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Economia

Queixas contra o real forte

<p>Setor agrícola experimenta a queda da remuneração. Preços das exportações caíram 11% em relação a setembro de 2008.</p>

O câmbio deixou de ser um problema apenas da indústria e os produtores rurais se juntaram ao coro de reclamações contra o real forte. Sem a ajuda dos preços internacionais recordes de antes da crise, a valorização da moeda prejudica a rentabilidade das exportações agrícolas. Depois de três anos de bonança, o setor agropecuário experimenta queda da remuneração em moeda local. Os preços em reais das exportações agrícolas cederam 14,5% entre junho e setembro, diz o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Em relação a setembro de 2008, antes da crise, a queda é de 11%.

O câmbio anulou os ganhos da recente recuperação das commodities, que voltaram a subir com o início da retomada da economia global. Enquanto os preços em dólares das exportações agrícolas avançaram 6,3% no terceiro trimestre, o real se valorizou 19,6% em relação as moedas dos principais parceiros do agronegócio.

Estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que, se o câmbio ceder abaixo de R$ 1,60, muitos setores agrícolas “”ficam no vermelho””. O câmbio limite, que zera a margem de lucro, está, por exemplo, em R$ 1,71 para os exportadores de frango. “Se o agronegócio, que é a menina dos olhos, está nessa situação, imagine o resto”. disse o diretor de comércio exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca. O setor agrícola garante o superávit da balança comercial.

O impacto do real forte na agricultura é bem menos danoso que na indústria. Cálculo preliminar da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) aponta que a rentabilidade das exportações da agricultura e da pecuária caiu 24% em outubro ante outubro de 2008 e voltou para o patamar do início do ano passado. A rentabilidade das vendas externas da indústria amarga o pior desempenho desde 1985. “No curto prazo, o prejuízo é razoável, mas a agricultura só perdeu os ganhos excepcionais da véspera da crise”, disse o economista da Funcex, Fernando Ribeiro.

O setor agrícola só começou a sentir o peso do câmbio no terceiro trimestre. Quando a crise explodiu, as commodities caíram, mas o real se desvalorizou. Antes da turbulência, o câmbio estava num patamar parecido com o atual, mas os preços dos alimentos viviam uma bolha. Entre setembro de 2007 e setembro de 2008, os preços externos das exportações agrícolas subiram 33%, e, apesar da alta de 11% do real, os produtores tiveram ganho de 18,4% em reais. “Os preços estavam nas nuvens, o que corrige qualquer câmbio”, disse o presidente da Itambé, Jacques Gontijo.

Para o economista-chefe da RC Consultores, Fábio Silveira, o problema é a queda na renda do agricultor. Para a consultoria, os produtores de grãos perderam US$ 10 bilhões este ano comparado com 2008. Mas ainda não há previsão de redução de safra ou de exportação.