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Embrapa na África

<p>Embrapa ampliará atuação em países da África em 2010. Objetivo é atender pedidos de transferência de tecnologias de produção de commodities agrícolas.</p>

Responsável por sete representações científicas no exterior, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vai ampliar sua atuação na África em 2010. Sob orientação de diretrizes políticas do Itamaraty, a estatal terá dois novos escritórios no continente para atender à avalanche de pedidos de transferência de tecnologias de produção de alimentos e commodities criadas no Brasil.

Referência internacional na agropecuária tropical, a empresa já desenvolve projetos de US$ 12,8 milhões em oito países africanos, mantendo quatro pesquisadores na região ao custo individual de US$ 100 mil anuais. A empresa tem outros 14 funcionários espalhados por EUA, França, Holanda, Reino Unido, Coreia do Sul e Venezuela. E prepara o envio de mais dois pesquisadores à Embrapa Américas, cuja sede ficará no Panamá.

De 1998 para cá, a estatal engordou em 20% seu banco de materiais genéticos com a estratégia, elevou suas receitas com royalties e atraiu investimentos externos para novas pesquisas no Brasil. Agora, poderá usar a África como um “campo experimental” e fonte de biodiversidade complementar para as pesquisas realizadas no país.

“Podemos fazer um resgate genético cujo valor é valiosíssimo, imensurável”, diz o coordenador-geral dos projetos, o pesquisador Alberto Santana. Alguns exemplos são uma variedade de tomate naturalmente resistente a pragas e doenças que devastam lavouras no Brasil, uma batata com alto teor de proteína e um tipo de mandioca imune a viroses. “Vamos coletar e pesquisar essa biodiversidade. E ainda temos um Brasil inteiro para plantar lá”.

A ampliação das operações na África, a partir de março, inaugura as duas primeiras experiências de cooperação trilateral, com financiamento conjunto do Brasil e dos governos do Japão e dos Estados Unidos. Em Moçambique, tocará um projeto de US$ 10,7 milhões com a agência americana de desenvolvimento Usaid.

O objetivo será revigorar as instituições locais de pesquisa, adaptar sementes ao solo e clima da região, conservar recursos naturais e treinar cientistas do país. Em três anos, devem ser beneficiados 3,5 milhões de produtores familiares e consolidados o programa de garantia da segurança alimentar moçambicana em milho, feijão, arroz e mandioca.

Apenas 5% dos 5 milhões de hectares cultivados têm alguma tecnologia, mas a produtividade ainda é muito baixa. Quase tudo é importado, mas o potencial de produção poderia alcançar 39 milhões de hectares. Em 2011, deve ser introduzida a genética bovina brasileira no rebanho moçambicano. Até junho de 2010, tudo deve estar pronto para a “decolagem” dos planos elaborados por 20 pesquisadores brasileiros.

Em parceria com a agência de cooperação japonesa JICA, a Embrapa adaptará cultivares de soja e milho às savanas de Moçambique, como fez na região do Cerrado brasileiro na década de 1970. O projeto de dez anos, estimado em US$ 500 milhões, renderá royalties pelas cultivares da estatal e atenderá aos interesses japoneses de garantir abastecimento de soja a baixo custo. Três bases científicas serão montadas em Nampula, Chimoio e Mutuali. Estima-se um potencial de 3 milhões de hectares para a soja no chamado “Corredor de Nacala”, região de Cerrado com boa logística de exportação. Os japoneses já começaram a recuperar rodovias, ferrovia e o porto de Nacala.

A partir de Bamako, capital do Mali, a empresa tocará um projeto de cooperação bilateral para melhoria do algodão do grupo de países conhecido como “Cotton 4”, composto por Mali, Benin, Burkina Faso e Chade.

Os governos desses países terão US$ 4 milhões da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), um braço do Itamaraty, para ações de adaptação de sementes às savanas africanas, recuperação da qualidade dos solos, introdução de técnicas de controle de pragas e doenças, além da construção de laboratórios de pesquisa e treinamento na região. Os países do “Cotton 4” têm 30% das exportações atreladas às vendas do algodão.

A estratégia “macro” da Embrapa é consolidar sua imagem global como referência na área e garantir acesso a materiais genéticos e à biodiversidade africanas, consideradas fundamentais para melhorar a qualidade das lavouras e das raças animais brasileiras. 

O movimento aprofunda as relações “Sul-Sul” do governo Lula, ampliando o papel da Embrapa nessa aproximação diplomática, política e comercial com governos da África. Além disso, a grife Embrapa pavimenta o caminho para exportações de um “pacote tecnológico” composto por sementes, fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamento fornecidos por empresas brasileiras.

Os pesquisadores da Embrapa já visitaram 19 dos 53 países africanos. Identificaram 35 projetos em 16 deles. Nove estão em execução em Angola, Cabo Verde, Senegal, além de Moçambique e os países do “Cotton 4”. Outros 26 estão em negociação – 16 deles em fase final, orçados em US$ 3,4 milhões. “Ainda estamos aprendendo o que é a África”, resume Alberto Santana.