Pelos cálculos de Gustavo Alcântara, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Aves da Raça Índio Gigante (Abracig), são necessários apenas mais cinco anos para que o Brasil tenha sua primeira raça pura de origem: a Índio Gigante. A ave chama a atenção de qualquer um. Pernas e pescoço alongados, um modo elegante de andar. Mas é o tamanho que desperta a curiosidade e acaba atraindo novos criadores. Ao todo, o galo índio gigante está em cerca de 20 mil propriedades brasileiras. Diante do entusiasmo, alguns animais têm sido vendidos por até R$ 200 mil.
Apesar de estar espalhado por todo o país, Alcântara conta que a ave ainda não é homologada como uma raça. “O Brasil tem genéticas de fora, mas temos a melhor ave do mundo que é o índio gigante”, diz, ressaltando que se trata de um animal “puro por cruza de origem desconhecida”.
O presidente da Abracig explica que, atualmente, no livro aberto sobre a raça – mantido pela própria entidade – o galo índio gigante está no grau de cruza quatro (GC4). O cruzamento entre dois animais nesse mesmo nível resultaria no GC5. Dessa forma, um galo e uma galinha no nível GC5, ao cruzar, gerariam o primeiro puro de origem (PO) registrado no país. “Não que os outros não sejam índios gigantes, mas a gente está buscando a perfeição”, avalia, apontando que é possível que existam criadores pelo país com até 12 gerações da ave, mas sem o controle de DNA.
Embora Gustavo Alcântara estime que sejam necessários pelo menos mais cinco anos para a raça índio gigante se tornar pura de origem — e com registro –, “a briga será maior” para que esse status seja reconhecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Porque estaremos brigando com as grandes empresas, que temem a concorrência do animal”, comenta.
No Brasil, as raças híbridas lideram a comercialização na avicultura caipira. “Queremos provar que temos uma raça genuinamente brasileira, inclusive exportada para outros países”, espera.
A origem do índio gigante
O surgimento do índio gigante é incerto, de acordo com Alcântara, mas uma das possibilidades é de que a ave seja resultado da busca de criadores por abater menos animais para os almoços de domingo. “Ele teve origem nos estados de Minas Gerais e Goiás, cerca de 25 a 30 anos atrás”, conta. Ao longo do tempo, o animal passou a ser difundido em outros estados.
Os primeiros estudos sobre o índio gigante, de acordo com Gustavo Alcântara, apontam que a carne dessa ave é mais rica em ômega 3. “É um animal de dupla aptidão: tanto ornamental, quanto corte”, conta ele, que segue a linha ornamental, usada em melhoramentos.
Para ser considerado índio gigante, a primeira característica é o tamanho avantajado: as fêmeas, devem partir dos 0,9 metro; machos, devem ter no mínimo 1,05 metro. O reprodutor pode chegar a até 1,2 metro. No entanto, já existem registros de reprodutores com 1,28 m. “Para macho, está se tornando normal esse tamanho, porque o salto de evolução da raça é muito rápido e em breve poderemos ter animais com mais de 1,3 m”, diz. Alcântara, no entanto, observa que é preciso limitar o tamanho das aves, por uma questão de bem-estar e saúde animal.
O pico de crescimento das aves índio gigante ocorre entre o quarto e o nono mês de vida. “É um desenvolvimento assustador, quando ele consegue ganhar até 30 centímetros”, conta. A Abracig trabalha o crescimento das aves por até 14 meses. O presidente da entidade justifica que o índio gigante não é destinado a abate. “O ideal de abate seria no quarto mês, com a ave com 1,5 kg a 2 kg.” Além disso, a ave consome a mesma quantidade de ração que as demais raças, o que torna a taxa de conversão maior.
Ovos por até R$ 3.000
A produtividade de ovos de cada ave é variada. Em geral, cada matriz acaba gerando até 50 ovos por temporada no mínimo. A taxa de nascimento em choca natural é de 65% a 70%. Com inseminação artificial, pode chegar a 95% de efetividade. A dúzia de ovos galados, segundo Alcântara, tem o valor mínimo de R$ 300. Em alguns casos, pode chegar a R$ 3.000.
A idade de reprodução das aves pode variar também. Alguns machos são precoces e podem começar entre os seis e os nove meses. Outros casos, apenas aos 14 meses de idade. A partir desse momento, alguns animais podem ficar até cinco anos reproduzindo. Já as fêmeas, começam a postura aos sete meses, como as linhagens caipiras mais comuns.
As perdas de reprodutores é bastante comum devido às doenças que acometem as aves no Brasil, aponta Alcântara. O grande problema é a falta de vacinação. Falta ainda o uso de mais vitaminas e boa nutrição para as aves. “Tem criador que usa só milho, então, a ave tem déficit de vitaminas”, conclui o criador.