Redação AI 27/09/2005 – O ex-presidente da Parmalat e da Nestlé, Ricardo Gonçalves, deve ser confirmado, na próxima sexta-feira, presidente-executivo da Associação Brasileira Produtores e Exportadores de Frangos (Abef). A chegada de Gonçalves à Abef faz parte do processo de profissionalização da associação. Ontem, o executivo foi apresentado a um grupo de empresas em reunião em São Paulo. Procurado pelo Valor, Gonçalves afirmou que ainda não daria declarações, pois sua posição no cargo só será oficializada a partir da próxima semana.
Na sexta-feira, uma assembléia das empresas associadas irá se reunir para votar o novo estatuto da Abef, que prevê a profissionalização da entidade. Depois disso, será convocada eleição de um conselho com sete membros, que elegerá o presidente. Na prática, no entanto, a confirmação de Gonçalves no posto é certa, já que seu nome foi escolhido por uma comissão criada justamente com a finalidade de buscar um executivo no mercado para presidir a Abef e substituir José Augusto Lima de Sá, da Sadia, que assumiu o cargo depois da saída de Júlio Cardoso, ex-presidente da Seara Alimentos.
Conforme apurou o Valor, Gonçalves foi um nome defendido pelo presidente do conselho de administração da Sadia, Walter Fontana, mas não é consenso no setor. O executivo, que enfrentou momentos difíceis à frente da Parmalat durante a crise da empresa, é encarado como um administrador experiente, mas sem experiência política ou na área de frango.
Cláudio Martins, que participou da criação da Abef e atua como diretor-executivo da entidade, deixará a associação. A Abef foi criada há 29 anos, quando um grupo de oito empresas decidiu montar um comitê junto à Câmara de Comércio Exterior (Cacex). Na época, o grupo foi orientado pela própria Cacex a montar uma associação, conta Martins. Ele foi encarregado do estatuto da entidade e se tornou inicialmente secretário-executivo e depois diretor-executivo.
Nesse meio tempo, as exportações brasileiras de carne de frango saíram de apenas 3.469 toneladas em todo o ano de 1975 para 2,424 milhões de toneladas em 2004, quase 700 vezes mais, segundo a Abef. O maior avanço ocorreu nos últimos anos. Em 2000, por exemplo, o Brasil exportou 770,5 mil toneladas, com uma receita de US$ 875,3 milhões. Este ano, as vendas já alcançavam 1,8 milhão de toneladas até agosto, com receita de US$ 2,2 bilhões.
Em grande medida, as vendas externas de carne de frango avançaram nos anos recentes porque o Brasil ganhou competitividade e também foi beneficiado por problemas sanitários em países concorrentes, como a Tailândia, que teve epidemia de influenza aviária. E é na questão sanitária que deve estar o maior desafio de Gonçalves, avalia Cláudio Martins. Ele afirma que o novo presidente terá a tarefa de avançar em questões como a regionalização no setor avícola para evitar um eventual embargo às vendas brasileiras no caso de a doença chegar ao país.
“É preciso estar preparado com medidas adequadas [para enfrentar a doença]”, comenta Martins.