Redação (11/06/07) – Em julho do ano passado, quando os preparativos para o plantio começaram, um dólar valia R$ 2,175. No mesmo período, soja e milho eram negociados na Bolsa de Chicago a US$ 6,0150 e US$ 2,4525 o bushel (cerca de 25 quilos), respectivamente. Já em Nova Iorque, os preços do café eram de US$ 1,0130 por libra, os do algodão US$ 0,4915 por libra e o açúcar US$ 0,1662 por libra.
Passados dez meses e a colheita da safra brasileira praticamente concluída, as cotações do dólar recuaram 10,7%. Mas a retração da moeda americana não provocou impacto sobre os preços da soja e do milho. Em Chicago, os preços da oleaginosa subiram 32,6%, enquanto os do cereal valorizaram 48,7%.
A desvalorização cambial prejudicou os negócios feitos com algodão, café, e açúcar. A queda do dólar corroeu a valorização de 2,23% nos preços do algodão e a recuperação de 9,27% nas cotações do café. No caso do açúcar, um dos produtos mais prejudicados, os preços da commodity recuaram 43,5% no período.
Diante desse cenário, economistas dizem não fazer sentido a criação de uma compensação para o dólar, como vai sugerir ao governo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). "Os preços subiram mais do que o câmbio caiu", disse Guilherme Dias, professor da Universidade de São Paulo e ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. "Os produtores querem disfarçar no câmbio o problema do endividamento e da renda."
Na avaliação do professor, a compensação da queda do dólar para as commodities agrícolas pode criar um precedente perigoso para o governo, pois todos os setores exportadores terão justificativas para basear seus pedidos. "Sem contar que os importadores também vão querer compensar o câmbio se em algum momento o dólar voltar a subir", disse Dias.
Para o consultor André Pessôa, diretor da Agroconsult, a lógica do câmbio e dos preços das commodities não pode ser relacionada apenas com a safra atual. Segundo ele, o peso das dívidas das safras 2004/2005 e 2005/2006 sobre o fluxo de caixa dos produtores neste ano é muito maior do que as receitas. "Os preços subiram sim, mas não o suficiente para compensar o acumulado das dívidas existentes", disse Pessôa.
Estudos feitos pela Agroconsult indicam que neste ano os produtores não terão prejuízos, dada a recuperação dos preços das commodities no mercado internacional, mas as dívidas acumuladas para o ano ainda são maiores. "Esse ano não vamos ter prejuízos, mas essa renda será suficiente apenas para pagar o custeio da safra", disse Rui Prado, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso. "Temos ainda todas as parcelas das dívidas de investimento que já começaram a vencer este ano." As projeções são de que os débitos dos agricultores cheguem a R$ 60 bilhões dentro de cinco anos.