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Soja lidera alta de commodities em fevereiro

Estiagem na América do Sul oferece sustentação aos preços dos grãos em fevereiro.

Soja lidera alta de commodities em fevereiro

O Brasil foi mais uma vez fundamental na formação dos preços de algumas das principais commodities agrícolas no mercado internacional em fevereiro. Um dos maiores exportadores globais do setor, o país exerceu influências “altistas” nos mercados de grãos e de suco de laranja, mas colaborou para limitar os ganhos do açúcar e pressionou as cotações do café.

Sem movimentos bruscos dos investidores especulativos que ganharam espaço nas bolsas americanas nos últimos anos, e com o terreno mais livre para o choque entre os fundamentos de oferta e demanda, a maior parte dos produtos agrícolas transacionados pelo país no exterior encerrou o mês passado com resultantes positivas para as cotações.

Conforme levantamento do Valor Data baseado nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) das commodities negociadas nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco e algodão), os destaques foram os grãos, sobretudo a soja.

Os papéis da oleaginosa fecharam fevereiro com valor médio 4,47% superior ao de janeiro, sustentados pelas quebras de safra em países da América do Sul, entre os quais Brasil, Argentina e Paraguai. Por causa das perdas no continente, multiplicaram-se as estimativas de queda da produção mundial e ampliação da demanda pela soja americana, daí a alta em Chicago.

Na terça-feira, por exemplo, a respeitada publicação alemã “Oil World” atualizou seu cálculo e passou a estimar a colheita global neste ciclo 2011/12, em fase final de colheita no Hemisfério Sul, em 246,5 milhões de toneladas, 19 milhões a menos que em 2010/11 e maior tombo das últimas décadas.

Ontem, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) também se rendeu à conjuntura adversa e, segundo a agência Bloomberg, divulgou que a colheita brasileira será de 70 milhões de toneladas, 7% menor que em 2010/11. E as exportações brasileiras, que em janeiro ainda eram previstas pelo órgão em 39 milhões de toneladas, contra todas as demais projeções de mercado, foi ajustada para 33 milhões, volume menor que o previsto para os americanos, que seguirão na liderança desse ranking.

Como a demanda da China, maior importadora mundial de soja, segue aquecida e os EUA não deverão ampliar a área plantada no ciclo que está prestes a começar (2012/13), cresce a expectativa de que os preços “desafiem” as projeções iniciais para o ano, inclusive do USDA, e mantenham-se em elevados níveis apesar das turbulências financeiras em países desenvolvidos e eventuais efeitos adversos sobre os emergentes.

Nesse contexto, a soja foi a grande exceção no movimento especulativo em fevereiro, em geral mais discreto nas commodities agrícolas. Conforme balanço da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla inglês), até o dia 21 os grandes especuladores elevaram em 147% sua posição líquida de compra em futuros de soja, de 35,5 mil para 88 mil contratos (ver nesta página).

O milho também sofreu com a seca na América do Sul e a procura por embarques americanos também aumentou, em uma conjunção que garantiu a variação positiva de 1,15% observada na comparação entre os preços médios de fevereiro e janeiro. Mas, neste caso, a alta foi limitada pelas perspectivas de avanço do plantio nos EUA em 2012/13.

Divulgada na semana passada, a primeira projeção do USDA para a área plantada com o cereal no novo ciclo apontou para um incremento de 2,1% sobre 2011/12, para 38 milhões de hectares – a maior desde 1944. Ainda há riscos climáticos até a colheita, uma vez que há áreas menos úmidas do que o normal no Meio-Oeste antes do plantio, mas a expansão americana deverá exercer pressão baixista nos próximos meses, como apontou o próprio USDA.

O trigo “pegou carona” nas valorizações de soja e milho e também fechou o mês passado com cotação média superior ao resultado de janeiro. Leve (1,04%), a alta também tende a perder força por conta da estimativa do USDA de área plantada 3,5% maior nos EUA em 2012/13 (23,5 milhões de hectares) e da aparente normalidade das exportações de outros países importantes nesse tabuleiro, como Rússia e Ucrânia.

Na bolsa de Nova York, a variação que mais chamou a atenção foi a queda de 6,85% do preço médio dos contratos de segunda posição de entrega do café na comparação com janeiro. Há dúvidas em relação ao futuro da demanda por conta das turbulências financeiras, ao mesmo tempo em que os sinais sobre a oferta são de fartura maior – inclusive no Brasil, onde a bienalidade da safra estará em seu polo positivo, o que significa colheita cheia, estimada em cerca de 55 milhões de sacas de 60 quilos.

O algodão também enfrenta dúvidas em relação à demanda depois de uma certa recomposição da oferta no segundo semestre de 2011, perdeu parte dos ganhos de janeiro e encerrou fevereiro com preço médio 3,47% menor. Após as máximas de janeiro, derivadas do risco de geadas na Flórida, o suco recuou 2,03%, mas manteve-se em elevado patamar graças às barreiras dos EUA a carregamentos importados, inclusive do Brasil, em função da presença de um fungicida proibido por sua legislação.

O destaque positivo em Nova York foi o açúcar, cuja média mensal subiu 2,25% em relação a janeiro. Tradings como a Olam acreditam que o superávit global do produto vai cair 40% na próxima temporada (2012/13), ainda que as projeções para a produção brasileira indiquem aumento.