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Pesquisa

Estudo defende viabilidade do etanol de milho em Mato Grosso

Pesquisa apresentada pelo Imea mostrou modelos integrando o combustível do cereal com o de cana-de-açúcar e a produção de carnes

Estudo defende viabilidade do etanol de milho em Mato Grosso

A depender das condições de cada região do Estado, a produção de etanol a partir do milho em Mato Grosso pode ser feita de forma individual ou integrada com a com cana-de-açúcar e com pecuária. Pode beneficiar também o segmento de florestas plantadas, especialmente de eucalipto, no fornecimento de biomassa para a atividade nas usinas que processam o biocombustível.

É o que aponta um levantamento sobre o mercado e cadeias produtivas de etanol de milho apresentado nesta terça-feira (12/9) pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), segundo o qual há possibilidade de ganhos econômicos na produção do combustível. O trabalho foi feito em parceria com o Agroícone com a consultoria Stracta durante um ano e meio. Envolveu seis usinas e entrevistas com pelo menos 70 pessoas.

Os pesquisadores percorreram 11 municípios, onde visitaram produtores, órgãos públicos e associações de classe ligadas ao agronegócio. Com base em informações sobre a produção e indicadores de viabilidade, a pesquisa sugere modelos de negócio considerando diferentes perfis de investidores e diferenças regionais. A produção de etanol é vista por especialistas e lideranças como uma forma de elevar o consumo interno do milho em Mato Grosso agregando valor através da industrialização.

Na temporada 2016/2017, com a recuperação do rendimento no campo, a estimativa do Imea é de uma produção de 30,45 milhões de toneladas do cereal. O volume é 59,4% maior que o estimado para a safra 2015/2016. Nos últimos cinco anos, a safra do cereal no Estado – que lidera a produção nacional – cresceu 65,1%. Até 2025, devem sair das lavouras mato-grossenses 38 milhões de toneladas. Do produzido atualmente, 15% são consumidos no mercado interno.

Em 2016, as usinas fabricaram 1,22 bilhão de litros de etanol. O volume de hidratado, 696,21 milhões de litros, foi quase todo demandado no Estado. No anidro, a maior parte dos 524,4 milhões de litros foi para outros mercados.

Para defender a viabilidade da produção do combustível a partir do milho no Estado, a pesquisa considera não apenas um cenário de contínuo aumento na produção do cereal. Avalia também uma perspectiva de aumento na demanda por etanol no mercado brasileiro e insuficiência de oferta nos próximos anos.

O estudo menciona dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), segundo os quais a frota nacional de automóveis deve chegar a 44,7 milhões de veículos até 2025. E também da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), para quem deve haver um déficit de mais de 23 bilhões de litros do combustível até 2030.

Especificamente em Mato Grosso, há também expectativa de aumento na produção de carnes bovina, suína e de frango. Até 2025, pode chegar a 3,5 milhões de toneladas, estima o Imea. Outro estímulo ao etanol de milho, já que seu subproduto, o DDG, pode ser utilizado como insumo para ração animal, também agregando valor ao uso do cereal.

“As cadeias produtivas estão aqui. Há pessoas querendo investir, mas esse processo tem que ser viável economicamente”, argumentou o responsável pela apresentação do trabalho, Paulo Ozaki, gestor de projetos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.

A partir dos resultados, o Imea definiu quatro modelos de arranjo produtivo. O chamado de Focado, utiliza milho em usina full, que processa etanol apenas com o cereal. O Sinérgico também adota esse tipo de usina, integrando milho com a pecuária. O modelo Híbrido utiliza usina flex, com milho e cana. E o completo tem usina flex e une milho, cana e pecuária.

O estudo pondera que a logística do combustível em relação a grandes centros consumidores pode ser um entrave. Mesmo assim, considera viáveis as estruturas de produção de etanol de milho em Mato Grosso, desde que bem estruturadas, com possibilidade de geração de empregos e emissão quase 70% menor de gases de efeito estufa nas áreas produtivas.

A depender da região, o retorno pode ser obtido entre seis e oito anos, de acordo com os modelos e o tamanho do investidor (produtor individual, grupo de produtores, cooperativas e grandes investidores). O cálculo de viabilidade econômica considera um preço do milho entre R$ 26 e R$ 36 a saca e etanol entre R$ 1,30 e R$ 1,77 o litro.

“É um fator importante na tomada de decisão do projeto: analisar as particularidades da região. Esse estudo tem que ser ainda mais focado para não fazer investimentos infundados e ter que fechar as portas no futuro”, recomendou Ozaki.

Também presente na apresentação, o presidente do Sistema Famato, Normando Corral, avaliou o etanol de milho como importante incentivo à industrialização. “É importante que se faça o etanol de milho para incentivar a industrialização do Estado de Mato Grosso através da agroindústria. Esse trabalho tem a intenção de induzir e atrair investimento”, defendeu.

O conselheiro da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Glauber Silveira, defendeu a conciliação do etanol de milho e de cana-de-açúcar. Mas disse acreditar que o combustível do cereal vai superar o que usa a gramínea como matéria-prima no Estado. “Temos biomassa, clima. Temos que buscar mercados, mas, se não produzir, não vai ter”, disse.