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Tyson Foods vai aproveitar crise para fazer aquisições

<p>A companhia, que entrou timidamente no Brasil com a aquisição de três plantas pequenas de abate de aves, deve assumir um posicionamento mais agressivo no Brasil.</p>

Redação (14/10/2008)- A gigante Tyson Foods, líder mundial em alimentos, anunciou que tem disponível US$ 1,5 bilhão para aproveitar oportunidades com a crise e fazer aquisições a preços mais baixos. A empresa anunciou que as negociações estão abertas tanto nos Estados Unidos como no Brasil, na China e na Índia. A companhia, que entrou timidamente no Brasil com a aquisição de três plantas pequenas de abate de aves, deve assumir um posicionamento mais agressivo no Brasil.
"Temos perto de US$ 1,5 bilhão no banco prontos para aproveitar as oportunidades, quer sejam domésticas ou nos três países de crescimento: Brasil, China e Índia", disse o chairman John Tyson à agência Bloomberg.
Denise Messer, analista do Banco Brascan, avalia que a Tyson pode aproveitar esse momento para entrar mais forte no Brasil, sobretudo em frango, em cuja produção o País tem custo de produção mais baixos. "É uma ótima oportunidade para a empresa", arremata. Mesmo disposta a investir mais agressivamente neste momento, a empresa não deve representar ameaça, no curto prazo, para a Perdigão e Sadia, líderes nesse mercado.

Mas, os valores anunciados pela Tyson não são nada desprezíveis. Com os U$ 1,5 bilhão – (R$ 3,2 bilhões ao câmbio de ontem, R$ 2,14 – a empresa poderia, por exemplo, comprar a Sadia aos valores de sexta-feira, quando o valor de mercado da companhia estava em R$ 2,9 bilhões. A aquisição também poderia ser feita aos valores de ontem, mesmo com a valorização das ações da companhia, em 11,82%, quando o valor de mercado da Sadia passou para R$ 3,24 bilhões.
Mas apesar do prejuízo que deve prejudicar a capacidade de investimento da Sadia, a empresa é bem posicionada e não deve ter interesse em se vender, na avaliação de José Vicente Ferraz, diretor da AgraFnp. "Mas acho que a Tyson pode querer fazer no Brasil aquisições maiores do que fez até agora. Há empresas de importância significativa no mercado e não tão grandes como a Sadia e a Perdigão, como a Frangosul e a Seara", pondera Ferraz. Mas nestes casos, avalia o especialista, a Tyson pode não encontrar muitas oportunidades com a crise, pois ambas pertencem a grupos de multinacionais que estão mais capitalizadas.
Foi com praticamente o mesmo volume anunciado pela Tyson Foods que o JBS-Friboi se tornou a maior empresa de alimentos do mundo de proteína de origem bovina, comprando, por US$ 1,4 bilhão, a norte-americana Swift Foods, conforme recorda Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. Com parte do recurso anunciado a empresa poderia comprar, por exemplo, plantas do frigorífico Quatro Marcos, que praticamente parou de funcionar por problemas financeiros, ocasionados pelo recuo de margens de lucro resultado da alta no preço da arroba e da dificuldade de repassar essas altas ao mercado. "Somente cada uma das cinco unidades do grupo Quatro Marcos devem valer cerca de R$ 100 milhões. Tem que se considerar o valor dos mercados que eles possuem. Suas plantas são habitadas para exportar a todos os mercados", avalia Rosa.
O analista da Scot afirma ainda que agora é um excelente momento para se fazer aquisições de frigoríficos. "Algumas empresas já vinham com problemas de caixa por causa de aperto de margem de lucro. Um frigorífico com capacidade de abate de 1 mil cabeças com habilitação para exportar à União Européia valia há um ano de R$ 130 milhões a R$ 140 milhões. Atualmente, esse valor está em R$ 100 milhões", diz o especialista da Scot.
Raul Beer, da área de fusões e aquisições da PriceWaterCoopers, afirma que há neste momento um grande movimento de negociações na área de carnes. "Todos os nossos consultores estão trabalhando muito em projetos", informou Beer.
Isso porque neste momento de crise nos mercados mundiais, os conceitos de valor estão perdidos, tanto para carnes como para outros setores da economia. "Temos demandas por negócios estratégicos e oportunistas, ou seja, vendas forçadas por uma questão de necessidade", diz Beer. Sobre sua entrada na produção de carne bovina, a Tyson Foods informou, por meio de sua assessoria, que o foco prioritário neste momento é o mercado avícola. "O Brasil e a China estão bem na frente da Índia nas oportunidades de investimentos, mas há muitas possibilidades também na Índia", afirmou Tyson à Bloomberg.
A Tyson Foods assinou nesta semana contrato de uma joint venture de carne de frango com o Shandong Xinchang Group, uma das maiores produtoras chinesas. A empresa americana detém 60% da unidade e vai investir mais de US$ 200 milhões nos próximos dois anos.