Embora a técnica ocupe 26 milhões de hectares, não se sabe a área na qual o plantio direto é feito com qualidade. “Obedecer aos seus três princípios básicos é fundamental para que de fato ocorra o sequestro de carbono”, diz o professor Carlos Eduardo Cerri. Não adianta não revolver o solo, mas não fazer a rotação de culturas ou não deixar a palhada no solo. “Quando o solo não é revolvido há uma tendência natural de compactação. Isso pode ser resolvido com a rotação de culturas, com o plantio de espécies de sistema radicular agressivo, que “quebram” as camadas mais endurecidas de terra.”
O importante, diz, é deixar de fazer monocultura ou sucessão de culturas e introduzir um terceiro cultivo. “Este cultivo – girassol, nabo forrageiro, algodão, canola, trigo, aveia, etc. – tem o papel de fornecer palhada e equilibrar o solo, estimulando a diversidade microbiana na área.”
Seguido à risca, o plantio direto pode sequestrar até 0,8 tonelada de carbono/hectare/ano no solo. Quem garante é o produtor Herbert Arnold Bartz, diretor da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha. A primeira experiência comercial com plantio direto foi realizada na propriedade de Bartz, em Rolândia (PR), em 1972. “Manter o solo constantemente coberto garante a diversidade biológica do solo. Agora, sabe-se que o plantio direto assimila carbono.”
Em sua propriedade de 160 hectares, em Grandes Rios (PR), Bartz planta arroz, soja e milho e faz a integração lavoura-pecuária. Na rotação, cultiva aveia preta, aveia branca, triticale e nabo forrageiro. “Hoje, talvez a integração lavoura-pecuária seja a prática conservacionista mais moderna, pois mantém os ganhos econômicos”, diz. “A agricultura brasileira tem várias maneiras de neutralizar a emissão de gases-estufa.” No campo, o produtor pode até desconhecer o conceito de sequestro de carbono via plantio direto, mas sabe dos benefícios da presença de matéria orgânica no solo. “Carbono é a forma pela qual se expressa a quantidade de matéria orgânica no solo”, explica Cerri. “E todo produtor sabe que a matéria orgânica melhora as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo”.
Uma pesquisa de 20 anos
Pesquisa conduzida há 20 anos pela Embrapa confirma o papel fundamental do plantio direto na redução de emissão de gases-estufa pela agropecuária brasileira. O estudo, publicado em junho na revista americana Agriculture, Ecosystems & Environment, mostra que o plantio direto acumula cerca de duas vezes mais carbono no solo se comparado ao plantio convencional. “O plantio direto ajuda o solo a sequestrar carbono porque não há revolvimento da terra. Com isso, há redução da taxa de decomposição”, diz o pesquisador Júlio Cezar Franchini, da Embrapa Soja. “O sequestro de carbono é uma equação. De uma forma bem simples, o sequestro é a diferença entre a quantidade de carbono que entra no sistema e a que sai e, para ter sequestro, tem que haver mais entrada e menos saída.”
A pesquisa coletou amostras de latossolo vermelho em 16 pontos, sob plantio direto e plantio convencional, do campo experimental da Embrapa Soja, em Londrina (PR). Nesta área, por 20 anos, houve sucessão de soja no verão e trigo no inverno. Nos últimos 12 anos, foi feita a rotação de milho no verão e tremoço e aveia preta na cobertura do solo no inverno. “Concluímos que, sob plantio direto contínuo, 79,4 quilos de carbono/hectare/hora deixaram de ser emitidos para a atmosfera. No plantio convencional, o desempenho foi 63,3% menor”, diz.