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Milho transgênico vai atacar doença de ave

O alvo dos pesquisadores são os micróbios que causam a doença chamada coccidiose aviária.

Redação AI 07/08/2002 – Transformar grãos de milho em remédio pode ser o caminho para combater uma doença que atinge frangos e dá mais de R$ 60 milhões por ano de prejuízo à avicultura brasileira. Cientistas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) acharam uma molécula que pode combater o problema e já dominam a técnica de engenharia genética para fazer com que o milho a produza.

O alvo dos pesquisadores, coordenados por Adilson Leite, do CBMEG (Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética), são os protozoários Eimeria, micróbios que causam a doença chamada coccidiose aviária.

Não é apenas o nome da doença que é indigesto: o parasita invade as células intestinais dos frangos, causando debilidade nos animais -o que é péssimo para o bolso de quem cria as aves, já que elas têm problemas para ganhar peso por causa do micróbio.

Para piorar a situação, as linhagens do parasita estão ficando cada vez mais resistentes aos medicamentos que existem hoje. É aí que entra o trabalho de Leite, divulgado na edição deste mês da revista “Pesquisa Fapesp” (http://revistapesquisa.fapesp.br), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Leite e seus colegas já dominavam a técnica para a criação de milho transgênico, tendo produzido variedades da planta que produzem hormônio de crescimento humano. “Como o milho compõe 70% da ração de aves, nós achamos que ele poderia ser usado para combater a infecção com o protozoário”, explica.

Antes disso, porém, era preciso encontrar uma molécula que fosse eficaz contra o parasita. Foi então que entrou em cena o vírus bacteriófago M13, que tem uma capa formada por proteínas. Para pesquisas desse tipo, de acordo com Leite, é possível adquirir uma biblioteca de peptídeos (pedaços de proteína), ou seja, diversas formas do vírus com inúmeras combinações diferentes formando sua capa protéica.

Todas essas formas do vírus foram colocadas em contato com o protozoário, enquanto os pesquisadores ficavam de olho nos peptídeos do invólucro viral: os que se ligavam à membrana celular do Eimeria eram separados em laboratório e selecionados.

No fim do processo, os pesquisadores chegaram a um peptídeo batizado de RW2, cuja ação foi examinada novamente contra o Eimeria, desta vez com células do próprio frango.

“Nós verificamos que ele age como um antimicrobiano”, afirma Leite. “Ele altera a permeabilidade da membrana do protozoário, o que impede que ele invada as células do frango em 70% dos casos”, afirma o pesquisador.

De quebra, um efeito inesperado do peptídeo também pode ser útil quando o próximo passo, a inserção do gene que codifica sua produção no milho, for alcançado. É que ele impede o crescimento do fungo Aspergillum, que ataca frequentemente o grão estocado e produz uma substância tóxica, a aflatoxina.

De acordo com Leite, testes feitos com o peptídeo mostraram que ele não tem efeitos nocivos para as células de aves ou mamíferos, embora a molécula ainda precise ser testada nos animais vivos.

Com a ajuda do Nuplitec (núcleo de patentes da Fapesp), o grupo já pediu patentes do peptídeo no Brasil e nos Estados Unidos. A pesquisadora Urara Kawazoe, também da Unicamp e especialista em coccidiose, colaborou com a pesquisa.