As consequências do aquecimento global estão se tornando cada vez mais perceptíveis no Brasil, com impactos notáveis em ondas de calor, secas e riscos para a agricultura, conforme o relatório “Mudança do Clima” do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Nos últimos 60 anos, a temperatura aumentou até 3°C em algumas regiões brasileiras, superando a média global.
A frequência de ondas de calor — períodos em que as temperaturas se mantêm 5ºC acima da média — cresceu significativamente. Nos anos 1961-1990, essa anomalia era observada por até sete dias. Esse número saltou para 52 dias entre 2011 e 2020, afetando quase todas as regiões do Brasil. Em 2023, o ano mais quente registrado globalmente, a temperatura média no Brasil foi de 24,92°C, com picos em nove ondas de calor e recordes de temperatura acima do esperado.
A elevação das temperaturas tem intensificado períodos de seca, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste, e na parte Sudeste da Amazônia. O Nordeste, por exemplo, viu um aumento dos dias consecutivos sem chuva, de 80 para 100, entre 1961 e 1990. A seca prolongada também atingiu severamente a Amazônia (2005, 2010, 2023), o Nordeste (2012 a 2015) e o Sudeste (2001, 2014/2015, 2020/2021).
Esse cenário traz prejuízos incalculáveis para a agricultura. No Nordeste, áreas agricultáveis diminuíram em 70 mil quilômetros quadrados devido à estiagem e práticas de manejo inadequadas. Em 2012, Pernambuco sofreu uma perda de 99% na produção de milho, e colheitas de arroz, feijão e milho enfrentaram graves perdas em 2015 e 2017.
Além de danos materiais e econômicos, as mudanças climáticas aumentam o risco de epidemias e doenças, afetando especialmente as regiões mais vulneráveis. Até 2050, o mundo deve enfrentar dias mais quentes e invernos menos rigorosos. Se o limite de 2°C for atingido, os impactos sobre a saúde humana e a agricultura serão ainda mais intensos e frequentes, alerta o relatório.
O desafio para o Brasil é imenso, exigindo ações que mitiguem esses efeitos e promovam a adaptação, preservando tanto a infraestrutura quanto a segurança alimentar e a saúde pública.