Até 2020, as mudanças climáticas podem provocar perdas de até R$ 7 bilhões por ano na agricultura. Café, soja e arroz são algumas das culturas que podem perder a produtividade, de acordo com um relatório com projeções de como o Brasil irá sofrer os impactos do aumento das médias de temperatura provocadas pelo aquecimento global nas próximas décadas. O estudo, realizado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), deverá ser apresentado e discutido a partir desta segunda-feira (9/9), durante a Primeira Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais, em São Paulo (SP).
O relatório foi realizado nos últimos seis anos com a participação de 345 pesquisadores. Eles fizeram uma avaliação de tudo o que já foi publicado sobre mudanças do clima no Brasil. Os resultados mostram que o país ficará mais quente e terá uma mudança no regime de chuvas. Segundo Secretária Executiva do PBMC, Andrea Santos, “o Relatório de Avaliação mostra o estado da arte da ciência do clima no Brasil e na América do Sul”.
A publicação confirma as principais pesquisas de institutos internacionais sobre o aquecimento causado pela emissão de gases de efeito estufa por atividades como geração de energia, transporte e desmatamento. No Brasil, tendências indicam que o clima mudará em diferentes regiões do país.
No Sul e no Sudeste, regiões que costumam sofrer com enchentes e deslizamentos, as chuvas se tornarão mais fortes e mais frequentes. Já no Nordeste, a tendência é oposta: haverá uma redução da quantidade chuvas e as secas ficarão mais frequentes.
Caatinga e Cerrado – De acordo com o relatório, biomas como a Caatinga e o Cerrado serão afetados. “A Caatinga tem uma tendência de diminuição de precipitação muito intensa, e o aumento da temperatura poderá chegar a 5,5ºC até o final do século. Isso é realmente impactante”, diz um dos autores do relatório, o professor da USP Tércio Ambrizzi. Segundo ele, os ciclos de seca como a enfrentada pelo Nordeste neste ano serão mais comuns. “Nada impede que o Nordeste tenha um ano com excesso de água, mas a tendência ao longo dos anos é de diminuição da precipitação”.
Amazônia e desmatamentos – De acordo com o estudo, a área mais ameaçada pelas mudanças na Amazônia será a parte oriental da floresta, mais vulnerável ao clima e suscetível devido à expansão da fronteira agrícola. Há risco de mudança do tipo de floresta na região. A vegetação pode ficar mais pobre, com perda de biomassa, fauna e flora.
O relatório, no entanto, não considera o aquecimento global como a principal causa de ameaça à Amazônia. A continuidade do desmatamento traz riscos mais imediatos à floresta do que a alteração na temperatura. Projeções apontam que, se a Amazônia perder mais de 40% da cobertura florestal, haverá uma mudança drástica na temperatura, podendo resultar em um aquecimento regional de até 4ºC. Atualmente, a floresta já perdeu cerca de 17% de sua cobertura.
O Relatório de Avaliação Nacional também aponta para incertezas existentes nas pesquisas sobre clima no Brasil. Segundo o estudo, há incertezas sobre a quantidade de gases de efeito estufa que serão emitidos no futuro, sobre as mudanças naturais do clima e sobre as limitações dos modelos de computador que simulam a temperatura. Segundo Ambrizzi, essas incertezas mostram que o país ainda tem muito a avançar na pesquisa climática. “Nós temos poucos pesquisadores atuando. Em muitas áreas do Brasil, faltam dados. A gente espera que os tomadores de decisão possam incentivar a pesquisa para diminuir essas incertezas”.