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Mercado Externo

Agricultura atrasada no Japão

Rentabilidade põe tradição em xeque no campo japonês aumentando a consciência de que o país precisa adotar métodos agrícolas mais avançados.

Agricultura atrasada no Japão

Seyo, cidade rural com pouco mais de 42 mil habitantes, no sudoeste da ilha de Shikoku, no Japão, orgulha-se de sua geografia diversificada e clima variado, que permitem à comunidade agrícola local plantar quase tudo, de mexericas e arroz até uvas e castanhas. A cidade, contudo, tem um problema – 65% de seus agricultores têm 65 anos ou mais.

Seyo não é a única, em um país onde há muitos anos a população vem ficando cada vez mais velha. À medida que a população agrícola também envelhece, o Japão sofre crescentes pressões para aumentar a produtividade da agricultura. A necessidade de maior produtividade torna-se ainda mais premente porque o governo prepara-se para juntar-se ao Acordo Comercial Transpacífico (TPP, em inglês), que poderia abrir os mercados agrícolas a importações de países altamente competitivos.

As vendas do setor agrícola japonês somam 4,7 trilhões de ienes (US$ 60 bilhões), valor próximo à receita da Fujitsu, o grupo de serviços de tecnologia, diz Risaburo Nezu, pesquisador-sênior no Fujitsu Research Institute.

“Há, no entanto, 3 milhões de agricultores, 20 vezes mais do que os funcionários da Fujitsu; em outras palavras, a produtividade agrícola é um vigésimo da [verificada na] Fujitsu”, diz Nezu.

Nos Estados Unidos e na Austrália, onde as fazendas de grande porte muitas vezes se estendem por centenas de hectares, observa-se uma tendência em direção à agricultura de precisão. Trata-se da utilização de tecnologias avançadas da informação para melhorar a produtividade, com melhor administração das variações dos solos e do rendimento das plantas.

Isso possibilitou aos agricultores não só aumentar a produtividade, mas fazê-lo e ainda conseguir diminuir os custos de produção e o impacto ambiental. “Poderíamos dizer que a agricultura está passando por um tipo de revolução, da dependência em relação ao trabalho manual para a ‘informatização’ do cultivo”, afirma Satoshi Hirano, gerente-geral da unidade de negócios da Topcon, uma das principais fabricantes de instrumentos de pesquisa no Japão.

Os sistemas de autonavegação e orientação avançada da Topcon, que permitem aos agricultores guiar e operar máquinas de forma automática com base em padrões predefinidos – ou sua controladora de sementes, que pode controlar ou monitorar o plantio de sementes e a pulverização de pesticidas, por exemplo -, são vendidos majoritariamente fora do Japão. O país é retardatário na adoção da tecnologia da informação no setor e a maioria dos agricultores ainda se baseia na experiência e instinto.

A predominância de pequenos lotes de terra, cultivados por agricultores independentes, e a resistência generalizada, particularmente das cooperativas, em mudar sua forma de trabalhar, estão se mostrando fortes obstáculos à modernização da agricultura no país. Há, porém, uma consciência cada vez maior de que o Japão precisa consolidar as pequenas fazendas espalhadas pelo país e adotar métodos mais avançados.

Empresas japonesas em Saijyo, também localizada na ilha de Shikoku, decidiram promover uma iniciativa para melhorar a produtividade. Neste verão japonês, a Sumitomo Chemical lançou um experimento agrícola para testar tecnologias avançadas, com o objetivo de descobrir formas de aumentar a rentabilidade dos cultivos. O “Projeto do Nascer do Sol” também conta com o apoio da Keidanren, maior federação empresarial do país – comandada pelo presidente do conselho de administração da Sumitomo Chemical -, da organização local de promoção comercial e da cooperativa local.

A fazenda, com 5 hectares, já teve suas primeiras mudas de alface plantadas em uma estufa “ecológica”. Dentro da estufa, é possível controlar melhor o ambiente do que se as mudas estivessem em campo aberto. Apesar de as mudas terem sido plantadas no calor japonês de agosto, foi possível manter temperaturas bem menores na estufa, pulverizando água sobre a estrutura, que é coberta com uma película especial para melhorar a eficiência, segundo Masahiro Tamaki, gerente de vendas e responsabilidade social empresarial na divisão de proteção de cultivos domésticos da Sumitomo Chemical.

Para reduzir ainda mais a temperatura, a fazenda empregará o sistema de refrigeração MH, que age como um ar-condicionado, mas precisa de bem menos eletricidade. O principal atributo do sistema é que ele usa só a energia desperdiçada, tanto para ter calor como frio, por instalações industriais, águas subterrâneas ou rios.

A Fazenda do Nascer do Sol também usará tecnologias de agricultura que são comuns no Ocidente, como tratores que não precisam de motoristas e câmeras ligadas à internet para permitir que os agricultores monitorem as condições das culturas a distância. O projeto não ficará restrito ao plantio. Usará a tecnologia de refrigeração para manter a produção fresca e, por meio de chips, reunirá dados de referência e poderá rastreá-la.

“Este projeto é voltado ao desenvolvimento de um sistema total, para permitir que agricultores lucrem em cada estágio da produção, distribuição e vendas de sua produção”, diz Takayuki Nagakubo, gerente de agronegócios da equipe de planejamento da Sumitomo Chemical. “Queremos desenvolver um modelo de negócios que permitirá rentabilidade aos agricultores”.