O maior uso das hidrovias para o transporte de produtos, em especial da safra agrícola, pode ajudar a reduzir as emissões de gases do efeito estufa no Brasil. Levantamento da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) mostra que existe potencial para reduzir pela metade, em menos de uma década, as emissões de dióxido de carbono (CO2) no transporte da safra de grãos por meio de uma maior participação das hidrovias na matriz de transporte. Para atingir essa meta, serão necessários investimentos estimados em R$ 7,6 bilhões na construção de eclusas, dragagem e obras capazes de ampliar a navegabilidade dos rios.
Em 2005, o modal aquaviário – incluindo navegação de interior por hidrovias e cabotagem, na costa brasileira – representava 13% da matriz de transporte do País, percentual que poderá mais que dobrar e chegar a 29% em 2025, segundo o Plano Nacional de Logística de Transportes (PNLT), elaborado pelos ministérios dos Transportes e da Defesa. Na atual safra devem ser movimentadas 6,5 milhões de toneladas de grãos via hidrovias, algo como 4,79% da produção brasileira de grãos de 140 milhões de toneladas, segundo dados da Antaq.
Sem novos investimentos, a movimentação de grãos pelas hidrovias cresceria pouco, situando-se em 8,6 milhões de toneladas na safra 2018/19, de acordo com as projeções da agência. Mas se houver investimentos públicos, o volume de grãos transportado via hidrovia poderia saltar para 51,2 milhões de toneladas na safra 2018/19, o equivalente a 28,44% de uma safra potencial de 180 milhões de toneladas. São mais 42,6 milhões de toneladas em relação a um cenário sem investimentos na malha hidroviária, diz o diretor da Antaq Tiago Lima.
Na terça-feira, Lima vai falar sobre o potencial de desenvolvimento das hidrovias no Brasil e sobre a contribuição desse meio de transporte para reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa em painel da conferência do clima das Nações Unidas (ONU), em Copenhague, na Dinamarca. Lima vai apresentar os dados sobre o sistema hidroviário no chamado Espaço Brasil, destinado a apresentações da delegação brasileira.
Os cálculos da Antaq indicam que ao movimentar 42,6 milhões de toneladas de grãos via hidrovia seria possível reduzir as emissões de CO2 em 56% na safra 2018/19. A conta considera que para transportar esse volume de grãos via rodoviária os caminhões percorreriam, em média, mil quilômetros até os portos com a emissão de 6,9 milhões de quilos de CO2. Já para movimentar a mesma quantidade de grãos por meio de hidrovias a emissão seria de 3,1 milhões de quilos de CO2, levando-se em conta a necessidade de transportar a safra, primeiro via caminhão, em trecho médio de 200 quilômetros, e depois, via rios, por mais 1,2 mil quilômetros, em média.
Com a hidrovia, o volume de emissões de CO2 ficaria, portanto, em 3,8 milhões de quilos na safra 2018/19, 56% a menos do que na rodovia. O plano depende, em grande medida, da garantia de investimentos estimados em R$ 7,6 bilhões para um conjunto de hidrovias de norte a sul do país. Os investimentos consideram a construção, com recursos do orçamento da União, de eclusas, obras de dragagem e derrocagens (retiradas de pedras) em diferentes hidrovias. Na malha dos rios Madeira-Guaporé-Mamoré o valor estimado dos investimentos é de R$ 1 bilhão, o que permitiria aumentar a navegação em mais de mil quilômetros. Hoje a hidrovia transporta 3,8 milhões de toneladas e com os investimentos a capacidade de transporte da safra agrícola poderia chegar a 10 milhões de toneladas.
Outro projeto importante é o da hidrovia Teles Pires-Tapajós, com investimentos estimados em R$ 2,5 bilhões. As obras permitiram aumentar a navegação em 1,2 mil quilômetros e a movimentação de grãos, atualmente de cerca de 400 mil toneladas a cada safra, seria ampliada. A capacidade de transporte de grãos passaria para 12 milhões de toneladas. No Araguaia-Tocantins são previstos mais R$ 1,1 bilhão em investimentos. A hidrovia, que hoje não movimenta grãos, passaria a ter capacidade de transporte de 6 milhões de toneladas de produtos agrícolas. No Tietê-Paraná, que movimenta hoje cerca de 2 milhões de toneladas, a capacidade de transporte de grãos poderia passar para 10 milhões de toneladas a partir de investimentos previstos de aproximadamente R$ 2,5 bilhões, projeta a Antaq.