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Economia

Investidor vê com bons olhos eventual abertura de capital da Embrapa

Há uma percepção antiga de que o agronegócio, pela importância que tem no Brasil, é muito pouco representado no mercado de ações.

Investidor vê com bons olhos eventual abertura de capital da Embrapa

A abertura de capital de uma companhia como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) seria bem-recebida entre os investidores, de acordo com fontes do mercado consultadas pelo Valor.

Há uma percepção antiga de que o agronegócio, pela importância que tem no Brasil, é muito pouco representado no mercado de ações. E ampliar essa presença com uma companhia do ramo de biotecnologia, proprietária de um dos maiores bancos de germoplasma do mundo, de um corpo de cientistas de ponta e presença em mais de 50 países, atrai olhares de interesse de todos os tipos de banqueiros de investimento e de investidores.

Contudo, a transformação da Embrapa numa estrutura compreensível e palatável ao investidor seria um desafio que demandaria um longo preparo, possivelmente de anos. A companhia tem uma vocação social e estratégica que pode encontrar resistência no mercado. Além disso, as preocupações ambientais também são pano de fundo de decisões voltadas ao longo prazo, o que muita vezes não atende aos anseios de lucratividade de investidores financeiros.

De acordo com banqueiros de investimento que observaram de longe a empresa, seriam necessárias tanto mudanças estruturais, no formato e na organização do negócio, quanto culturais. A avaliação é de que a empresa não dispõe de mecanismos que deem flexibilidade e agilidade na gestão dos negócios. O estatuto da companhia a proíbe, por exemplo, de atuar comercialmente no exterior – e disputar o mercado mundial de sementes que, só no ano passado, movimentou US$ 37 bilhões, de acordo com a organização americana ISAAA.

Os profissionais que atualmente conduzem a companhia, embora considerados de excelente nível, não estão familiarizados com o ambiente de mercado e a cobrança por resultados. Como afirma um ex-membro da cúpula da Embrapa, a empresa foi preparada “para fazer pesquisa, não negócios”.

Prova disso está no balanço da empresa. Em 2010, a receita líquida da companhia com a venda de produtos e serviços (que inclui o licenciamento de variedades para as multinacionais) foi de apenas R$ 34,75 milhões.

Quase 90% da receita líquida da companhia vem dos cofres do Tesouro. Em compensação, a empresa sustenta que seu lucro social – baseado no impacto de uma base de tecnologias e cultivares desenvolvidas pela empresa e transferidas para a sociedade – superou os R$ 18 bilhões no mesmo ano. De acordo com a conta, cada real aplicado pelo governo federal na empresa gerou R$ 9,35 para a sociedade.

“Se há uma empresa no Brasil que tem estrutura e capital humano para brigar com as grandes empresas de biotecnologia no exterior, essa empresa é a Embrapa”, afirma Romeu Kiihl, ex-pesquisador da Embrapa e considerado um dos principais responsáveis pela adaptação das sementes de soja no Cerrado.

Atualmente, na BM&FBovespa o setor de agronegócios é representado por setores bastante específicos, com destaque para as empresas de alimentos (frigoríficos) e sucroalcooleiras. Contudo, nem de longe, esses ramos são representativos da vocação brasileira para produtos agrícolas, internacionalmente reconhecida.