O grupo carioca MPE vai deixar de plantar em Mato Grosso, onde produz soja, milho e algodão, a partir da safra 2009/10. O grupo, com atuação nas áreas de engenharia e agronegócio, tem 100 mil hectares no Estado dedicados à agricultura e pecuária, com exceção das áreas de reservas florestais.
Desse total, 30 mil hectares estão sendo arrendados por um período de dez anos ao grupo Bom Futuro, controlado pela família Maggi Scheffer. Eraí Maggi Scheffer e seus irmãos, sócios da empresa, são primos do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi.
O arrendamento ao grupo Bom Futuro foi fechado pela Agromon Agricultura e Pecuária, empresa controlada pela holding do grupo MPE dedicada ao agronegócio, a MPE Participações em Agronegócios S.A.
A Agromon produz soja, milho e algodão em Mato Grosso e também responde pela criação de gado bovino no Estado e no norte fluminense. Ao todo, a empresa tem 25 mil cabeças de gado, de base nelore e red angus – 20 mil em Mato Grosso e 5 mil em Campos dos Goytacazes (RJ). A pecuária, desenvolvida no ciclo completo (cria, recria e engorda), será mantida.
A saída do MPE da agricultura se insere na reestruturação do agronegócio dentro do grupo, movimento iniciado há cerca de três anos. Nos dois últimos exercícios contábeis (2007 e 2008) a holding do grupo na área de agronegócio amargou prejuízos de R$ 4,47 milhões e de R$ 10,2 milhões, respectivamente.
O aluguel das terras ao Bom Futuro deverá ajudar a reduzir a dívida do MPE no agronegócio, que somou R$ 170,2 milhões em 2008. O valor inclui dívidas bancárias e junto a fornecedores a curto e longo prazos (acima de um ano).
Conforme relatório publicado pela empresa na divulgação do resultado de 2008, auditado pela empresa BKR, os ganhos de produtividade obtidos nos plantios de soja, milho e algodão não se refletiram no resultado final em função do agravamento da crise no último trimestre de 2008. A crise fez com que os preços das commodities retornassem aos patamares de 2007, diz a empresa no relatório.
Renato Ribeiro Abreu, diretor-presidente do grupo MPE, disse que, em agosto do ano passado, a empresa comprou adubo a US$ 1.160 por tonelada com o câmbio na faixa de R$ 1,60 por dólar para pagamento cinco meses depois. Na data da liquidação, a taxa de câmbio estava a R$ 2,03.
“Hoje o tipo de adubo que compramos situa-se em cerca de US$ 500 por tonelada”, diz. Nos últimos anos, o grupo MPE teve de transferir receitas da engenharia para repassar ao agronegócio.
Abreu disse que o arrendamento ao Bom Futuro faz parte de uma reorganização interna para focar o grupo na sua principal atividade, a engenharia, com preservação do patrimônio e garantia de rentabilidade nos negócios. Abreu disse que a opção pelo arrendamento, e não pela venda das terras, foi uma forma de manter o patrimônio. Mas ele também ressaltou que os preços da terra caíram muito.
São duas áreas arrendadas ao Bom Futuro em Mato Grosso. Uma fica nos municípios de Diamantino e São José, nas proximidades da BR-163. A outra se estende pelos municípios de Querência e Ribeirão Cascalheira, nas imediações da BR-158. O valor do arrendamento não foi revelado, mas o pagamento deve ser feito em produto (soja em grão). O Valor procurou Eraí Maggi Scheffer, considerado no setor como o maior produtor de soja do mundo, mas não obteve retorno.
De acordo com informações disponíveis na página do Bom Futuro na internet, o grupo tem área agrícola em 15 municípios de Mato Grosso, onde conta com 27 unidades centralizadoras e 70 fazendas. Na safra 2008/09, a área plantada pelo grupo foi da ordem de 290 mil hectares, segundo as informações do site.
Desse total, 62% foram ocupadas com soja, 19% com milho, 18% com algodão e o restante de feijão e arroz. Há também projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas. Já a Agromon Agricultura e Pecuária, do MPE, produziu 2 milhões de sacas de soja e 18 mil toneladas de algodão em pluma no ciclo 2008/09.
A reestruturação das atividades agropecuárias do MPE teve um capítulo importante no início de 2008 quando o grupo vendeu para a Marfrig 100% do controle da Carroll’s Food do Brasil, dona de granjas de suínos e de uma fábrica de ração no Mato Grosso. A empresa também detinha participação acionária no frigorífico Intercoop, uma cooperativa de Nova Mutum (MT). À época, foi anunciado que o valor do negócio era de R$ 42,26 milhões.
Outro negócio do qual o grupo MPE busca desinvestir é o de sucos prontos para beber, segmento no qual atua com a marca Sumol e no qual é dono da empresa Brassumo, com fábrica em Campos dos Goytacazes. Além da pecuária, o MPE vai manter a produção de camarões, em Valença (BA), por meio da Valença da Bahia Maricultura, outra das empresas do grupo. A produção de tilápias em Paulo Afonso (BA) também deverá continuar e deve ser incorporada à Valença Maricultura.