A tendência de queda das cotações de soja e milho nos mercados internacional e doméstico foi insuficiente para desestimular a produção no Brasil nesta safra 2014/15, cuja semeadura teve início em meados de setembro. E, de acordo com o primeiro levantamento de campo realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as duas culturas deverão, mais uma vez, impulsionar a colheita total de grãos do país a um novo recorde.
Divulgado ontem, o levantamento da autarquia apontou que a área plantada com todos os principais grãos cultivados no Brasil deverá ficar entre 56,2 milhões e 58,3 milhões de hectares no novo ciclo, ante os 56,9 milhões de 2013/14. A produção, por sua vez, tende a variar de 194 milhões a 201,6 milhões de toneladas, contra 195,5 milhões da temporada passada.
Mesmo levando-se em conta que a Conab ainda considera em seu cálculo a produção recorde de trigo de 2014, já que ainda não há elementos disponíveis para estimar o cenário para o cereal no ano que vem, o horizonte traçado é positivo para as lavouras e não há ameaças climáticas consideráveis nos radares meteorológicos.
A soja continuará a puxar a safra de grãos – o Brasil é o segundo maior país produtor da oleaginosa do mundo, atrás dos EUA – e o milho, apesar do recuo previsto, também tende a render uma oferta robusta. O quadro mais complicado é o do feijão, cujos preços estão abaixo do custo em algumas regiões do país.
Diante da expectativa de o Brasil superar pela primeira vez o patamar de 200 milhões de toneladas, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Seneri Paludo, deixou claro que o cenário de rentabilidades menores preocupa o governo e pontuou que, em algumas regiões, de fato a margem de lucro dos produtores de soja, por exemplo, ficará próxima a zero.
“No norte de Mato Grosso, as margens estão caindo muito”, disse Paludo. “Isso acende a luz amarela para o governo”. Mas ele procurou ser cauteloso ao projetar que o cenário de preços baixos particularmente de soja e milho – que sofrem a influência da recomposição da oferta global, com destaque para grandes colheitas nos EUA – não deverá ficar pior do que sinalizam as atuais estimativas.
Segundo ele, as rentabilidades poderão até ser negativas em algumas fronteiras, mas serão positivas na maior parte do país. “O que acreditamos neste momento é que os preços já estão deprimidos, em função da safra americana, mas não cairão mais ainda”.
Em função das previsões de ganhos menores para os produtores, Paludo garantiu recursos orçamentários suficientes para a eventual necessidade de o governo precisar socorrer agricultores com o uso de instrumentos de comercialização como Pepro e AGF. “Mandamos ao Congresso Nacional uma Lei Orçamentária que garante R$ 5,3 bilhões para comercialização, e é importante que esse orçamento seja aprovado, para termos um colchão de recursos”, afirmou.
O Legislativo, porém, ainda precisa aprovar o orçamento geral da União, que inclui esses recursos. Esse orçamento para comercialização é exatamente o mesmo que foi inicialmente destinado ao Ministério da Agricultura para aplicação neste ano. Posteriormente, houve cortes.
Entre soja e milho, a preocupação é maior com o cereal, cuja colheita deverá recuar, principalmente na chamada primeira safra. Mas o presidente da Conab, Rubens Rodrigues, realçou que poderá haver crescimento na região do “Mapitoba”, confluência entre Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia.