Cerceada por duras barreiras sanitárias da China continental, a carne bovina brasileira encontrou em Hong Kong um caminho mais livre -e ilegal – para chegar aos pratos da segunda maior economia mundial.
Com uma população de 7 milhões de habitantes, Hong Kong é o quarto maior comprador de carne bovina brasileira. Neste ano, foram 77,5 mil toneladas nos primeiros dez meses, um negócio de US$ 206,6 milhões.
O próximo país do ranking com uma população equivalente é Israel: 28,8 mil toneladas (9º lugar), vendidas a US$ 90,9 milhões.
Já a China, que autoriza importações de apenas quatro frigoríficos brasileiros (outros 14 estão em análise), importou apenas 1.279 toneladas (US$ 3,38 milhões) até outubro deste ano, apesar da sua população de 1,4 bilhão.
Os números foram compilados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
Mercados Distintos
Embora Hong Kong pertença à China, a região tem um regime administrativo diferenciado, resultado do acordo com o Reino Unido para a sua transferência, realizada em 1997. Na prática, portanto, são dois mercados distintos, com regras próprias.
Representantes do setor ouvidos pela Folha admitem que a carne é repassada pela China, mas que o contrabando não tem participação direta de empresas brasileiras. O ideal, afirmam, é a maior abertura do mercado chinês.
Parte dessa carne acaba apreendida pelo país. Em 10 de setembro, autoridades alfandegárias de Guangzhou, a 170 km de Hong Kong, recolheram “milhares” de toneladas de carne vindas do Brasil, da Polônia e dos EUA, informou o site de notícias “China News”.
A reportagem da Folha telefonou para o Escritório Anticontrabando da província de Guangdong, onde está Guangzhou, entretanto, a resposta foi a de que o caso estava “sob investigação” e que eles não podiam dar informações adicionais.
Em Pequim, a Administração-Geral de Supervisão de Qualidade, Supervisão e Quarentena, órgão máximo da China para o controle de importação de carnes, ignorou pedidos de entrevista feitos por telefone e fax sobre o contrabando de carne brasileira na Ásia.
Há anos que o Brasil tenta ampliar as vendas de carne bovina, suína e de aves para a China, mas o processo tem sido bastante lento.
Uma missão chinesa esteve no Brasil na semana passada para avaliar a liberação das exportações de carne suína brasileira para a China.
Os chineses, que estão visitando 13 frigoríficos, devem aprovar exportações por 25 unidades brasileiras. As condições de saúde animal já foram avaliadas e aprovadas, restando agora a habilitação das unidades frigoríficas. Atualmente, o país não pode exportar esse tipo de carne para a China.
No caso de aves, o Brasil tem 25 frigoríficos habilitados e 41 sob análise, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.