, 60% foi destinado à exportação e 40% ao mercado interno. Conforme Fachin, a proporção deve ser mantida nesta temporada 2009/10.