Da Redação 07/04/2003 – Apesar do período de safra, os preços do milho seguem firmes e em patamares bem superiores aos da temporada 2001/02. Levantamento da Céleres/MPrado mostra que o produto teve valorização superior a 100% em regiões como Cuiabá (MT), onde saiu de R$ 9,18 por saca em abril de 2002 para os atuais R$ 22,50 no mercado disponível. Em Cascavel (PR), o aumento foi de 41% no período, para R$ 19,00. Em Campinas, o milho se valorizou 78%, atingindo R$ 24,00.
O acompanhamento mostra, ainda, que as cotações voltaram a subir neste mês de abril em comparação com março deste ano.
Esse comportamento do mercado se deve, principalmente, à alternativa da exportação, que alterou o patamar de preços para o grão. A desvalorização do real em relação ao dólar estimulou as vendas externas, e a paridade de exportação se tornou a referência de preços para o produto. Com isso, as indústrias precisam pagar pelo menos o mesmo valor que a exportação para que o produto fique no mercado interno.
Neste momento, porém, os compradores estão pagando até mais. O motivo é que a fortalecimento recente do real ante dólar e o aumento dos fretes pressionam os preços de liquidação na exportação. Hoje, a referência de preços no transferido do porto de Paranaguá é R$ 19,00 por saca (que equivale a US$ 104 por tonelada para embarque em maio). Esse valor liquida a R$ 15,00 no oeste do Paraná, segundo cooperativas. Enquanto isso, o disponível está em R$ 19,00 na região, segundo a Céleres. Diante desses preços, o produtor prefere o mercado interno à exportação.
E as indústrias consumidoras aceitam pagar mais que a paridade porque há demanda, mas não existe pressão de oferta. “O produtor não está com pressa de vender. Após dois anos de safras com preços excelentes, ele está capitalizado”, diz um operador. Fernando Muraro, da Agência Rural, acrescenta que dois anos de desvalorização do real favoreceram os preços do milho. Para ele, o mercado deve ficar entre R$ 17,00 e R$ 20,00 este ano.
Para Vânia Guimarães, pesquisadora do Cepea/USP, a estratégia do produtor de não forçar a venda também se deve às incertezas que pairam no mercado de milho. Como a safrinha é uma incógnita devido ao risco climático, os produtores seguram produto à espera de valorização. Os consumidores, por seu lado, tentam garantir o abastecimento.
“Os produtores estão sempre olhando para trás. Depois dos problemas de abastecimento do ano passado, eles acreditam em novos ganhos”, acrescenta Leonardo Sologuren, da Céleres.
Ele avalia, no entanto, que a estratégia de reter as ofertas possa significar mais pressão de venda no segundo semestre e conseqüente queda de preços. De qualquer forma, o piso será a paridade de exportação, reitera.
Outra razão para os preços do milho seguirem valorizados é que nesta época da safra os produtores priorizam a colheita da soja, observa Guimarães. Isso reduz a pressão de oferta de milho.
Em outros anos, acrescenta, essa suspensão na colheita evitava que os preços caíssem. Hoje, chega a impulsionar as cotações.
Os preços das opções de venda de milho lançadas pelo governo ganharam importância como referência para o mercado, avalia Sologuren. No leilão da última sexta-feira, a Conab vendeu 5.483 contratos, 29,8% do total de 18.347 contratos (o equivalente a 495 mil toneladas). Novamente, o interesse foi de 100% no Mato Grosso, com 4.650 contratos. São Paulo e Distrito Federal tiveram interesse zero.