A recuperação da produção industrial é a variável chave para o crescimento econômico do país este ano, avaliam economistas. A crise de crédito que se abateu sobre o mundo, a partir de setembro do ano passado, afetou diretamente a produção das fábricas, inclusive nos países emergentes. As projeções do Bradesco e do WestLB sobre o desempenho da indústria brasileira no ano são de queda entre 3,5% a 4%, influenciada por corte nos investimentos e retração das exportações.
No cenário que desenha para 2009, Roberto Padovani, estrategista do WestLB, projeta queda de 4% para a produção industrial e uma taxa negativa de 0,2% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2009. Para o economista é a indústria que vai puxar o PIB para baixo, por causa do tranco que levou com a crise, que restringiu o crédito e aumentou a aversão ao risco.
Ele estima uma retração de 4,4% para o PIB do primeiro trimestre ante o mesmo período do ano passado e de menos 3% na comparação com o quarto trimestre de 2008, com a indústria caindo 15% nos primeiros três meses em relação ao início do ano passado.
Octávio de Barros, do Bradesco, trabalha com um recuo de 3,5% na produção física da indústria em 2009. O que está influindo negativamente na produção industrial é a fraqueza das exportações, avalia. Desde a eclosão da crise até fevereiro, as exportações caíram em média 20% ao mês no ano contra ano. Para Barros, esse vetor tem sido um dos maiores responsáveis pelo comportamento negativo da indústria este ano, enquanto as vendas do varejo permanecem em ascensão.
Para março, a previsão dos analistas do Bradesco é um recuo de 10% da produção física da indústria ante março de 2008, com alta de 0,7% na margem, encerrando o primeiro trimestre com queda de 13,9%. Para terminar o ano com uma queda de apenas 3,5% o cenário do Bradesco contempla uma considerável aceleração da produção industrial nos próximos trimestres, liderada pela demanda doméstica. Nos cálculos do banco, a indústria terá que subir, mensalmente, de abril a dezembro, 2,6%.
A retomada da indústria se dará pela normalização dos estoques e recuperação do volume exportado, espera Barros. Os números estimados por Padovani também apontam trajetória de recuperação lenta da economia até dezembro. “O que é uma queda da indústria hoje na média de 16% (janeiro a março) se transforma numa queda de 4% até dezembro e uma contração do PIB de 4,4% no primeiro trimestre encolhe para menos 0,2%”, destaca o economista.
Ele aponta como a variável chave para melhoria dessa conjuntura a questão bancária dos Estados Unidos. Saber se os bancos americanos vão quebrar ou não é importante. “Se os bancos americanos não recuperarem a capacidade de conceder crédito, a economia americana trava e bloqueia o crescimento mundial por conta do comércio e das expectativas ruins que retraem investimentos.”
A intrigante disparidade entre dados do comércio e da indústria é avaliada pelo economista como consequência da crise do crédito. “Primeiro, a indústria sofre. Já o desempenho do comércio depende basicamente de inflação e do emprego, que ainda não chegaram ao pior momento.” Ele espera uma piora no mercado de trabalho a partir do segundo trimestre. Mas acredita que o impacto no comércio será atenuado pela tendência de queda da inflação, que ajuda a preservar o poder aquisitivo. “A queda do juro também ajuda.”