Redação (17/12/2007)- Para se ter uma idéia do avanço dos preços em Chicago (CBOT), em apenas um ano, a variação da cotação registra incremento de 75,8%. Comparando o preço da última sexta-feira, US$ 11,64/bushel com o fechamento do pregão de 14 de dezembro de 2006, quando a cotação ficou em US$ 6,62/bushel, é possível perceber a alta. “Há um ano o mercado vem revelando máximas históricas e agora a soja alcança a segunda maior da história”, frisa o analista de mercado da Agência Rural Commodities Agrícolas (AgRural), em Cuiabá, Daniel Sebben.
O presidente do Sindicato Rural de Tapurah (433 quilômetros ao médio norte de Cuiabá), Marusan Ferreira Barbosa, confirma os bons preços à saca, mas revela que menos de 5% dos produtores da região serão beneficiados com a ‘onda altista’ de Chicago, já que mais de 70% da produção prevista nesta safra 07/08 – em 16,78 milhões de toneladas – foi comercializada antes mesmo do plantio.
“As lavouras foram vendidas por preços em média de US$ 10,80, o que com dólar na casa de R$ 1,74 dá cotação local de R$ 18 por cada saca. Na melhor das hipóteses, a relação custo de produção e renda ficará empatada. O que o governo federal e a sociedade em geral têm de entender é que por mais uma safra não haverá renda para honrar o pagamento de um passivo de três safras ruins”. A dívida agropecuária no Estado, entre securitização, financiamentos e custeio, contabiliza R$ 10 bilhões.
“A valorização da saca em Chicago não representa nada para o produtor estadual, porque não há nada em mãos para ser comercializado”. A AgRural confirma que da safra velha (06/07) não há praticamente nenhum grão em poder do produtor.
As cotações, que são as melhores das últimas três décadas, como lembra o ruralista, são atrativas no mercado disponível, ou seja, para quem tem soja armazenada, à pronta-entrega. “E nenhum produtor tem grão da safra passada disponível. Ou seja: mais uma vez os grandes beneficiados serão as multinacionais (trades) que estão com os grãos”, explica. No mercado futuro, como informa o analista da AgRural, as cotações fixadas para entrega a partir de março, por exemplo, obtêm neste momento preços que variam de US$ 16,5 a US$ 19, dependendo da região do Estado, valores considerados remuneradores no atual cenário, porém “desfrutado por poucos produtores”, como frisa o presidente do Sindicato Rural de Tapurah. A Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja/MT) confirma que, em média, 66% da produção de soja do Estado foi fixado a US$ 12.
“É um ciclo vicioso. Vendemos de maneira antecipada para poder iniciar a safra trocando a soja a ser plantada por insumos e no final da temporada não temos mais grãos estocados para aproveitar a tradicional elevação de preços durante a entressafra. Aí, temos de comprometer nossa soja novamente antes de plantar para ter acesso aos insumos”, adverte.
Marusan lembra que na safra passada os contratos futuros tiveram preços fixados em US$ 9. “O médio norte e norte do Estado têm a pior logística do país”, reclama. Ele conta que o frete, que variava de US$ 80 por tonelada de Tapurah ao porto de Paranaguá (PR) na temporada passada, já apresenta novos preços: US$ 120 por tonelada.
Custo de produção mantém conta desequilibrada
O presidente do Sindicato Rural de Tapurah, Marusan Ferreira, reforça que não há como não admitir que a saca tenha subido e batido níveis históricos, mas ele faz outra conta que revela como o produtor se mantém à margem da nova realidade. “Há três anos, o adubo custava US$ 170 a tonelada e nesta safra chegou a US$ 450 a tonelada. Já o diesel, outro vilão do produtor mato-grossense, passou de US$ 0,70 o litro, para US$ 1,20. O custo de produção subiu 70%”.
Ele observa que mais uma vez o câmbio “jogou” contra o produtor, ou seja: uma cotação elevada na hora de adquirir os insumos e menor na hora de comercializar. “Além da maior parte da soja estadual ter média de fixação a US$ 12 e no médio norte a US$ 10,80, a escalada dos preços é asfixiada por conta da valorização do real frente ao dólar”.
Lá no primeiro trimestre do ano, quando as negociações para venda antecipada e aquisição de insumos começou, o dólar estava cotado entre R$ 1,85 a R$ 1,90, e agora não tem passado de R$ 1,74”. Ele ratifica que o custo de produção na região nesta safra é de 48 sacas por hectare. “Se chegar a 50 sacas, vamos empatar, caso contrário a história vai se repetir”, alerta.
TAPURAH
O município, com 100% de sua área já cultivada, está plantando nesta safra 110 mil hectares e, durante a safrinha, cerca de 12 mil hectares serão cobertos com algodão e 35 mil darão espaço ao milho. “Nossa previsão é atingir uma rentabilidade por hectare de 50 sacas, duas sacas acima do que foi contabilizado nos últimos três anos”. Marusan explica que o ‘otimismo’ em relação ao rendimento por hectare plantado está fundamento na ausência de focos de ferrugem asiática nas lavouras da região, inclusive de outras doenças, que sempre reduzem a produtividade. “Bem, fizemos a nossa parte, com atenção preventiva à ferrugem. As lavouras já foram pulverizadas e agora é torcer para que as condições climáticas colaborem para que possamos extrair o maior rendimento das lavouras como forma de minimizar as elevações que não estamos aproveitando e o impacto do dólar”.