O Brasil deve voltar a registrar produção recorde na próxima safra de verão. A melhor distribuição entre financiamento via trading, bancos e recursos próprios está permitindo ao agricultor retomar a compra de insumos, mesmo sem a crise ter passado totalmente para o setor. A estimativa da Associação Brasileira de Sementes (Abrasem) é a de que até o momento 80% das sementes de soja para a safra 2009/2010 já foram vendidas, tendência que é seguida de perto por produtores de milho. “Já existe procura até para semente de trigo”, destacou Ywao Miyamoto, presidente da Associação, durante a II Congresso de Sementes das Américas, sediado no Brasil nesta edição.
Segundo ele, mesmo com uma ligeira queda nos preços de sementes o setor, no País, deverá repetir em 2009 o desempenho do ano passado, com vendas próximas a 2 milhões de toneladas e receita de R$ 8 bilhões.
Para o presidente da Abrasem, a diferença se dá no tipo de variedade que vem sendo procurada, já que o segmento está passando por rápidas transformações e a principal preocupação do produtor hoje é encontrar produtos resistentes a doenças e ao clima, dando mais ênfase até que à produtividade. As condições climáticas, especialmente as chuvas excessivas, têm gerado perdas e contribuído para a proliferação de doenças. “As variedades que têm hoje no mercado já não servem mais para o ano que vem”, avaliou Miyamoto. “O trigo é a maior prova disso”, completou.
As empresas do setor estão correndo contra o tempo para apresentar novas opções ao agricultor, no entanto, elas reclamam da má utilização do uso próprio, que acaba acarretando nas revendas ilegais de sementes entre os produtores, e o ainda elevado uso de insumos não certificados, aos quais as companhias deixam de receber pelo uso da tecnologia. “Todo mundo perde. O governo deixa de arrecadar, o consumidor tem um produto com perda genética e que acaba sendo vetor de doenças e o detentor, que teve um alto custo para desenvolver o produto, fica sem o retorno”, diz Cecilia Oswald, gerente de propriedade intelectual da Syngenta.
A Monsanto, que atualmente passa por processo de cobrança de royalties de sementes no País, afirma que esses casos nos quais busca uma solução judicial pelo uso indevido de seus produtos é uma exceção válida para proteger seus esforços iniciais, “além de agentes do sistema que podem ser prejudicados pelo material ilegal e grupos que possam vir a trazer tecnologias no futuro”, diz Todd Rands, chefe do departamento legal da Monsanto.
Ronaldo Andrade, gerente geral da unidade Transferência de Tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), alerta que as sementes que os produtores comercializam sem autorização não têm controle e o uso das mesmas pode resultar em desde queda da produtividade até a disseminação de pragas. “O custo da semente como insumo é muito baixo, de 2% a 5% do total. É uma economia que não procede”, diz.
Argentina e Uruguai
Na vizinha Argentina a situação é muito mais crítica, tanto no que diz respeito à redução na aquisição de sementes quanto no aumento das compras do insumo pirata. Miguel Rapela, diretor executivo da Associação de Sementes Argentina (ASA), afirmou que a crise financeira e a seca afetaram muitíssimo o mercado de sementes no País e o único grão que oferece alguma rentabilidade atualmente é a soja. “A venda de sementes de milho, sorgo e girassol caíram muito. Tudo é semeado no mesmo período que a soja”, disse. Rapela afirmou ainda que mesmo quem está plantando soja pode ter problemas já que há muitos problemas políticos e uma possível “retenção” pode afetar a rentabilidade.
No Uruguai o cenário é bastante distinto. O País conseguiu inibir o uso de sementes piratas e dar um salto de produtividade. Diego Risso, gerente da Associação Civil Uruguaia para a Proteção de Obtentores Vegetais (Uruopv, na sigla em espanhol), disse que a crise financeira não chegou a afetar fortemente o campo e que os efeitos da seca que atrapalhou a última safra estão sendo minimizados e as lavouras já estão recompondo o nível de água no solo. “Nossa produção de soja vem crescendo e será novamente recorde”, afirma. Risso destacou ainda a migração de agricultores argentinos para o Uruguai.