Com os 242.126 empregos com carteira assinada criados em agosto, o saldo de postos formais de trabalho no Brasil desde outubro do ano passado, quando a crise financeira global se agravou, já ficou positivo em 45.668 vagas. Se o recorte for a partir de novembro, quando os efeitos da crise provocaram demissões, ainda há uma perda de 15.736 vagas.
Após seis meses seguidos de tímida recuperação, os números divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho para o mercado formal em agosto surpreenderam e mostraram recorde no saldo de contratações para o mês -foi o melhor resultado para agosto desde 1992, início da série histórica.
Pela primeira vez desde o estouro da crise financeira no Brasil, a indústria demonstrou vigor nas contratações. Em agosto, gerou três vezes mais vagas do que em julho, alcançando saldo líquido de 66.564 postos de trabalho. O emprego industrial foi o mais afetado pela turbulência na economia, e o resultado acumulado pelo setor no ano ainda é negativo.
“O resultado superou todas as expectativas. Os números foram positivos em todas as unidades da Federação e em praticamente todos os macrossetores, com exceção da agricultura. Estamos no caminho de gerar mais de 1 milhão de empregos neste ano”, afirmou o ministro Carlos Lupi (Trabalho).
O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) é um levantamento realizado mensalmente pelo Ministério do Trabalho a partir de informações das empresas. O cadastro existe desde 1992 e reúne todos os registros de contratações e demissões no setor formal -exceto domésticos, trabalhadores temporários e servidores públicos.
No acumulado do ano, o Caged registra a geração de 680.034 postos. No período crítico da crise (entre novembro e janeiro), o mercado formal fechou 797.515 vagas.
Na avaliação de Lupi, o desempenho do mercado de trabalho neste mês superará o verificado em agosto. Ele reafirmou que o comportamento do emprego no segundo semestre de 2009 será similar ao do primeiro semestre do ano passado, quando houve forte geração de vagas formais.
Para o economista Bernardo Wjuniski, da consultoria Tendências, o raciocínio do ministro é coerente. “A tendência é de trajetória positiva para a atividade econômica e para o emprego. Mas é preciso olhar com cautela os números”, afirma o economista.
Segundo ele, enquanto, no primeiro período de 2008, o crescimento era sinônimo de expansão da economia e da oferta de emprego, no último semestre de 2009, a perspectiva é diferente. “Estamos agora recuperando uma capacidade ociosa. As taxas de crescimento vão ser parecidas. Mas isso é recuperação, e não expansão”, disse Wjuniski.
Teste – Na análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os números de agosto indicam que o mercado voltou a apresentar padrão semelhante ao registrado antes da crise. O instituto destaca que, em meses anteriores, havia sinais de uma “melhora gradativa”, mas somente em agosto o volume de contratações líquidas superou o saldo de agosto do ano passado.
“Por tratar-se de uma indicação ainda muito preliminar, é necessário aguardar para que seja testada a hipótese do retorno à normalidade”, pondera o Iedi em sua análise.
Apesar do bom desempenho da indústria, o setor de serviços foi o que registrou o maior saldo de vagas em agosto. Foram gerados 85.568 empregos.