O expressivo aumento da produção e das vendas antecipadas começa a fomentar o mercado futuro de milho no Brasil. Segundo a BM&FBovespa, no primeiro trimestre foram negociados 170,6 mil contratos futuros e de opção da commodity, um aumento de 32,5% na comparação anual.
O milho já é o segundo produto agropecuário mais negociado na BM&FBovespa, atrás apenas do boi gordo. Quando se excluem da conta os contratos de opção, a commodity já é a mais líquida da bolsa, com 144 mil contratos negociados nos três primeiros meses do ano.
.”O mercado de milho amadureceu muito nos últimos meses”, afirma Luiz Claudio Caffagni, gerente de serviços em commodities da BM&FBovespa. Para ele, o milho começa a experimentar um fenômeno semelhante ao observado na soja no início dos anos 1990, com a popularização dos contratos a termo (venda antecipada) entre produtores e empresas de comercialização.
Nunca, antes da safra 2011/12, vendeu-se milho com tanta antecedência no Brasil, o que passa pelo aumento da demanda para exportação, a guinada dos preços e a expansão da safrinha em Mato Grosso, onde a cultura da venda antecipada é mais disseminada. Segundo o Imea, até março os produtores do Estado haviam comercializado mais de 70% da produção. É mais do que o dobro do que foi comprometido em igual período da safra passada.
Com a maior exposição das empresas às oscilações de preço, a busca por hedge aumenta. “À medida que os agentes começam a fazer contrato a termo, ao menos uma das pontas precisa minimizar seu risco. Isso explica o interesse crescente pelo mercado futuro”, explica Caffagni.
Cerca de 60% dos futuros e opções de milho estão na mão de pessoas jurídicas não-financeiras, grupo onde se incluem tradings, cooperativas, empresas de carnes e fornecedores de insumos. Instituições financeiras detêm cerca de 23% das posições e pessoas físicas (produtores), outros 14%. Apenas 3% dos futuros estão em posse de estrangeiros.
As mudanças nas especificações no contrato da BM&FBovespa também favoreceram o aumento dos negócios. Com os novos papéis, lançados em setembro de 2008, a bolsa extinguiu a entrega física da commodity no vencimento da posição. Assim, as liquidações passaram a ser apenas financeiras. “A liquidação física esbarra no nosso arcabouço tributário. Como a cobrança de ICMS, PIS e Cofins muda de acordo com o Estado e quem negocia, havia muita incerteza por parte de quem recebia o produto”, explica Caffagni.
Em março, a bolsa negociou, em média, 3,3 mil contratos diários, o equivalente a 89 mil toneladas. “Estamos falando de pouco mais de um navio por dia, uma liquidez interessante, que permite aos participantes entrar e sair a qualquer instante, o que é fundamental para que o mercado funcione bem “, pondera.
Caffagni admite, contudo, que o volume ainda é “muito pequeno para o Brasil”, onde a produção deve ultrapassar a marca de 65 milhões de toneladas. Na bolsa de Chicago, onde se formam os preços internacionais da commodity, o volume negociado em apenas um dia chega a 330 mil contratos futuros, o equivalente a 42 milhões de toneladas – quase duas safras argentinas.
O executivo pondera que a formação dos preços do milho no Brasil ainda é determinada, predominantemente, pela dinâmica do mercado interno – o Brasil exporta menos de um quinto de sua produção -, o que favorece o desenvolvimento de um mercado futuro no país. No caso da soja, mais da metade da produção é exportada, o que deixa o mercado doméstico muito mais atrelado aos preços da commodity negociada em Chicago. “Quanto mais forte é a demanda interna, maior a chance de o contrato deslanchar”, afirma.
Safrinha, ‘salvação da lavoura’ em 2011/12
A produção de milho de inverno deverá “salvar a lavoura” no país nesta safra 2011/12. Estimativas divulgadas ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que a chamada safrinha será cultivada em 7,1 milhões de hectares, área 20,1% maior que em 2010/11, e renderá 29 milhões de toneladas, salto de 35,1% na comparação. Somada à safra de verão, semeada em 8,6 milhões de hectares e prevista em 36,1 milhões de toneladas – apesar das perdas causadas pela seca no Sul -, a safrinha ajudará a colheita total de milho a “encostar” na de soja, que lidera a produção brasileira de grãos desde a temporada 2000/01, mas que ainda poderá ter seu volume revisto para baixo.
Segundo a Conab, no total a produção brasileira de milho deverá alcançar 65,1 milhões de toneladas, 13,5% mais que no ciclo passado. Já a de soja, plantada em 25 milhões de hectares, área 3,4% superior a de 2010/11, deverá atingir 65,6 milhões de toneladas, queda de 12,9%. O tombo foi provocado sobretudo pelas quebras no Rio Grande do Sul e no Paraná, também causadas pela seca provocada pelo fenômeno La Niña. Em virtude da “nova” safrinha de milho, a colheita nacional foi calculada em 159,2 milhões de toneladas. Ainda que represente uma retração de 2,2% em relação ao total de 2010/11, é a estimativa geral mais alta desde dezembro. Conforme o IBGE, a colheita renderá, no total, 158,6 milhões de toneladas em 2012, 0,9% menos que em 2011.
Estimulada pelos bons preços praticados especialmente no mercado internacional, a safrinha de milho será puxada por Mato Grosso, onde a colheita deverá chegar a 10,7 milhões de toneladas, 47,6% mais que em 2010/11, conforme a Conab. No Paraná, que costuma liderar a produção de inverno do cereal, o volume previsto é de 8 milhões de toneladas, 29,3% maior. “Alguns Estados surpreenderam com a alta, e os preços também ajudaram bastante”, afirmou o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto.
Segundo ele, a produção brasileira já é ótima se for considerado o volume consolidado, mas ainda é mal distribuída pelo território nacional, em uma realidade que costuma causar problemas sobretudo na região Nordeste, mas não apenas por lá. “Às vezes os criadores do Sul ficam sem milho. Vamos pensar nisso na hora de elaborar um plano regionalizado para que não falte alimentação aos animais. Podemos, por exemplo, incentivar a plantação de trigo para alimentação animal”, informou Porto.
Das principais culturas que fazem parte do levantamento da Conab, haverá aumentos das produções em 2011/12 de algodão em pluma (2,1%), amendoim (30%), girassol (32,9%), sorgo (17,7%), centeio (9,4%) e cevada (7,5%), além do milho. Em contrapartida, há quedas estimadas para arroz (14,3%), feijão (2,6%) – ambos com forte influência sobre os índices que medem a inflação no país -, mamona (46,1%), aveia (6,7%), canola (25,4%), trigo (1,6%) e triticale (0,6%), além da soja.
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