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Meio Ambiente

Campo investe na certificação

Selo socioambiental já é quase uma exigência para produtores interessados em vender para o mercado externo.

Produtores que já atendem ao padrão de qualidade de mercados exigentes como Europa, Ásia e Estados Unidos podem ter na certificação socioambiental um novo diferencial para exportar.

Esse tipo de certificação, que atesta o cumprimento de normas sociais e ambientais no processo de produção, ainda é pouco conhecido no Brasil, mas tem demanda crescente em países onde o consumidor busca e valoriza artigos que tenham sido produzidos respeitando esses princípios. “A certificação socioambiental na agricultura é recente no País, tem sido uma demanda dos importadores e pode até se tornar condição para exportar”, diz o agrônomo Lineu Siqueira Júnior, gerente-geral de certificação do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

O Imaflora, representante no País da Rede de Agricultura Sustentável (RAS), é a entidade que concede o selo Rainforest Alliance, reconhecido no mercado internacional. O processo de certificação baseia-se em dez princípios voltados à produção agrícola sustentável (Veja quadro).

A busca pela certificação tem crescido no País. Em 2004, apenas dois empreendimentos tinham a certificação Rainforest Alliance. Em 2009, o Imaflora totalizou 68 empreendimentos certificados pela RAS. Em 2008, segundo o Imaflora, eram pouco mais de 70 mil hectares certificados. Hoje, são quase 100 mil hectares, sendo 91.500 hectares só com café. O restante abriga chá, cacau, laranja e palmito.

“No café, a certificação pegou”, diz o agrônomo Edson Roberto Teramoto, do Imaflora. “Tanto que alguns produtores recebem de 10% a 15% a mais pela saca certificada.” É o caso da Cambuhy Agrícola, em Matão (SP). “A certificação agrega entre R$ 20 e R$ 30 a mais pela saca”, diz o diretor-geral da Cambuhy, José Luiz Amaro Rodrigues. De uma produção média de 7 mil sacas/ano, a Cambuhy exporta 100% ? 80% para a Holanda e 20% para o Japão.

Rodrigues explica que a certificação foi uma demanda dos importadores. “Eles perguntaram se tínhamos o selo Rainforest Alliance e fomos atrás.” De um total de 14 mil hectares, a Cambuhy tem 3.500 hectares de reserva legal e 821 hectares de áreas de preservação permanente. Rodrigues diz que a fazenda precisou mudar pouca coisa para obter a certificação, pois muitos dos princípios e critérios socioambientais exigidos já eram seguidos.

“Criamos fichas de rastreabilidade para monitorar o processo, do plantio até o armazenamento, passando pela colheita, lavadores, terreiros, secadores e tulha”, diz o supervisor agrícola da área de café da fazenda, Miguel Gilmar Donegá.

Cooperativa. Em Monte Carmelo (MG), a busca pela certificação socioambiental de propriedades de cooperados foi iniciativa da Cooperativa Agrícola de Monte Carmelo (Copermonte), diz o gerente técnico Eduardo Mesquita Bueno. Há um ano, cerca de 2 mil hectares, de 11 produtores, foram certificados. “Mercados como Japão, EUA e Europa exigem rastreabilidade, querem saber onde e como foi produzido determinado café”, diz Bueno. “A certificação também é uma ferramenta de gestão eficiente, pois tudo tem de ser documentado.”

Segundo o diretor-presidente da Copermonte, Creuzo Takahashi, com a certificação, o ágio sobre a saca já chegou a R$ 30. Takahashi diz que outros cooperados estão animados com a possibilidade de obter o selo. “Por enquanto, 20% da produção é certificada, de um total de 350 mil sacas e 300 cooperados.” Para estimular outros produtores, a cooperativa paga a primeira auditoria e oferece consultoria gratuita.

Para o agrônomo Felipe Kiyohara, um dos responsáveis pela certificação das fazendas de chá da Yamatea Indústria e Exportação Ltda., em Registro (SP), o selo socioambiental também se tornou importante ferramenta de gestão. “O que, antes da certificação, sabíamos só de cabeça, agora está tudo registrado.”

A Yamatea, que tem três fazendas certificadas, em 660 hectares, sendo 250 hectares plantados, foi auditada no início do ano e o selo deve sair este mês. A certificação foi obtida em grupo, com outra empresa de chá, a Hélio Amaya & Cia. Ltda., também em Registro.

Pequenos. As duas empresas, que têm áreas próprias e trabalham com pequenos produtores, são as únicas fábricas que estão produzindo chá preto no Vale do Ribeira, num total de 2 mil toneladas/ano, 90% exportados. Kiyohara conta que pode conseguir US$ 0,10 a mais por quilo de chá certificado. “Sabemos que o produtor argentino de chá certificado está contente, mas como o nosso sistema de produção é diferente do deles, esse valor é pouco. Vamos conversar com a indústria e chegar a um acordo.” Ele diz que a empresa se profissionalizou e que mudou a forma de gestão. A área de produção também teve que diminuir em favor do ambiente. Segundo o agrônomo, 30 hectares deixaram de ser cultivados para se tornar áreas de preservação.