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Menos preocupação e mais preparação para evitar a gripe aviária

<p>Afirmação foi de Luiz Felipe Caron, em palestra no VII Simpósio Brasil Sul de Avicultura.</p>

Redação AI (06/04/06)- A influenza aviária provavelmente não chegará ao Brasil e, se chegar, possivelmente não causará perdas humanas, mas, se a avicultura brasileira for desmantelada, muitos morrerão de fome. O alerta foi dado pelo médico veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, professor de Microbiologia Veterinária e de Vacinologia na UFPR, Luiz Felipe Caron, em palestra no VII Simpósio Brasil Sul de Avicultura, realizado no Bristol Lang Palace Hotel, em Chapecó, durante painel que reuniu os maiores especialistas brasileiros do setor.

O docente falou sobre Possibilidade real de recombinação e modelo de vigilância epidemiológica na influenza aviária, mostrou que a avicultura brasileira é a mais avançada do planeta e tomou todas as providências para evitar a doença que atinge a África, Ásia e Europa e se espalha pelo mundo. Caron reclamou da inoperância e do despreparo do governo. O Ministério da Agricultura ainda não implantou o programa de regionalização sanitária que vem sendo exigido há mais de dois anos e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária distribui material de orientação nos portos e aeroportos que cria preconceito em relação à carne de frango.

O palestrante defende a transferência de todas as ações de planejamento, estruturação, prevenção e controle da influenza aviária para o setor privado, alegando que os Ministérios da Agricultura e da Saúde perderam a capacidade operacional e gerencial para cumprir essa tarefa. “Não devemos ficar preocupados, devemos ficar preparados”, ensina.

Devido ao vírus da influenza ser segmentado, o rearranjo genético pode ocorrer quando uma célula do hospedeiro é infectada simultaneamente com vírus de duas diferentes cepas aparentadas. Se uma célula é infectada com duas cepas do vírus do tipo A, por exemplo, alguns dos vírus da progênie irão conter uma mistura dos segmentos do genoma das duas cepas.

Nesse fato reside a crescente preocupação com o surgimento de uma nova pandemia de influenza. Apesar das diferentes cepas do vírus serem espécies específicas, ou seja, vírus aviários infectarem apenas aves, e assim por diante, em determinadas situações, vírus provenientes de seres humanos, podem infectar suínos e conseguir efetivamente replicar, da mesma forma que vírus aviários. Nestas células destes suínos, infectadas com duas cepas diferentes do vírus, um rearranjo poderia ocorrer formando uma nova cepa, com constituição antigênica totalmente diferente, mas com capacidade de replicação nos seres humanos.

Evidências epidemiológicas e moleculares sugerem que as aves domésticas sejam a fonte do vírus H5N1. Investigações revelaram que epidemias de infecção fatal pela influenza aviária ocorreram em granjas de frangos no nordeste de Hong Kong, em março e abril de 1997, um pouco antes do primeiro caso de infecção humana ter sido relatado. Subseqüentemente, epidemias similares foram detectadas em outubro, novembro e dezembro do mesmo ano, quase que ao mesmo tempo da epidemia em humanos. A vigilância epidemiológica de Hong Kong detectou o H5N1 em, aproximadamente, 20% das amostras fecais de frangos e em 2% das de patos e gansos vendidos em mercados públicos. Cada uma das cepas isoladas dessas amostras foi letal para frangos. Esses achados implicaram as aves contaminadas desses mercados como a fonte da infecção pelo H5N1 em Hong-Kong.

PODER DAS VACINAS
A virologista e pesquisadora do Instituto Butantan, de São Paulo, Dalva Portari Mancini, alertou que a transmissão do vírus influenza encontra condições favoráveis para desenvolver epidemias no Brasil. Lembrou que apesar dos esforços para combater as epidemias de influenza, os países têm tido dificuldade em deter totalmente a expansão da transmissão. Mesmo assim, tem sido possível diminuir os casos graves ou de hospitalização, através do uso de vacinas e de antivirais disponíveis à população, tanto através dos órgãos credenciados pela Saúde Pública, como por estabelecimentos comerciais.

– A dificuldade na produção de uma vacina eficiente é que não se pode prever exatamente a composição dos antígenos que deverão compor a vacina contra o vírus da influenza, considerando as suas constantes mudanças. Contudo, mesmo admitindo a variação do nível de proteção da vacina que decorre do grau de identidade entre as cepas circulantes, com as da vacina, este fato não altera a importância da vacinação na contenção da infecção desse vírus. Nesse sentido também é de grande ajuda o emprego dos antivirais específicos ao vírus da influenza.

Uma das maiores especialistas do país em influenza aviaria, a virologista e pesquisadora da Embrapa, Liana Brentano, de Concórdia (SC), assinala que o contato das aves domésticas com as aves silvestres é determinante para a ocorrência de surtos de influenza na avicultura comercial ou produção doméstica de aves. As formas de transmissão do vírus são o contato direto com as aves e suas secreções respiratórias, sangue e outros fluídos liberados, por exemplo, no abate das aves e especialmente também pelo contato com as fezes, pois o vírus H5N1 tem uma alta resistência em matéria orgânica e umidade. Outras fontes importantes de transmissão e disseminação do vírus são a ração das aves, água, equipamentos, veículos e roupas contaminadas e ovos quebrados com a casca contaminada.

O médico veterinário Alberto Back de Cascavel (PR), defende a prevenção da influenza aviária mediante a monitoração das aves migratórias e de aves comerciais, implementação do Plano Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), controle de portos e aeroportos, treinamento e capacitação, controle na importação de aves, criação de uma rede de laboratórios para diagnóstico e monitoria, controle de visitas e proteção dos aviários. Alertou que, em relação às aves migratórias, o maior risco está nas rotas regulares da América do Norte para o Brasil e, eventualmente, nas migrações erráticas da Europa.