A queda de cerca de 30% nas exportações gaúchas durante o primeiro trimestre do ano em relação a igual período de 2008 está se refletindo no setor de transportes internacionais, com queda drástica no número de viagens para os países vizinhos.
A Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI) estima que, de novembro até agora, cerca de 3 mil pessoas ligadas ao setor perderam o emprego no Estado. A Receita Federal de Uruguaiana – município que abriga o maior porto seco da América Latina e principal porta de saída de caminhões rumo ao Mercosul – apontou queda de 37,4% no número de caminhões que cruzaram a ponte internacional para a Argentina nos dois primeiros meses do ano, comparado a igual período de 2008. Em Uruguaiana, 32,5% do PIB do município provém do comércio exterior. De acordo com o presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado, Lauri Kotz, a crise no transporte de cargas atinge diretamente os despachantes.
“O momento é grave, muitas empresas diminuíram o número de funcionários. Mas temos esperança que a situação melhore a partir de maio se o BNDES financiar as compras da Argentina, principal cliente dos produtos brasileiros”, afirma Kotz.
Exemplo do impacto da crise sobre o setor é a ausência de cargas em plena safra de arroz, cebola e alho.
Sem frete para a Argentina, renda de transportador cai
Para a assessora de assuntos internacionais da Cooperativa dos Transportadores de Cargas de Uruguaiana, Gladis Vinci, a situação dos 210 associados é crítica. Os caminhões chegam a ficar até 15 dias parados no pátio sem conseguir frete.
“Quando tem carga para ir à Argentina, não tem para o retorno, o que encarece muito a viagem. Hoje, precisamos colocar um caminhão colado no outro aqui no pátio para conseguir acomodar todos os veículos. É assustador”, lamenta Gladis.
Caminhoneiro há 40 anos, Mário Lemos Pereira, 62 anos, nunca havia passado por uma situação semelhante. Este ano, ele não fez nenhuma viagem para o país vizinho. “Para a Argentina, apesar da burocracia, ganhávamos um pouco mais. Sem os fretes de lá, foi preciso aumentar as viagens aqui dentro, ficar mais tempo longe da família e controlar o orçamento em casa. Consigo pagar as contas, mas no banco ando no vermelho”, diz o motorista, casado e com dois filhos.
Para o vice-presidente da ABTI, José Carlos Becker, não há sinais de que a situação vá melhorar até o final do primeiro semestre. Nos próximos dias, a entidade participa de reunião em Brasília para cobrar do governo federal incentivos ao setor. “Até agora, o governo fomentou a importação e exportação, mas especificamente para o ramo de transportes internacionais não houve nenhum incentivo. Vamos em busca disso”, assegura Becker.