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Sem soja ilegal

Com a utilização de tecnologia avançada, Brasil quer zerar cultivo ilegal de soja nos próximos três anos, de acordo com a Abiove.

Sem soja ilegal

Com a utilização de tecnologia avançada, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) espera em três anos zerar o cultivo de soja no bioma amazônico. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deve aplicar no levantamento da moratória da soja uma ferramenta desenvolvida especialmente para detectar a presença de culturas agrícolas em áreas desmatadas. “Daqui três anos, espero divulgar o fim da moratória da soja”, afirma Carlo Lovatelli, presidente da Abiove.

Para Rafael Ribeiro de Lima Filho, zootecnista e analista da Scot Consultoria, o aumento de recursos para fiscalização vai permitir que a estatística da soja no bioma também se revele maior.

No entanto, segundo o analista, o avanço na produção de grãos no Brasil deve ocorrer na nova fronteira agrícola baiana e nas regiões do Mapito, que compreendem áreas do Maranhão, Piauí e Tocantins. “Não é para o lado da Amazônia que as culturas de grãos vão crescer”, diz.

O último estudo executado na safra 2009/2010 pela moratória da soja mostra que em uma área de 302.149 hectares foram identificados 6,3 mil hectares cultivados ilegalmente com soja. Ainda de acordo com o levantamento, 75 propriedades foram identificadas em áreas ilegais, de 12 no ano passado.

O uso da nova tecnologia do Inpe permitiu ampliar a área e o número de polígonos monitorados. Todos os polígonos com mais de 25 hectares de desmatamento foram incluídos. A partir das áreas selecionadas com indícios de cultura agrícola feitas por imagens via satélite, a Globalsat sobrevoou e realizou visitas às propriedades rurais para confirmar a presença de plantio de soja.

Dados do monitoramento também mostram que no primeiro ano, em uma área de 49,8 mil hectares nenhum plantio de soja foi detectado. No segundo ano, na safra 2008/2009, 1,4 mil hectares da oleaginosa apareceram após serem percorridos 157,9 mil hectares.

Dentro desse cenário, segundo Ricardo Arioli, presidente da comissão de sustentabilidade da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), o volume de soja mato-grossense na floresta é insignificante. “Apenas 0,2% da soja do estado está na floresta. 99,8% da produção está no cerrado”, afirma Arioli, acrescentando que a Aprosoja só apoia a moratória que se refere a áreas convertidas ilegalmente. “É lamentável que o agricultor que recebeu licença para produzir na reserva legal seja barrado comercialmente”, pondera.

Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, concorda com Arioli, no que se refere ao cumprimento da lei: “Quem desmatou, por exemplo, 50%, quando era permitido, cumpriu a lei. A lei brasileira não retroage para penalizar. É preciso refletir todos os aspectos”, observa.

Para Arioli, o fato de o País liberar uma abertura de área e em seguida desconsiderar no mercado esse produtor acaba criando uma barreira não tarifária aos agricultores brasileiros, para o exterior. “Mesmo com a moratória, não recebemos nenhuma reclamação de produtor que não está conseguindo vender”, reitera.

De acordo com Paulo Adário, diretor da campanha amazônica do Greenpeace, a soja cultivada ilegalmente na Amazônia acaba escoada regionalmente ou exportada para a China.

Para o analista da Scot, a moratória da soja surgiu para fazer peso no mercado internacional.

Antes da cerimônia de renovação de mais um ano da moratória da soja firmada na quinta-feira(8) entre a Abiove e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) e seus associados, apresentada para a imprensa nacional, o grupo de trabalho da moratória recebeu representantes, especialmente da Europa. A China não participou do evento. “A moratória da soja consolida a imagem do Brasil lá fora”, afirma Carlo Lovatelli.

Recuperação

De acordo com a ministra, e “em números conservadores”, o déficit da reserva legal do Brasil de 20 milhões de hectares custaria R$ 100 bilhões para ser recuperado. “O custo médio para recuperar um hectare é de R$ 5 mil. Quem vai financiar?”, questiona a ministra do Meio Ambiente.